Justiça liberta coronel acusado de corrupção no Rio
Djalma Beltrami, que comandava o batalhão de São Gonçalo, é acusado de receber dinheiro do tráfico. Testemunha-chave do caso foi morta pela polícia
O coronel Djalma Beltrami, comandante do 7º BPM (São Gonçalo), foi solto na madrugada desta quarta-feira, a partir da concessão de um habeas corpus pelo desembargador Paulo Rangel, do Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça. Beltrami foi preso durante a operação Dezembro Negro, na última segunda-feira. Ele e 12 PMs do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM são acusados de receber propina de traficantes do Morro da Coruja, em São Gonçalo.
Em sua decisão, o magistrado enxerga falhas na condução das investigações que levaram à prisão do comandante. “Estão brincando de investigar. Só que esta brincadeira recai, no direito penal, nas costas de um homem que, até então, é sério, tem histórico na polícia de bons trabalhos prestados e vive honestamente”, defendeu o juiz.
Paulo Rangel questionou ainda a consistência de uma das principais provas contra o comandante, a escuta telefônica na qual ele seria chamado de “zero um” pelo chefe do tráfico no Morro da Coruja. “Quem é “zero um”? O juiz é responsável também aqui foi irresponsável ao prender o Comandante de um Batalhão, até então, inocente. Talvez seja o estigma que recai sobre o 7º BPM. Não é isso que se espera do Judiciário e não posso aplaudir esta decisão contra o paciente”, escreveu o desembargador.
Para os investigadores da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo e para o Ministério Público, está clara uma relação entre os pagamentos da propina e a suspensão das atividades da polícia no Morro da Coruja. As investigações apontam que, depois que Djalma Beltrami assumiu o comando do 7º BPM, as operações contra o tráfico foram suspensas na favela e o baile funk foi liberado. Estes seriam indícios de que haveria um acordo entre o comandante e o tráfico local.
Beltrami assumiu em agosto o Batalhão de São Gonçalo, o mesmo de onde saíram os policiais acusados de matar a juíza Patrícia Lourival Acioli. Escutas telefônicas feitas em setembro já revelavam uma negociação entre traficantes e policiais militares da unidade, que inclusive falavam em nome do comandante.
Uma testemunha que poderia ajudar a polícia a desvendar os detalhes do esquema foi assassinada na sexta-feira, quando os detalhes da operação Dezembro Negro começaram a circular também entre policiais militares. Rafael Rosa Guimarães (conhecido como Chacal), foi morto por policiais do 7º BPM num suposto auto de resistência. Apesar da família ter reconhecido o corpo, ele foi enterrado como indigente.
Como mostrou o site de VEJA, o laudo cadavérico do IML aponta como causa da morte um tiro no tórax do rapaz. o ferimento, no entanto, ficou de fora do registro de ocorrência.