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Sem ‘tsunami monetário’, bancos europeus poderiam entrar em colapso

Em visita ao país, o inglês Peter Mandelson, ex-Comissário da UE, diz que elevada liquidez na Europa é alternativa menos nociva para economia mundial

Por Ana Clara Costa
6 mar 2012, 20h11

“Não é aceitável que tenhamos a Alemanha e os países do norte estimulando a competitividade, produzindo e exportando, enquanto outros membros vão uma direção diferente”, afirma Mandelson

Convidado pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) e pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) para discursar sobre a crise europeia, o inglês Peter Mandelson, ex-Comissário de Comércio da União Europeia (UE), rebateu nesta terça-feira as críticas do governo brasileiro ao “tsunami monetário” provocado pelo Banco Central Europeu (BCE) nas últimas semanas.

Em palestra na FAAP, acompanhado dos diplomatas Rubens Ricúpero e Sérgio Amaral, lord Mandelson afirmou que a injeção de liquidez feita pelo BCE nas instituições do continente era a única forma de manter a segurança do sistema bancário europeu. Ele disse compreender que essa medida afeta os fluxos financeiros e exacerba as pressões sobre real. Contudo, apontou que, se nada fosse feito, o resultado poderia ser muito pior. “Sem essa liquidez adicional, teríamos de tomar enormes riscos em nosso sistema bancário, criando um possível colapso econômico. E isso teria um efeito muito mais desastroso na economia brasileira do que o ‘tsunami monetário”, afirmou Mandelson, que já ocupou três secretarias no Reino Unido – equivalentes aos ministérios brasileiros – nas gestões dos premiês Tony Blair e Gordon Brown.

O membro do Parlamento inglês também discursou sobre a crise europeia e criticou a falta de integração política na zona do euro. Na avaliação dele, o BCE precisa ter um papel mais proeminente no bloco para que consiga amortecer futuros choques econômicos. “Mas não teremos essas mudanças se as instituições não mudarem e se as regras não forem reforçadas”, afirmou o lorde em entrevista após o evento. Confira abaixo alguns trechos da conversa.

Em encontro com a chanceler Angela Merkel, a presidente Dilma Rousseff criticou o “tsunami monetário”. Qual é a sua avaliação sobre os efeitos da política monetária do BCE?

Entendo a preocupação do Brasil de que a liquidez adicional criada pelo BCE esteja afetando os fluxos financeiros que chegam ao país e a outras economias emergentes. Também compreendo que isso exacerbe a pressão sobre a valorização do real, com todas as suas consequências negativas. Mas eu diria que, sem essa liquidez adicional, teríamos enormes riscos de quebra em nosso sistema bancário. O efeito de um colapso econômico europeu seria muito mais desastroso na economia brasileira do que o ‘tsunami monetário’.

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Quais são as lições que a crise atual deixam para a Europa?

Há várias lições. Precisamos nos alinhar no que diz respeito à disciplina fiscal. A zona do euro deve agir como um todo, e não de forma fragmentada. Necessitamos de regras reforçadas sobre endividamento públicoe de compromissos dos governos com níveis de dívida. Também é preciso que o BCE tenha um papel mais proeminente para que amorteça futuros choques econômicos. Não podemos esperar que um país como a Alemanha arque com custos e compromissos ilimitados sem que haja algum tipo de disciplina e controle sendo exercido na zona do euro. O mesmo vale para a questão da competitividade. Não é aceitável que tenhamos a Alemanha e os países do norte estimulando a competitividade, produzindo e exportando, enquanto outros membros vão na direção oposta.

Algum país deveria deixar a zona do euro?

Há um consenso de que todos os países devem continuar. Reformar a estrutura não implica mudar os membros. Mas alguém precisa ceder. Se os membros atuais desejam continuar, como prevê o consenso, então é preciso que a zona do euro opere de uma forma que lhe permita segurar as pressões futuras e os custos das dívidas externas.

Há previsão de saída da Grécia e Portugal?

Não acho que as pessoas na zona do euro estão planejando ou antecipando a saída de algum membro. Nós queremos criar condições para que integrantes como Grécia e Portugal continuem – e o mesmo deve ser dito a outros países que enfrentam dificuldades. Mas, ao mesmo tempo em que a zona do euro tem de expressar seu apoio de forma prática e tangível, os países precisam aceitar a mudança de disciplina que implica sua continuidade no bloco.

Na palestra, o senhor disse que solidariedade política tem limite. Quais seriam esses limites?

A solidariedade tem sido um princípio importante que precisamos trabalhar para manter o apoio aos países. No entanto, não podemos esticar nossos meios financeiros de prover essa solidariedade a um ponto de colapso. Os resgates e transferências fiscais que estão sendo feitos precisam trazer convergência econômica. Eles não são ilimitados.

Leia mais:

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