Vencedor do Nobel, Mo Yan é criticado por dissidentes
Escritor chinês foi alvo de críticas por parte dos intelectuais que se opõem ao regime do país por ser considerado próximo demais do governo comunista
“Há poucos meses, Mo Yan organizou um ato com cem escritores no qual cada um deles transcreveu um texto de Mao como mostra de fidelidade ao regime. Isso lhes dá uma ideia do personagem, é um canalha” Liao Yiwu, considerado o poeta do massacre de Tianamen
O escritor chinês Mo Yan, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura 2012, vem recebendo duras críticas dos dissidentes chineses. Desde a entrega do prêmio, na manhã da última quinta-feira, vários deles já se manifestaram. Eles criticam a proximidade do autor das autoridades do país comunista.
O artista Ai Weiwei, que passou 81 dias na prisão após ser detido, no ano passado, e está proibido de deixar o país, disse que o Nobel a Mo Yan é “um insulto à humanidade e à literatura”. “Essa seleção é vergonhosa para o comitê, porque não está à altura da qualidade da literatura já contemplada pelo prêmio”, afirmou ao jornal português Público. Ai Weiwei disse ainda que Mo Yan “se dissociou das lutas políticas da China de hoje”.
Outro escritor chinês, Liao Yiwu, considerado o poeta do massacre de Tianamen, chamou Mo Yan de “canalha” e de intelectual do regime. “Há poucos meses, Mo Yan organizou um ato com cem escritores no qual cada um deles transcreveu um texto de Mao como mostra de fidelidade ao regime. Isso lhes dá uma ideia do personagem, é um canalha”, disse Liao na Feira do Livro de Frankfurt.
Nesta sexta-feira, Mo Yan respondeu às críticas afirmando que seu trabalho o expôs a “grandes riscos”. “Acredito que muitos de meus críticos não leram meus livros. Se tivessem lido, perceberiam que foram escritos sob muita pressão e que me expuseram a grandes riscos”, disse Mo Yan. “Penso que alguns comentários de Mao Tse-Tung sobre a arte são razoáveis, como por exemplo seus pontos de vista sobre as relações entre a arte e a vida”, completou.
O escritor afirmou ainda que torce pela libertação do dissidente e Prêmio Nobel da Paz de 2010, Liu Xiaobo, que cumpre desde 2009 uma condenação de 11 anos de prisão por “subversão”, depois de ter sido um dos redatores de um texto que pedia reformas democráticas na China. “Espero que ele possa obter a liberdade o mais rápido possível”, declarou o escritor.
Também nesta sexta-feira, o chefe de propaganda do Partido Comunista da China, Li Changchun, felicitou Mo Yan pelo Nobel de Literatura. “O Prêmio Nobel concedido a Mo Yan encarna a riqueza da literatura chinesa, assim como o aumento constante da força e da influência internacional da China em geral”, declarou.
(Com agência EFE)