‘Despedida de Solteiro’ e o ‘senso de oportunismo’ de Latino
O cantor já foi acusado diversas vezes de falta de criatividade, mas não quer largar o osso da fórmula de sucesso fácil que encontrou: fazer versões de hits
Na noite da última terça-feira, o cantor Latino começou a dizer no Twitter que o clipe de Despedida de Solteiro teria vazado. O cantor reclamou e perguntou como as pessoas teriam acesso a um vídeo que nem ele mesmo tinha, mas o fato é que depois acabou gostando de chamar a atenção. A música é a sua “homenagem” a Gangnam Style, do sul-coreano Psy. Com mais de 530 milhões de visualizações no YouTube, a canção de Psy era exatamente o que Latino queria: um sucesso pronto, que ele adaptou com o seu jeitinho. A letra se transformou em um hino da “pegação”.
Talvez Latino, que modestamente se denomina “o maior showman do Brasil”, estivesse esquecido em algum canto do mundo da música não fossem as versões de hits famosos que o vêm ajudando a se manter em evidência – ainda que seja acusado de falta de criatividade a cada música que lança. Apesar do oportunismo patente, Latino garante que faz tudo dentro da lei, pedindo autorização aos autores das canções originais. E, justiça seja feita, o cantor demonstra que sabe criar. Dificilmente as letras das versões de Latino têm alguma conexão com o que dizem as músicas que lhe serviram de “inspiração”.
A tradição do cantor de fazer versões é antiga. Não dá para esquecer – nem com muito esforço – o refrão repetitivo de Festa no Apê, de 2005. Foi graças à versão de uma música romena que Latino voltou aos ouvidos dos brasileiros, que nessa época lutavam contra o hit Baba, de Kelly Key, sua ex-mulher. Um showman não só com senso de oportunidade, mas de oportunismo.
Veja na lista abaixo outras versões de Latino:
Despedida de Solteiro/ Gangnam Style
A mais recente versão feita por Latino é Despedida de Solteiro, uma adaptação livre — põe livre nisso — do viral Gangnam Style, do rapper sul-coreano Psy. O vídeo original já foi visto mais de 530 milhões de vezes no YouTube e fez com que várias personalidades ao redor do mundo dançassem a coreografia do cavalinho criada por Psy, que criou a música para criticar os novos ricos do bairro Gangnam, em Seul. Já Latino fez da sua versão uma ode à pegação. Entre latidos de pitbull, a letra sugere: “laçar, puxar, beijar, vou te pegar… pra galopar”.
Dança Kuduro/ Danza Kuduro
Danza Kuduro, hit do porto-riquenho Don Omar com participação do luso-francês Lucenzo, deu origem a pelo menos duas versões no Brasil. Uma delas é Dança com Tudo, de Robson Moura e Lino Krizz, que ficou famosa depois de tocar por oito meses na novela Avenida Brasil e emplacar seu Oioioi no imaginária coletivo. A outra versão é a de Latino, Dança Kuduro, lançada em 2011 com participação DJ brasileiro Daddy Kall. Aqui, Latino se deu mal: lançou a sua versão primeiro, mas não conseguiu entrar para o disco da novela da Globo.
Caça-Fantasma/ Ghostbusters
Latino apelou para a memória afetiva das pessoas para vender discos em 2008, quando resgatou uma canção lançada 24 anos antes: a música-tema do filme Os Caça-Fantasmas, de 1984. Com a participação do cantor Buchecha, a faixa Caça-Fantasma propõe um “exorcismo” do ex-namorado daquela menina que se quer pegar. Nessa pérola do cancioneiro popular, ele diz: “Caça-fantasma, já tá na hora, encosto do passado tem que evaporar”.
Amigo Fura Olho/ Ella y Yo
Também em 2008, Latino fez uma versão de Ella y Yo, do grupo americano Aventura. Dessa vez, em vez de exterminar os ex-namorados, o cantor está preocupado com um triângulo amoroso e mostra todo o seu lado sensível, sofredor. “Tô vivendo uma aventura castigada pelo amor, um labirinto sem saída, onde o medo se converte em tanta dor, vivo um triângulo”, choraminga.
Sem Noção/ Chacaron
Em 2007, o oportunismo de Latino acendeu com o hit Chacarron Macarron, do americano Rodney Clark, conhecido como El Chombo (pela cor negra da pele) no Panamá, país em que foi criado. Tanto Latino quanto El Chombo cantam músicas “sem noção”: os refrãos são compostos por palavras e resmungos ininteligíveis. Depois do sucesso, em 2005, o americano até ficou conhecido como “El Mudo”, ou seja, “O Mudo”, porque não dava para entender nada do que ele cantava. É a versão de Latino que mais se aproxima da original — porque ele, como El Chombo, não deve ter nada a dizer.
Festa no Apê/ Dragostea din Tei
Festa no Apê, música que perseguiu a todos com o refrão chiclete “Hoje é festa lá no meu apê/ pode aparecer, vai rolar bundalelê” é uma versão de Dragostea din Tei, da banda romena O-Zone. O hit foi o grande responsável por ressuscitar a carreira de Latino, em 2005, quando ele estava na pior depois de ser deixado pela cantora Kelly Key justamente quando ela estourava com a música Baba, empresariada por ele.