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‘Steve Jobs’ desconstrói a fama de gênio do empresário

Filme estrelado por Michael Fassbender é dividido em três atos, que mostram dramas vividos pelo criador da Apple

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 jan 2016, 15h11

A figura de Steve Jobs é daquelas que provocam sentimentos que vão de 8 a 80: de admiração absoluta ao total desprezo. No tenebroso filme Jobs, lançado em 2013, com Ashton Kutcher no papel do empresário, foi seguida a linha da exaltação. A cada palavra do protagonista, uma salva de palmas o acompanhava. Já é um alivio que no filme Steve Jobs, que chegou aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, o criador da Apple (vivido por Michael Fassbender) não seja tratado como um deus na Terra.

Escrito e esquematizado por Aaron Sorkin, vencedor do Oscar pelo roteiro de A Rede Social, e dirigido por Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?), o filme não segue o padrão de montagem comum das cinebiografias. A estrutura é dividida em três atos, como se fosse uma peça de teatro, em tom shakespeariano. Aliás, são em auditórios com plateias que as partes, de 45 minutos cada, acontecem. Cada momento foca no lançamento de um dos produtos desenvolvido por Jobs.

Enquanto as pessoas se aglomeram em busca de um lugar no teatro, nos bastidores, ele enfrenta dramas pessoais, com longos diálogos entre sua filha, amigos e colegas de trabalho. Frio e por vezes irritante, o empresário parece ter seu lado humano fora do corpo, representado pela fiel assistente Joanna Hoffman (Kate Winslet), responsável por tentar organizar a bagunça e os traumas deixados pelo chefe.

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O primeiro momento é ambientado em 1984, quando ele lança o computador pessoal Macintosh. A sequência é a melhor das três. O empresário acredita piamente em sua criação, que se mostrará um fracasso de vendas pouco depois. O temperamento perfeccionista de Jobs é demonstrado pela longa discussão com o programador Andy Hertzfeld (Michael Stuhlbarg), que não consegue garantir que o computador dirá “olá” durante a apresentação. O empresário ameaça o profissional de diversas maneiras enquanto toda a equipe tenta tirar de sua cabeça a necessidade da fala computadorizada. Porém, ele quer dar ao computador um lado humano. Fazê-lo algo a ser querido e cobiçado. Freud explica.

Enquanto se desenrola o drama com Hertzfeld, Jobs conversa com o CEO da Apple John Sculley (Jeff Daniels), uma espécie de figura paterna, que logo mais o trairá e ficará conhecido como o homem que demitiu Steve Jobs da empresa criada pelo próprio. A interação com Sculley é mais tranquila do que com o amigo Steve Wozniak (Seth Rogen), confundador da Apple e melhor amigo de Jobs. Os dois, aliás, trocarão farpas ao longo das três sequências, já que Jobs se recusa a honrar o trabalho do amigo e de sua equipe, responsável pelo computador Apple II, durante a apresentação. Em um dos atos, Wozniak questiona a “genialidade” de Jobs, que era mais um administrador do que criador de tecnologias. O empresário então responde com uma analogia entre os músicos de uma orquestra e seu regente: “Eu toco a orquestra”, diz Jobs.

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O estresse profissional é interrompido pelo drama pessoal de Jobs e sua ex-namorada Chrisann (Katherine Waterston), que exige que ele assuma a paternidade de sua filha, Lisa, e forneça uma vida confortável às duas. Jobs só mostra interesse pela menina quando percebe nela um tom de inteligência – ao que tudo indica, a característica é uma das poucas coisas que o movia em seu relacionamento com as pessoas.

Todos os personagens se reencontram de novo em 1988, quando ele lança de forma independente o computador Next, e em 1998, de volta à Apple, durante a divulgação do iMac. O ritmo das conversas se mantém intenso, intercaladas por rápidos flashbacks, que ajudam a ilustrar o motivo dos embates.

No último ato, as brigas são mais acaloradas, dignas de gritaria. Em contrapartida, a empatia por Jobs cresce, especialmente quando ele mostra que sim, no fundo, possui uma alma e que não é apenas uma máquina, como as muitas que ele ajudou a orquestrar.

O filme é um dos esnobados da categoria principal do Oscar 2016. Talvez o final redentor seja o problema. Porém, Fassbender e Kate conquistaram indicações como melhor ator e atriz coadjuvante. Ambas as nomeações são merecidas. Fassbender se encaixa bem no papel e convence. Kate também se esforçou para encarnar uma mulher desajeitada e pronunciar um sotaque sem exageros – a Joanna da vida real viveu na Polônia e na Armênia antes de se mudar para os Estados Unidos. Se as previsões estiverem certas, Kate sairá da cerimônia deste ano com mais uma estátua para chamar de sua.

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