Os ministros Joaquim Levy, da Fazenda, e Nelson Barbosa, do Planejamento, bem que tentaram esconder um certo clima de revanchismo no anúncio dos cortes adicionais. Mas foi em vão. Diferentemente da apresentação de quinze dias atrás, em que Levy guardava cara amarrada e desferiu frases lacônicas para comentar o orçamento, nesta segunda-feira seu semblante transmitia uma certa satisfação — que não se via, por sinal, em Barbosa.
No início da coletiva, o ministro do Planejamento chegou a oferecer o microfone para que o da Fazenda conduzisse o anúncio, mas Levy negou. Claramente, o titular do Planejamento não pretendia ser protagonista do que estava por vir. Não à toa, Barbosa foi duramente questionado sobre a razão de ter, previamente, defendido déficit – e, agora, ver-se obrigado a anunciar cortes adicionais. Esquivou-se de dar explicação para a mudança de discurso. O ministro do Planejamento também evitou fazer a defesa de mais impostos e bateu na tecla de que o governo tem “instrumentos” para equilibrar a parte fiscal com cortes de gastos.
A mensagem foi clara para bom entendedor. Já o anúncio da CPMF foi uma vitória pessoal de Levy. A ideia foi parida no Palácio do Planalto e rapidamente encampada pelo ministro. Porém, enquanto fazia sua defesa em evento para empresários em Campos do Jordão (SP) no dia 29 de agosto, o governo decidia enterrá-la, por sugestão de Barbosa, que defendia a tese do “déficit transparente”. Levy só foi avisado da decisão pelos jornais do dia seguinte. Passou recibo de desinformado. A CPMF voltou à baila, disse Levy, porque é a tributação que menos perigos representa para a inflação. Ao anunciá-la nesta segunda, o ministro mostra que retomou as rédeas da política fiscal. Trata-se, possivelmente, de caso único de ministro da Fazenda fortalecido após uma perda de grau de investimento. (Ana Clara Costa, de Brasília)
Leia mais:
Após rebaixamento, governo anuncia corte de gastos de R$ 26 bi
Os trocados da reforma ministerial
Bovespa sobe 2% e dólar cai a R$ 3,81 após medidas de ajuste