Mercado torce para que Dilma cumpra promessa de campanha e preserve BC autônomo
Sem independência, a confiança na instituição poderá ficar abalada e a manutenção da estabilidade dos preços ficará mais custosa
Depois da definição do ministério da Fazenda, que continuará ocupado por Guido Mantega, as atenções do mercado recaem agora sobre a presidência do Banco Central (BC). Os investidores confiam em Henrique Meirelles e na independência da instituição. Uma possível saída de Meirelles, acompanhada por interferências da presidente eleita, Dilma Rousseff, podem provocar ruídos no mercado. É fato que, se a autonomia ficar envolta em dúvidas, a confiança na instituição pode ficar abalada e a manutenção da estabilidade dos preços deverá ficar mais custosa – leia-se: juros em alta.
Os próximos meses serão fundamentais para entender como Dilma Rousseff tratará o BC, sua independência e, conseqüentemente, como ficará a qualidade da política monetária. Os sinais são animadores. A presidente eleita, durante toda a campanha, foi defensora da autonomia da instituição; fazendo coro com o presidente Lula de que tudo deve ser feito para preservar a estabilidade – fonte de grande parte dos dividendos políticos de ambos.
Desta maneira, os investidores acompanhavam atentos a procura nos bastidores de alguém para ocupar a presidência do BC que fosse mais ‘afinado’ com as “novas” diretrizes econômicas, fundamentadas na cartilha do “desenvolvimentismo” (em que os gastos do estado devem ser indutores do crescimento, em flagrante oposição ao esforço do BC em conter a demanda para segurar a alta dos preços). Com a continuidade do ministro Mantega, a impressão é que estaria mesmo descartada a permanência de Meirelles no cargo. Afinal, ambos protagonizaram em diversos momentos trocas públicas de acusações sobre a condução da economia.
Sobre a autonomia da instituição, a torcida no mercado é que Dilma bote em prática o seu discurso de campanha e não aceite flexibilizar esta conquista. Logo, causou supresa no mercado o fato de Meirelles ter dito a interlocutores que poderia não aceitar o convite de seguir na presidência da autoridade monetária por conta do risco de uma mudança.
Consequências – Os economistas ouvidos pelo site de VEJA alertam que seria perigoso para a economia do país se o governo assumir uma postura dúbia com relação à política monetária. “A julgar pela informação de que Meirelles foi convidado, mas estabeleceu a autonomia como condição; se ele não ficar, estará implícito que não lhe asseguraram autonomia e isso é um sinal muito ruim”, avalia o economista José Julio Senna, sócio-diretor da MCM Consultores.
De acordo com o economista Bernardo Wjuniski, da Tendências Consultoria, os agentes econômicos precisam reconhecer na autoridade monetária a capacidade de estabelecer uma política eficaz. “A questão é que existe uma possibilidade de o BC ficar mais ligado ao lado desenvolvimentista do governo – um lado que não defende sua autonomia. Isso geraria ruídos grandes do mercado porque sinaliza interferência na política monetária e um menor compromisso com as metas de inflação”, pontua.
Se ficar confirmado a negativa de Meirelles em parmanecer no BC, todas as atenções do mercado vão se voltar para quem irá assumir o cargo em seu lugar. “Se entrar um nome que sinalize para o mercado um compromisso com a continuidade, a credibilidade do BC não será alterada”, conclui Wjuniski.