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‘Cinco Câmeras Quebradas’ mostra o fim da infância dos envolvidos nos conflitos entre Palestina e Israel

Filmado por Emad Bornat, morador de Bil’In, uma vila na Cisjordânia, o documentário mostra os protestos dos palestinos contra a construção de assentamentos israelenses em sua terra

Por Raissa Pascoal
29 mar 2012, 19h59

Além de ser agricultor em Bil’In, uma vila palestina na Cisjordânia, Emad Bornat virou o cinegrafista da comunidade ao comprar uma câmera para registrar o nascimento de seu quarto filho, Gibreel, e acompanhar os conflitos entre palestinos e israelenses durante a construção de um assentamento de judeus na região. Depois de cinco anos de gravações e cinco câmeras quebradas durante os confrontos, as filmagens deram origem ao documentário Cinco Câmeras Quebradas (Les Cinqs Câmeras Brisées, França, 2011), um dos filmes imperdíveis do festival É Tudo Verdade de 2012.

Com imagens desfocadas de pessoas correndo, Emad dá início ao longa explicando por que começou a filmar. “As feridas do passado não têm tempo para se curar. As novas as cobrem. Então, eu filmo para guardá-las em minha memória.” Além de cinegrafista, o palestino virou também personagem do filme, uma vez que registra o que acontece à sua comunidade, à sua família e a ele mesmo.

Ao mesmo tempo em que sua primeira câmera, adquirida em 2005, filmava o nascimento do filho, ela capturava imagens do início da ocupação israelense no local, como a construção de um muro entre a vila e o assentamento judeu. A criação do menino e suas reações diante dos protestos intensos, os conflitos com os soldados israelenses e as prisões e acidentes de Emad e seus amigos dão o tom do documentário, que vai do otimista ao desesperançoso.

Como demonstração de desesperança, estão as imagens em que moradores de Bil’In vão em direção ao muro gritando contra a sua construção e pedindo a saída dos israelenses, e são recebidos pelos soldados judeus com bombas de gás lacrimogêneo, tiros e prisões. Durante as filmagens, amigos do agricultor foram atingidos, presos ou mortos e suas câmeras foram quebradas por tiros ou bombas.

Perda da infância – Toda a comunidade se envolve com os protestos pela terra, inclusive as crianças. Mais do que falar sobre o conflito político, a narrativa do filme aborda a perda da infância dos moradores da região. Emad acredita que os filhos devem virar homens duros e corajosos, como ele. Por isso, leva-os para os protestos, para vê-los com os próprios olhos desde novos.

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Apesar de ter tido infância diferente, seus filhos já nasceram em anos de eventos marcantes como o Acordo de Paz de Oslo, em 1995, a Segunda Intifada, em 2000, e o início dos protestos contra o assentamento, em 2005. No documentário, o momento em que o fim da inocência das crianças é posto em palavras é quando Gibreel, com apenas cinco anos, pergunta ao pai por que ele não mata com uma faca os soldados israelenses, depois de eles terem matado um amigo seu. “Eles atirariam em mim”, responde Emad.

Mesmo com as câmeras durando menos de um ano, Emad não interrompeu as filmagens, que continuam até hoje. O único pedido para que ele parasse de gravar foi feito por sua mulher, Soraya. Temerosa do futuro dos filhos, dela mesma e do marido, que havia sofrido um grave acidente de carro e sido preso por semanas em Israel, ela pediu para que ele não fosse mais aos protestos.

Soraya é responsável pelo aparecimento do Brasil no longa. Ela é palestina, mas foi criada aqui. A porta da casa da família tem a pintura da bandeira do Brasil e os filhos usam algumas roupas que fazem referência ao país — além de lembrar a face mais triste da infância brasileira, aquela que cresce sem amparo nas ruas e favelas.

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