Líder do PMDB na Câmara faz lobby por sócio
Henrique Eduardo Alves tenta influenciar decisão do TCU para que amigo obtenha contrato de concessão da BR-101, negócio de R$ 7 bilhões
Líder do PMDB na Câmara e pré-candidato à presidência da Casa, o deputado Henrique Eduardo Alves, faz lobby no Tribunal de Contas da União (TCU) para que um de seus sócios obtenha o contrato de concessão da BR-101, entre o Espírito Santo e a Bahia. O negócio envolve cerca de 7 bilhões de reais. Ele negou ter feito lobby para favorecer o consórcio derrotado, apesar das visitas e da distribuição de memoriais aos ministros do TCU.
“Fiz um favor pessoal a um empresário meu amigo”, disse à reportagem o deputado peemedebista. “É uma questão pontual, residual, de uma gentileza com a diretora de uma empresa que é do meu estado, é de um sócio meu, inclusive. Ele me pediu essa gentileza de acompanhá-la e eu fiz. Não fui escondido. Fui com audiência marcada”, afirmou o deputado, sem explicar, no entanto, qual foi exatamente o seu papel nas reuniões.
O parlamentar do Rio Grande do Norte tem acompanhado representantes do Consórcio Rodovia Capixaba em reuniões para apresentar argumentos em favor do grupo de empresas aos ministros da Corte, que decidem nesta quarta-feira sobre processo que pode beneficiá-las na disputa pelo contrato.
A concessão da BR-101 é a primeira do governo Dilma Rousseff e está parada no TCU e na Justiça por questionamentos da Rodovia Capixaba, segunda colocada no leilão do trecho, cujo primeiro colocado foi o consórcio Rodovia da Vitória. Após sucessivos adiamentos, o tribunal marcou para esta terça julgamento de recurso do Ministério Público junto ao TCU para impedir a contratação do grupo vencedor por supostas falhas na proposta.
Sócios – Na última semana, Alves percorreu gabinetes do TCU, na companhia de um advogado e de uma diretora da empresa Caraíva Participações, conversando com ministros e distribuindo documentos com a defesa da Rodovia Capixaba. A Caraíva é sócia do deputado na TV Cabugi, do Rio Grande do Norte, e tem participação na Tervap Pitanga Mineração e Pavimentação, uma das seis empresas integrantes do consórcio derrotado.
Permeada de influências políticas, a concessão da BR-101 abriu uma crise nos bastidores do TCU. O procurador do Ministério Público junto ao tribunal, Lucas Rocha Furtado, defendeu em plenário, no início do mês, a proposta da Rodovia Capixaba, que está lacrada em um cofre da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), e disse que o ministro José Múcio, então relator do caso, votava sob pressão.
A concessão da BR-101, cujo leilão foi realizado em janeiro, definiu o consórcio Rodovia da Vitória como vencedor com preço de pedágio mais baixo. A proposta do grupo não continha 35 itens exigidos pela Agência Nacional de Infraestrutura de Transportes, o que foi complementado em diligências posteriores. A omissão levou o Ministério Público Federal a pedir liminares suspendendo o processo, concedidas pela Justiça.
O TCU, que também havia decidido pela suspensão, revogou a medida após esclarecimentos da área técnica, o que levou ao recurso que será apreciado nesta quarta. O trecho da concessão tem 475 quilômetros e será explorado pelo grupo vencedor por 25 anos.Os diretores da Caraíva Participações não retornaram às ligações feitas pela reportagem.
(Com Agência Estado)