Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Em coletiva, Coppola fala de cinema 3D e de como é fazer filme independente

Diretor está no Brasil para lançamento de Tetro, seu filme mais recente

Por Rodrigo Levino
1 dez 2010, 21h23

Nesta quarta-feira (01), quando Francis Ford Coppola deu início a entrevista coletiva por ocasião do lançamento de Tetro no Brasil, nada da sua imagem rotunda, vestindo um bem cortado terno de risca de giz sobre camisa rosa-berrante, remetia ao vivaz e ousado cineasta que ajudou a mudar a história do cinema hollywoodiano, em meados dos anos 1970.

E isso diz menos respeito a idade avançada (71 anos) que ao modo franco, até bonachão, como se dirigiu aos jornalistas e a disposição (necessidade?) de vender o próprio “peixe”, numa época em que, como no início da carreira, quando provou a duras penas as lufadas de gênio que podiam lhe ocorrer no controle de um set de filmagem, não há quem patrocine suas produções.

“Nós somos os novos Michelangelos”, proclamou Coppola à época, se referindo a ele e aos seus pares. A saber, Martin Scorsese, Steven Spielberg, Robert Altman e Brian De Palma. Voltando ao cinema de autor com Tetro, produzido independentemente dos grandes estúdios, escrito, produzido e dirigido como não fazia desde 1974, com A Conversação, Coppola pareceu mais um semi-deus. Comportou-se como um mortal. Desdenhou do corte no tempo que a entourage tentou impor aos jornalistas – “esqueçam eles, podem fazer mais perguntas” – e extrapolou o tempo previsto, compensando os quase 30 minutos de atraso inicial.

Independente – Foi por extravagâncias como reproduzir um aeroporto em estúdio, durante as filmagens de One From The Heart, em 1982, que a família Coppola perdeu alguns imóveis e bens, todos hipotecados por financiadores que garantiam o custo das idéias do diretor.

De falta de ousadia, portanto, jamais ele será acusado. Agora, depois de tantas falências, Coppola se diz “livre como um jovem” quando leva adiante projetos autorais, todos pagos pela renda de vinícolas e restaurantes de sua propriedade.

Continua após a publicidade

A liberdade compensa até certo ponto. Sem uma major para bancar seus filmes, Coppola é limitado pela necessidade de manter o baixo orçamento. Falando em dinheiro, disse que nunca é o que procura. “Faço cinema para me conhecer; não por dinheiro ou fama. Filmo para aprender mais sobre mim, sobre cinema.”

Há no discurso do diretor um traço de esforço para reafirmar a própria liberdade. Coppola não censura o cinema comercial, mas prega a necessidade de arte na feitura dos filmes e reforça que o fato de financiar e distribuir seus próprios filmes o deixou “imune”. “Posso fazer um filme e as pessoas podem não gostar, mas ainda assim vou conseguir filmar outro”. O risco que há é de entre o louvável fôlego e o fracasso de um título, a sua reputação não saia ilesa. Tetro é um exemplo disso.

Escolhas e futuro – Sobre a escolha da Argentina como locação de Tetro, o cineasta disse que isso se deve a atração pela força e a tradição literária e dramática do continente. “Eu me interesso pela poesia, pelo drama, pela ficção de Julio Cortazar, Jorge Luis Borges, por isso escolhi a Argentina. Mas não apenas por eles. Amo a obra do chileno Roberto Bolaño e do brasileiro Jorge Amado. Da América Latina saíram as mais importantes obras literárias do século 20. É isso que me atrai”, esmiuçou.

Quando indagado a respeito da tecnologia 3D e a relação com o futuro do cinema, o cineasta contou que Twist Now And Sunrise, filme que acabou de produzir, tem duas cenas filmadas em 3D, no entanto, mostrou-se cauteloso quanto a sentença de que o formato salvará a indústria do cinema. “Ainda é uma coisa muito desagradável ver um filme com aqueles óculos especiais. Além do que, o cinema continua sendo duas coisas: roteiro e atuação”.

Continua após a publicidade

A escolha de Sofia – Cineasta consagrada, vencedora do mais recente Festival de Veneza com o filme Somewhere, Sofia Coppola, a filha, foi inevitável tema da conversa. “Criei meus filhos como numa família de circo, mudando, indo aos sets de filmagem. Ensinei a eles que não precisavam se concentrar numa só coisa, que podiam fazer o que quisessem. Sofia dizia que queria ser fotógrafa de moda, é bonita, leva jeito para a coisa. Até que um dia ela veio me dizer que queria fazer o seu primeiro filme. E fez”.

Para a história – Depois de enxotar os assessores, Coppola falou de Vincent Gallo, protagonista de Tetro e a fama que alimenta de turrão e baderneiro. “Não tive problema nenhum com Vincent. E nunca tive com ninguém no set, porque deixo sempre claro que se convidei é porque admiro e podemos ser amigos.”

E encerrou tratanto de cinema, dizendo que a arte está viva e cravando que “em 20 ou 30 anos tudo será diferente”. Não se sabe ainda se para melhor e, se for o caso, quem poderá entrar para a história, como aconteceu com ele, em tempos loucos de Hollywood. Mas fica a sua obra como referência e consulta, com a ressalva de que genialidade não se aprende.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.