Machado de Assis é identificado em foto de missa por abolição
Presença do escritor em imagem de missa celebrativa, verificada em pesquisa da coleção Brasiliana Fotográfica, vai contra a tese de que o autor de 'Dom Casmurro' se omitiu na questão da escravidão, apesar de mulato e bisneto de escravos alforriados
O escritor Machado de Assis foi identificado em fotografia da Missa Campal que celebrou a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 17 de maio de 1888, em São Cristovão, no Rio de Janeiro. A foto, feita por Antonio Luiz Ferreira, vai contra a tese de que o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas, apesar de mulato e bisneto de escravos alforriados, virou as costas para a questão abolicionista, uma das mais importantes de sua época. A identificação da imagem, que pertence à Coleção Dom João de Orleans e Bragança, foi feita a partir de um estudo da Brasiliana Fotográfica, coleção gerida em conjunto pelo Instituto Moreira Salles e a Biblioteca Nacional.
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Entre os especialistas ouvidos na pesquisa, estão Eduardo Assis Duarte, doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela USP e professor na Faculdade de Letras da UFMG. À Brasiliana Fotográfica, Duarte declarou que a posição de Machado na foto — ele estica a cabeça para aparecer timidamente na imagem — condiz com sua maneira de andar, de jeito “encolhido e de caramujo”.
Assis Duarte, que é organizador do livro Machado de Assis Afrodescendente (2007) e coordenador do Literafro – Portal da Literatura Afro-brasileira, defende que Machado não foi um abolicionista tardio, mas desde sempre. “Machado foi abolicionista em toda a sua vida e, a seu modo, criticou a escravidão desde seus primeiros escritos. Nunca defendeu o regime servil nem os escravocratas. Além disso, era amigo próximo de José do Patrocínio, o grande líder da campanha abolicionista e, junto com ele, foi à missa campal do dia 17, de lá saindo para com ele almoçar”, disse ele à Brasiliana.
Além de Duarte, também foi consultado Ubiratan Machado, autor de Dicionário de Machado de Assis, que destacou o valor da descoberta da presença de Machado de Assis na Missa Campal, um “fato até hoje desconhecido pelos biógrafos”.
A Brasiliana Fotográfica agora convida o público a ajudar na identificação das outras pessoas na imagem. Machado de Assis é o número 5, enquanto a Princesa Isabel é número 1, o seu marido, conde d’Eu, o número 2, e José do Patrocínio, possivelmente, o número 7. As fotos foram presentes do fotógrafo Antonio Luiz Ferreira, que documentou uma série de eventos relacionados à campanha abolicionista, à Princesa Isabel. A Missa Campal realizada quatro dias após a assinatura da Lei Áurea reuniu cerca de 30.000 pessoas.
(Da redação)