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Montadoras coreanas e chinesas impõem novo padrão competitivo no Brasil

Beneficiadas pelo câmbio, montadoras asiáticas avançam no país com preços atrativos. As da Coreia do Sul destacam-se pela qualidade e as da China, pelo custo-benefício

Por Beatriz Ferrari
23 abr 2011, 15h05

Cada qual com foco diferente, as coreanas movimentam o mercado de veículos acima de 60 mil reais, ao passo que as chinesas apostam na faixa dos 30 mil a 60 mil reais

O mercado automotivo nacional passou por grandes mudanças desde que o ex-presidente Fernando Collor deu início, em fevereiro de 1991, ao processo de abertura da economia. De lá para cá, novas montadoras instalaram-se no país interessadas em um segmento que não parou de crescer. Nos últimos cinco anos, este processo se intensificou graças à pujança do PIB doméstico, ao crédito farto e aos indicadores favoráveis de emprego e renda. Para completar, em termos reais, a moeda americana desvalorizou em 32% em relação ao real, ampliando a competitividade das importações de autopeças, automóveis, comerciais leves (furgões e pick-ups), etc. Em resumo, as vendas de veículos nacionais e importados deram um salto de 50% no período. Hoje, as cerca de 40 marcas presentes no país brigam num mercado mais maduro e concorrido, onde ganhar participação de mercado tornou-se tarefa difícil – não para as montadoras da Coreia do Sul e da China que estão impondo um novo padrão competitivo no país. Cada qual com foco diferente, as coreanas movimentam o mercado de veículos acima de 60 mil reais, ao passo que as chinesas apostam na faixa dos 30 mil a 60 mil reais.

Coreanas destacam-se em vendas – A coreana Kia, por exemplo, que produz seus carros na Coreia do Sul e os exporta ao país, teve seu melhor ano no país em 2010. A montadora beneficiou-se do fato de que a moeda coreana valorizou-se menos que a brasileira no período – respectivamente, 2% e 11% sobre o dólar. Em outras palavras, o real ganhou musculatura ante o won. Enquanto nenhuma das quatro líderes (Fiat, Volkswagen, General Motors e Ford) acompanhou o crescimento das vendas internas no ano passado – de 11,6%, um recorde histórico -, a Kia foi muito além. Conseguiu expandir suas vendas em 121,1% e hoje já está à frente da Mitsubishi e da Nissan, com uma participação de 2,25% do mercado nacional. “Com o câmbio atual é bastante atrativo importar; especialmente carros para o segmento AB, como é o caso da Kia”, explica Stephan Keese, diretor da Roland Berger Strategy Consultants para o mercado automotivo.

A também coreana Hyundai – que, apesar de independente, integra um só grupo automotivo com a Kia – também teve um ano excelente. Impulsionada pelo desempenho do hatch i30, seu modelo com maior saída, ela cresceu 36,4% em 2010, ultrapassou a japonesa Toyota e já é a sétima maior em vendas no Brasil, com 3,23% do mercado atualmente. A empresa conseguiu reverter, por completo, a má reputação dos anos 90, quando seus carros davam muito problema e havia dificuldades para encontrar peças de reposição. “Os coreanos atingiram um patamar de qualidade ótimo, comparável ao dos japoneses, só que com um design mais moderno e um preço mais competitivo”, explica David Wong, diretor da Kaiser Associates, especialista no mercado automotivo. Como prova de seu interesse pelo país, a Hyundai investe 600 milhões de dólares na construção uma unidade própria em Piracicaba (SP), com capacidade para produzir 150 mil veículos anualmente.

Invasão chinesa – Se 2010 foi o ano das coreanas, este é o das montadoras da China. As três maiores presentes no país, a Chery, a JAC e a Hafei, têm participação ainda pouco relevante nas vendas, de somente 1,49%. Mas o estardalhaço midiático com que a JAC estreou no país no mês passado mostra que as chinesas não vieram para se contentar com pouco. “O que eu quero é ganhar mercado das grandes montadoras”, diz Sérgio Habib, o empresário à frente da marca no país, que tem a meta ousada de conquistar 6% do mercado em três anos.

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Com um investimento total de 380 milhões de reais para seu lançamento, dos quais 140 milhões direcionados a publicidade, a JAC, em poucas semanas, ultrapassou, com seu modelo J3, concorrentes de peso como Palio, Gol e Fiesta em número de emplacamentos em São Paulo. Os bons resultados surpreenderam a própria empresa, que já alterou sua previsão de vendas em 2011 de 35 000 para 45 000 unidades. “Mas ainda é cedo para falar em fábrica no Brasil”, argumenta Habib.

No sentido contrário, a Cherry – a pioneira entre as chinesas, com presença no Brasil desde 2009 -anunciou a construção de uma planta no país. Com um investimento de 400 milhões de dólares, a fábrica, que será instalada em Jacareí (SP), deve começar a operar em 2013 e terá capacidade para montar 50 000 veículos ao ano. A empresa, no entanto, olha para o futuro e já planeja investir para ampliar a produção para 150 000 veículos/ano.

O sucesso das chinesas pode ser explicado pela relação custo-benefício, proporcionada pelo baixo custo de produção do país asiático e um câmbio favorável – haja vista que Pequim insiste em manter sua moeda, o yuan, em patamar bastante desvalorizado. O J3, por exemplo, pelo preço de 37 900 reais, vem equipado com ar-condicionado, direção hidráulica, vidros elétricos nas quatro portas, travas e retrovisores também elétricos, rodas de liga leve (de aro 15) e airbags dianteiros de série. O concorrente de sua categoria que consegue chegar mais perto desse preço oferecendo os mesmos acessórios é o Fiesta, da Ford, por 3 140 reais a mais. O Ford Focus chega a custar 10 430 reais a mais. “Esse público é muito sensível a preço”, explica Wong.

Apesar da participação ainda pequena no mercado, existe o temor de que, no médio prazo, a China vire uma importante plataforma de produção e exportação não só de suas próprias montadoras, mas também das estrangeiras que já estão lá. À competitividade chinesa contrapõem-se os altos custos de produção no Brasil, fruto dos impostos elevadíssimos, e da falta de infraestrutura e mão de obra qualificada. Algumas montadoras com fábricas no país já estão reclamando. “Em alguns segmentos, como o de veículos médios e de luxo, começamos a ver dificuldade de aprovar projetos”, avisa Rogelio Golfarb, diretor de relações governamentais da Ford para a América do Sul.

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