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Petrópolis se desmancha: com obras paradas, município tem 27 mortos e mais 366 famílias desabrigadas

Desde a noite de domingo, já são 498 as ocorrências registradas pela Defesa Civil. Há dois anos, 876 famílias vivem do aluguel social na cidade

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 mar 2013, 18h02

O total de mortos desde a noite de domingo, em Petrópolis, chegou a 27 na tarde desta terça-feira. Ainda há cerca de 10 desaparecidos que, de acordo com equipes da Defesa Civil, podem ser de pessoas que ficaram sob os escombros em uma das 21 áreas desmoronadas. Em meio a medidas emergenciais, busca de corpos e anúncios de liberação de verba, a população de Petrópolis assiste, mais uma vez, ao triste espetáculo da cidade que se desmancha: mais encostas rolaram, mais casas estão sendo interditadas e até o momento não houve entrega – ou construção – de uma casa sequer, entre os 112 apartamentos prometidos pelos governos federal e estadual. Desde a chuva de janeiro de 2011, 876 famílias recebem aluguel social – mas dentro de pouco tempo não haverá sequer o que alugar, dado o ritmo do trabalho de reconstrução.

A nova leva de desabrigados tem, oficialmente, 1.463 pessoas, ou 366 novas famílias. Foi esse o contingente recebido nos 27 pontos de apoio disponibilizados pela prefeitura. Somadas às que já estavam dependentes do alguel social, o número de grupos familiares sem ter moradia definitiva chega a 1.242. Esperar uma solução do estado não é prudente, como mostra o exemplo de um grupo de 50 integrantes de uma comunidade quilombola de nome Tapera – reconhecida pela Fundação Palmares em maio de 2011 – que teve as casas destruídas pela chuva em 2011. Desde a tragédia de dois anos atrás, eles estão em um antigo estábulo, recebendo aluguel social e gastando para alugar o espaço.

Com as chuvas, o grupo ganhou visibilidade e conseguiu que serviços como luz elétrica, água potável e saneamento chegassem ao local. Neste momento, as casas estão em fase de construção. O Ministério Público Federal acompanha esse caso de perto: “A dificuldade do Vale do Cuiabá é a disponibilidade de terreno”, afirma o procurador Charles Stevan, que estuda instaurar um inquérito para tratar de medidas de prevenção. “Para não ficar só em cima de desastre e da resposta, seria interessante saber quais são os investimentos, onde estão sendo feitos, se todas as áreas estão mapeadas. Quero ver o q posso exigir”, afirma.

A prefeitura de Petrópolis divulgou nota informando que o prefeito Rubens Bomtempo percorreu os locais mais atingidos e “vistoriou ações de limpeza das ruas”. “Agora, a Prefeitura trabalha para iniciar o laudo técnico de engenharia das construções interditadas pela Defesa Civil”, diz a nota. Emergencialmente, foram contratadas 100 pessoas pelo município, e o objetivo é que mais 400 homens se juntem a esse trabalho. Há outros 180 envolvidos na vistoria dos locais atingidos, e cerca de 250 militares do Corpo de Bombeiros e da Secretaria Estadual de Defesa Civil.

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Desde a noite de domingo, já são 498 as ocorrências registradas pela Defesa Civil. O local mais atingido pelas chuvas, o bairro Quitandinha, recebeu em 36 horas um volume de chuva equivalente a 499 milímetros, quase o dobro do esperado para todo o mês de março, que era de 270 milímetros. Os números e estimativas não cabem mais na realidade da Região Serrana do Rio. Desde a madrugada de 12 de janeiro de 2011, Nova Friburgo já teve ruas alagadas diversas vezes; Teresópolis teve novas mortes, em 1ª de maio de 2012; e, agora, Petrópolis revive a tragédia. A sensação nas cidades sobre a qual se abateu a maior catástrofe da história do Brasil é de que uma nova catástrofe é questão de tempo, e o que se faz – o pouco que se faz – não é o bastante para conter a chuva.

Heroismo – As tragédias da chuva, como acostumaram-se a ver os moradores da Região Serrana do Rio, têm momentos de heroísmo e dramas particulares dramáticos. Para uma moradora da Vila São Joaquim, a chuva do último fim de semana não será apenas a da perda da casa, de amigos, do medo de morrer. Ilceli Alves Freitas, 65 anos, perdeu o filho. Mas sua dor não está só no luto. Ilceli viu o camelô Paulo Roberto Alves Freitas, de 42 anos, tentar ajudar vizinhos na hora em que tudo desabava ao redor da casa da família.

Ilceli mora há 20 anos no mesmo local. “Eram dez da noite de domingo quando meu filho me chamou em casa. Eu moro na parte baixa, ele me chamou para dormir na casa dele, um pouco mais alta. Chovia muito e ele disse que estava com medo de barreira”, contou a aposentada. “Subi para a casa dele. Quando deitei, ouvi aquele barulho. Até comentei com a Francisca: `Será que é guerra?’ Já era a barreira caindo sobre as casas. Paulo pegou a enxada e disse que tinha de ajudar os vizinhos. Ele saiu e não voltou. De lá, partiu”, conta Ilceli.

As casas de Ilceli e Paulo não foram atingidas, mas os imóveis foram interditados pela Defesa Civil e têm, em volta várias construções abaladas pelo deslizamento. Além da dor da perda, a família agora precisa encontrar um novo lugar para morar. “Até agora, só consegui retirar umas roupas e meus documentos. Tive de deixar meus móveis e até uma geladeira novinha. Acabei de pagar a última prestação. Passei as duas últimas noites numa escola e hoje vou dormir na igreja. Mas o pastor disse que não vamos poder ficar lá por muito tempo”, disse a aposentada, que terá de abandonar Mel, a cachorrinha de estimação de seu filho.

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