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Crédito escasso afeta o agronegócio

Queda no primeiro quadrimestre do ano foi de 18,86% em comparação a igual período de 2014

Por Da Redação
16 Maio 2015, 11h50

O agronegócio, que ajudou a sustentar a economia nos últimos dois anos, com taxas robustas de crescimento, está sob risco de perdas diante da escassez de crédito, juros mais altos e da disparada do dólar em relação ao real. Diante da dificuldade de acesso a novos financiamentos, produtores rurais já atrasam a compra de insumos para a próxima safra. Levantamento feito pelo Broadcast da Agência Estado, com dados do Banco Central mostra que a queda de contratações para custeio no primeiro quadrimestre do ano foi de 18,86% em comparação a igual período de 2014. O desempenho do crédito foi influenciado, entre outros fatores, pela menor captação da poupança rural e por uma retração dos depósitos à vista – principais fontes para o financiamento do agronegócio.

De janeiro a abril do ano passado, o sistema financeiro havia feito 19,92 bilhões de reais em contratos de crédito rural voltados para o custeio. Este ano, no mesmo período, essa cifra foi de 16,16 bilhões de reais. Os dados do BC mostram que o financiamento que usa fundos da poupança rural, por exemplo, encolheu 26,97%, passando de 10,38 bilhões de reais para 7,58 bilhões de reais, valores referentes apenas a contratos de custeio.

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Nos financiamentos que têm como fundo os depósitos à vista, o tombo foi de 23,4%, passando de 8,27 bilhões de reais para 6,34 bilhões de reais no período. De acordo com o Banco Central, esses valores estão contratados e são classificados como crédito aberto à disposição do tomador, o que não significa que eles foram totalmente concedidos. Ou seja, a liberação efetiva para o produtor na agência bancária pode ser ainda menor do que os dados revelam.

“O crédito não está aparecendo na ponta, para o tomador. Já existe atraso na aquisição de insumos. Essa compra já deveria estar acontecendo, mas não foi por falta de crédito”, disse o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Ricardo Tomczyk.

Menos contratos – No Banco do Brasil, instituição que detém fatia em torno de 70% do mercado de crédito rural, os contratos chegaram ao menor nível para abril desde 2013, somando 2 bilhões de reais para custeio. Em abril do ano passado, o custeio para agricultura e pecuária havia somado 3,79 bilhões de reais. Em abril, o BB detinha 66,65% dos contratos de custeio. André Nassar, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, afirma que a maior dificuldade do setor gira em torno dos recursos para o fim da safra, dinheiro classificado como pré-custeio e que é usado pelos agricultores para comprar insumos antes do início da safra agrícola.

“Não foi possível tornar viável o pré-custeio. Este ano não existe esse dinheiro. Os juros subiram e os depósitos (funding) caíram, o que gerou um estrangulamento”, explicou o secretário. Segundo ele, no lugar do pré-custeio, o Banco do Brasil conseguiu ofertar linhas de curto prazo, o que deixou os produtores insatisfeitos. “Os produtores estão perdendo oportunidade para comprar insumos”, disse. Nassar explicou ainda que sempre que a taxa básica da economia, a Selic, sobe, há uma redução dos recursos disponíveis para os financiamentos (ou funding, no jargão do setor). “E isso sempre gera desaceleração na agricultura”, observou. “Este ano estamos trabalhando no limite do funding.”

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De acordo com o secretário, há discussões para tentar ampliar a oferta de recursos, mas sem nada definido ainda. Questionado se a mudança nas regras de exigibilidade da poupança rural – com aumento do porcentual que deve ser aplicado na agricultura – trará algum alívio, Nassar afirmou que será positivo por aumentar o volume de recursos.

Tomczyk, da Aprosoja-MT, prevê dificuldades para o financiamento da próxima safra. Calcula que, para fazer o mesmo trabalho da safra anterior, será preciso mais recursos por conta do aumento do dólar em relação ao real, já que os insumos são cotados na moeda norte-americana. O custo desse crédito também promete ser um desafio a mais para o fluxo de caixa dos produtores. Os juros médios do Plano Safra podem subir de algo ao redor de 6,5% para 9% ao ano. “Estamos enfrentando aumento de custo de produção e, se a taxa de juros vier muito maior, vai impactar diretamente nos custos e achatar ainda mais as margens”, argumentou Tomczyk. “Esse cenário pode significar lucro menor e, em alguns casos, até prejuízo”, lamentou.

Custo elevado – Sérgio Bortolozzo, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), disse que, na prática, ainda não existe linha de pré-custeio e as taxas de juros apresentadas aos produtores foram contestadas pela entidade. O custo do crédito foi considerado demasiadamente elevado. “Isso tem nos incomodado. Os custos de produção têm subido e esse câmbio, que é favorável para a venda do nosso produto, se continuar subindo, vai se tornar impeditivo para a compra do insumo. Por isso precisamos comprá-los o quanto antes”, relatou.

O Banco do Brasil divulgou seu balanço financeiro esta semana e o único segmento cujas projeções de desempenho para 2015 não foram alcançadas foi o de agronegócio. De acordo com a instituição, os financiamentos para o setor devem crescer de 10% a 14% neste ano. No primeiro trimestre, porém, o avanço ficou em 9%, abaixo da expectativa. O BB explicou, em relatório, que houve menor volume contratado na linha de crédito agroindustrial na comparação em 12 meses.

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(Com Estadão Conteúdo)

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