Estudo mostra que cacatuas aprendem a usar ferramentas umas com as outras
Cientistas consideram esta a primeira evidência controlada de transmissão social do uso de uma ferramenta em aves
Uma nova pesquisa mostrou que cacatuas conseguem aprender umas com as outras a utilizar ferramentas de madeira. A descoberta, realizada por pesquisadores da Áustria, Inglaterra e Alemanha, foi publicada nesta quarta-feira, no periódico Proceedings of the Royal Society B. A pesquisa foi feita com cacatuas de goffin, que não utilizam ferramentas na natureza. A ideia surgiu quando, no laboratório, os cientistas observaram que um macho adulto criado em cativeiro, chamado Fígaro, começou espontaneamente a esculpir palitos de madeira e usá-los para obter alimentos que estavam fora de seu alcance. Para descobrir se essa ideia poderia ser passada para outras cacatuas, a equipe usou Fígaro como modelo.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Social transmission of tool use and tool manufacture in Goffin cockatoos (Cacatua goffini)
Onde foi divulgada: periódico Proceedings of the Royal Society B
Quem fez: A. M. I. Auersperg, A. M. I. von Bayern, S. Weber, A. Szabadvari, T. Bugnyar e A. Kacelnik
Instituição: Universidade de Viena, na Áustria, Universidade de Oxford, na Inglaterra, e outras
Resultado: Os pesquisadores registraram pela primeira vez a transmissão de conhecimento sobre uso de ferrametas entre aves
O experimento foi dividido de forma que um dos grupos de cacatuas observou Fígado utilizando o palito, e o outro grupo viu o que os pesquisadores chamam de “demonstrações fantasma” – controladas por ímãs ocultos sob a mesa, as ferramentas moviam os alimentos sozinhas ou as comidas se mexia em direção a Fígaro.
Em uma segunda etapa, os cientistas deixaram as ferramentas perto das aves. Os três machos e três fêmeas que viram Fígaro demonstrar o uso do objeto interagiram mais com a ferramenta do que os que viram as “demonstrações fantasma”. As aves que observaram Fígaro pegaram o palito mais vezes do que as demais e pareceram mais empenhadas em completar a tarefa. Os três machos desse grupo manusearam a ferramenta com habilidade, enquanto as fêmeas do mesmo grupo e todos os animais do segundo grupo, não.
“Esta é a primeira evidência controlada de transmissão social do uso de uma ferramenta em aves”, afirma Stefan Weber, estudante da Universidade de Viena, que participou do estudo.
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Inovação – As aves que foram bem sucedidas não imitaram seu “professor”, mas criaram novas técnicas de uso da ferramenta. Enquanto Fígaro segurava o palito pela ponta e o inseria pelas aberturas da gaiola em diferentes alturas, empurrando o alimento em sua direção e ajustando a posição à medida que o alvo ia ficando mais próximo dele, os “alunos” colocaram o palito no chão e trouxeram a comida para si dessa forma. Nesse caso, os discípulos superaram o mestre: a técnica dos novatos foi mais eficiente na obtenção de alimento do que a de Fígaro.
Dois dos observadores bem-sucedidos foram submetidos a outro teste: em vez de receber a ferramenta pronta, eles receberam material para fazê-la. Uma das aves começou espontaneamente a confeccionar o palito a partir de um bloco de madeira, e a outra falhou inicialmente, mas após assistir a uma demonstração feita por Fígaro, conseguiu completar a tarefa. Segundo os pesquisadores, embora ainda não seja possível tirar uma conclusão precisa sobre este fato, ele indica que aprender a usar uma ferramenta pode por si só estimular a descoberta de como criar esse objetos.