Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Polícia do Rio entra, agora, na fase de caça aos fugitivos

Chefe de Polícia Civil alerta, no entanto, que a prioridade hoje não pode ser apenas correr atrás de traficantes, mas atacar a estrutura do crime

Por João Marcello Erthal e Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
2 dez 2010, 19h00

“É óbvio que alguns bandidos fugiram, mas não é esse o ponto. Durante muito tempo, trabalhamos com a lógica de prender os ‘cabeças’ do tráfico. Minha pergunta é: essas prisões reduziram o poder dos traficantes?”

A operação no Complexo do Alemão é considerada um sucesso – inclusive de público, como mostrou uma pesquisa do Ibope sobre a aprovação da população. Mas na esteira da ocupação, começa um complicado trabalho de buscas para encontrar os mais de 500 traficantes que as câmeras de TV mostraram na quinta-feira, quando criminosos fortemente armados abandonaram a Vila Cruzeiro para se abrigar na favela vizinha. A Polícia Civil, encarregada das investigações, já tem pelo menos dois indícios fortes sobre a fuga da quadrilha.

O primeiro deles é um conjunto de denúncias sobre a debandada de cerca de 50 criminosos pelas redes de esgoto e pluvial, algumas delas construídas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Cartas e denúncias anônimas levaram a polícia a descobrir que as galerias podem ter funcionado como uma rede de túneis de cerca de 600 metros, desembocando fora do complexo de favelas. A segunda, a suspeita de que sejam do Alemão os seis criminosos que mantiveram uma família refém na Vista Chinesa, na zona sul. O grupo teria fugido pela mata da Floresta da Tijuca.

As capturas – como a de um dos ‘seguranças’ do traficante Fabiano Atanásio da Silva, o FB, nesta quinta-feira – estão na pauta. Mas não têm hoje, segundo o chefe de Polícia Civil do Rio, Allan Turnowski, o mesmo peso para o combate ao tráfico. “Nossa lógica hoje é a de atacar a estrutura do crime: armas, drogas, bens de familiares, lavagem de dinheiro. Vamos prender. Mas a prioridade não pode mais ser apenas correr atrás de traficante”, diferencia Turnowski.

“É óbvio que alguns bandidos fugiram, mas não é esse o ponto. Durante muito tempo, trabalhamos com a lógica de prender os ‘cabeças’ do tráfico. Minha pergunta é: essas prisões reduziram o poder dos traficantes?”, indaga Turnowski. “O traficante Pezão, do Alemão, recebe ordens do Marcinho VP, que é o chefe. VP está preso, mas ainda dá ordens. Não é difícil enxergar que prender chefes não adiantava, pois vinha em seguida o segundo escalão e operava”, explica. “Atacamos o território, as armas e a droga. Trinta e cinco toneladas é muita coisa, muito dinheiro deles que estava empenhado em um estoque. Os que por ventura tenham escapado ainda são bandidos, mas não têm mais o mesmo poder”, diz o chefe de polícia.

Continua após a publicidade

Tubulações – A suspeita mais grave é de que, por pressão dos bandidos, funcionários do PAC teriam construído redes pluviais e de esgoto fora do projeto original, para favorecer uma situação de cerco como a do último fim de semana. Os bandidos que escaparam seriam a ‘cúpula’ do Comando Vermelho, que receberam a cobertura de uma espécie de segundo escalão, encarregado de trocar tiros com as tropas na noite de sábado para ocultar a movimentação nos subterrâneos do Alemão.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, prefere se dedicar ao mérito da ocupação e à retomada do território – verdadeiro propósito da polícia de pacificação. “Marginal sem território, sem armas, sem quadrilha e sem dinheiro é muito menos marginal”, disse, na noite de domingo, ainda no calor da invasão do conjunto de favelas.

A captura dos bandidos fora da situação de flagrante – com armas, drogas ou cometendo um crime – é mais complexa, como explicou o secretário. “A legislação é assim. Só posso prender uma pessoa em flagrante delito, com processo judicial ou se é procurada. Obviamente, pessoas vão passar pelos policiais e podem ser conhecidas na região como participantes de crime. Mas isso não basta para uma prisão dentro da lei”, explicou.

Há ainda um complicador: por suas dimensões e população, o Alemão é uma verdadeira cidade, com construções irregulares, subterrâneos ocultos, paredes falsas e todo tipo de dificuldade para as investigações. A operação ‘pente-fino’ que recupera armas, recolhe drogas e dinheiro do tráfico tem conseguido chegar até os esconderijos mais óbvios. Mas há, certamente, inúmeros outros a descobrir.

Continua após a publicidade

Detran – A operação “pente fino” realizada no Alemão desde a ocupação do complexo ganhou, na quarta-feira, um apoio importante para identificar foragidos, pessoas com passagem pela polícia por tráfico e produtos de roubos e furtos. O Departamento de Trânsito (Detran) do Rio disponibilizou um equipamento que identifica, em poucos minutos, se a pessoa tem algum problema com a Justiça ou com a polícia para o comando das operações policiais no Complexo do Alemão.

Um veículo do Detran, conectado com o bando de dados da instituição, ajuda os policiais a descobrir, imediatamente, a situação de uma pessoa que passa por averiguações. A consulta pode ser por nome ou impressão digital. O Detran também cedeu veículos equipados com câmeras que leem placas de veículos e reconhece carros roubados ou placas frias. O mesmo sistema tem capacidade de verificar a situação da Carteira Nacional de Habilitação vinculada a cada carro, sem que haja necessidade de parar o motorista.

No blog VEJA Acompanha, outras notícias sobre o combate ao crime organizado no Rio.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.