PSDB quer que lobista da Agricultura se explique
Partido convidou Júlio Fróes para prestar depoimento em comissão. VEJA revelou que lobista atuava no ministério com a anuência da cúpula da pasta
O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), apresentou um requerimento nesta segunda-feira para que o lobista Júlio Fróes, o ex-secretário executivo do Ministério da Agricultura Milton Ortolan e o ex-diretor financeiro da Conab Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), prestem esclarecimentos à Comissão de Agricultura do Senado sobre o esquema de corrupção no Ministério de Agricultura, revelado por VEJA.
Ortolan pediu demissão no sábado depois que reportagem mostrou que ele foi o responsável por liberar a ação de um lobista na pasta. A reportagem mostrou que “Doutor Júlio”, como Júlio Fróes é conhecido pelos servidores, goza de privilégios no Ministério da Agricultura. Tem acesso liberado à entrada privativa do ministério e usa uma sala com computador, telefone e secretária na sobreloja do prédio, onde está instalada a Comissão de Licitação – repartição que elabora as concorrências que, só neste ano, deverão liberar 1,5 bilhão de reais da pasta.
O que diz a edição de VEJA – No ano passado, acompanhado por Ortolan, Fróes se instalou pela primeira vez em uma sala do ministério para redigir um documento que justificava a contratação dos serviços da Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Foram dois dias de trabalho, ao cabo dos quais o ministro Rossi autorizou a contratação da entidade, sem licitação, com pagamentos de 9 milhões de reais. O representante da fundação beneficiada? O próprio Júlio Froes.
Meses mais tarde, o lobista convocou uma reunião com funcionários que o haviam auxiliado na elaboração do documento. O encontro aconteceu na sala da Assessoria Parlamentar, no oitavo andar do ministério. Cada um que chegava recebia uma pasta. As pastas continham dinheiro – uma “agendinha”, no dizer do lobista.
Fróes também se apresenta como representante do Ministério da Agricultura. Funcionários disseram a VEJA que, em certa ocasião, ele lhes contou como pediu uma “gratificação” de 10% aos donos de uma gráfica – a Gráfica Brasil – em troca da renovação de um contrato com o ministério. Mais ainda: ele assegurou ter agido assim por instrução de Milton Ortolan. “Realmente essa proposta nos foi feita por alguém que se apresentava em nome do ministro”, disse à revista um dos responsáveis pela área comercial da empresa.
Em entrevista gravada, Júlio Fróes afirmou conhecer o ministro Wagner Rossi e o secretário executivo Milton Ortolan. Enfilerou, em seguida, um rosário de negações. Negou frequentar o prédio do ministério – onde foi flagrado pela reportagem na última quarta-feira, como atesta uma série de fotos. Negou ser representante da Fundasp, enquanto até o ministério diz que ele representou a entidade. E, subitamente, indagou: “Eu tenho gravações que comprometem o Ortolan. Quanto você me paga?”
O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, negou qualquer relação com Fróes. Ele falará à imprensa nesta tarde para dar novas explicações sobre o caso.
Jucazinho – A oposição também quer que o ex-diretor financeiro da Conab Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá, explique as declarações que fez a VEJA. Jucazinho contou que existe um consórcio entre o PMDB e o PTB para controlar a estrutura do Ministério da Agricultura com o objetivo de arrecadar dinheiro. Suas informações incluem dois casos concretos de negócios nebulosos envolvendo a Conab.
Em um deles, a estatal estaria protelando o repasse de 14,9 milhões de reais à gigante do mercado agrícola Caramuru Alimentos. O pagamento foi determinado pela Justiça e se refere a dívidas contratuais reclamadas há quase vinte anos. O motivo da demora: representantes da Conab negociam um “acerto” para aumentar o montante a ser pago para 20 milhões de reais. Desse total, 5 milhões seriam repassados por fora a autoridades do ministério.
Oscar Jucá Neto foi demitido do cargo de diretor financeiro da Conab porque ordenou um pagamento ilegal à Renascença. O processo não havia nem mesmo sido julgado em última instância. Além disso, Jucá usou recursos de outra rubrica, destinado ao apoio a agricultores.
A Conab não apresentou recurso da decisão, o que é obrigatório para órgãos do poder público. Depois da demissão, Jucá Neto falou a VEJA e revelou a existência de outras ilegalidades dentro da pasta.
“Só tem bandido” – Jucazinho decidiu contar o que sabe porque atribuiu sua saída a uma armação de peemedebistas contra seu irmão – e também porque se sentiu humilhado com a exoneração. O caso azedou as relações entre o senador Jucá e o vice-presidente, Michel Temer, padrinho do ministro Wagner Rossi. Os dois trocaram ameaças e xingamentos por telefone.
Jucá Neto não poupa seus antigos companheiros de ministério na entrevista. Diz que o ministro Wagner Rossi lhe ofereceu dinheiro quando sua situação ficou insustentável. “Era para eu ficar quieto”, afirma. “Ali só tem bandido.”