Juíza Patrícia Acioli esteve a um passo de provar envolvimento de ex-comandante em crimes
Magistrada negociou delação premiada com dois dos policiais do GAT acusados de executar um jovem em São Gonçalo
A juíza Patrícia Lourival Acioli estava a um passo de conseguir provar o envolvimento do tenente-coronel Cláudio Luiz Silva Oliveira, que comandava o 7º BPM (São Gonçalo), nos casos de extorsão e execução cometidos pelos policiais daquela unidade. E este, possivelmente, foi o fator que levou Oliveira e seus comandados a colocar em prática o plano de eliminar a magistrada. O assassinato do jovem Diego Beliene, cometido por policiais em 3 de junho deste ano, foi o crime que permitiu a Patrícia chegar mais perto do envolvimento do comandante.
Apesar de serem inimigos da Justiça, os policiais da quadrilha comandada por Oliveira não são, necessariamente, amigos entre si. Dois dos presos sob acusação de matar Beliene chegaram a iniciar as negociações para inclusão no sistema de delação premiada, que permite a redução de pena dos condenados e acelera o trabalho da Justiça, a partir da confissão e do fornecimento de provas testemunhais e, eventualmente, materiais para elucidar o crime.
A prisão de três dos acusados da morte do jovem foi decretada por Patrícia Acioli em 16 de junho. Os três policiais integravam o Grupo de Ações Táticas (GAT), uma espécie de unidade de elite do batalhão, encarregada de missões arriscadas, geralmente com confronto em favelas. Dois deles foram presos: Sammy Quintanilha e Carlos Adílio Maciel. As investigações da 72ª DP (Mutuá) mostraram que Quintanilha e Maciel mentiram, assumindo o crime praticado por outro policial. Os dois usavam fuzis calibre 7.62 no dia da operação na favela, e Diego teria morrido vítima de um tiro de fuzil calibre 5.56.
A partir da descoberta de incongruências no depoimento, e da certeza de que alguém mais alto na hierarquia poderia estar envolvido no crime, a juíza passou a tentar oferecer aos PMs a delação premiada.
Benitez e os cabos Sergio Costa Junior e Jefferson Araújo Miranda – os primeiros presos sob acusação de matar Patrícia Acioli – executaram o crime, segundo a Polícia Civil, porque souberam, por uma advogada, que a juíza decretaria suas prisões, por participação na morte de Beliene. Na noite do crime, horas antes de ser morta, a magistrada assinou as decretações das prisões de seus três algozes, flagrados por imagens de câmeras de vigilância acompanhando Patrícia na noite do crime. Ao todo, já são 11 os PMS presos sob acusação de matar a juíza.
(Com reportagem de Leslie Leitão)
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