Cannes preferiu produções que subvertem o cinema de gênero
Dheepan, grande vencedor da Palma de Ouro, começa como drama naturalista e depois abraça com força o modelo do thriller
Num ano em que nenhum filme conquistou unanimidade como favorito, o Festival de Cannes parece ter optado por premiar produções de grande identidade que flertam com o cinema de gênero, mas também o subvertem. Dheepan, de Jacques Audiard, o vencedor da Palma de Ouro na 68ª edição do festival, é ousado dentro do cenário francês. Traz um refugiado de guerra do Sri Lanka como protagonista, sem cair na armadilha fácil de vitimizá-lo. O filme começa como um drama naturalista e depois abraça com força o cinema de gênero, especificamente o thriller.
Saul Fia, do húngaro László Nemes, entrou na lista de favoritos desde sua exibição para a imprensa, no segundo dia de festival. O cineasta estreante conseguiu mostrar de maneira inovadora e impactante um tema muito explorado, o Holocausto, usando elementos de ação. Já Hou Hsiao-hsien deslumbrou com The Assassin, um filme de artes marciais original – as poucas cenas de luta são feitas à distância.
O júri presidido por Joel e Ethan Coen conseguiu derrubar, no entanto, uma certeza na competição deste ano: a de que não havia razão para cinco longas-metragens franceses na disputa. Dheepan era o único com força suficiente para representar o país-sede – e ainda assim a conquista da Palma de Ouro parece um pouco exagerada. Não bastasse isso, o júri decidiu premiar outros dois franceses.
Mon Roi, de Maïwenn, saiu com um prêmio de interpretação feminina para Emmanuelle Bercot (dividido com Rooney Mara, de Carol, dirigido por Todd Haynes), e La Loi de Marché, de Stéphane Brizé, levou o troféu de ator para Vincent Lindon. O prêmio dividido por Bercot e Mara foi a grande surpresa. A francesa é nada mais do que medíocre. No caso de Rooney Mara, até se esperava que dividisse o prêmio, mas com sua companheira de elenco Cate Blanchett.