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Jovem preso a poste por ‘justiceiros’ perambula há dois anos pelas ruas do Rio

Proibido de voltar para casa por ter furtado uma furadeira, adolescente de 15 anos conta ter sido perseguido por cerca de 30 ‘playboys’ na madrugada de sábado, acusado de roubar bicicletas e cometer assaltos. Pai foi assassinado na guerra do tráfico. Avó foi localizada, mas recusa-se a ficar com o neto

Por Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
5 fev 2014, 20h24

A história de vida do jovem encontrado amarrado a um poste no Rio de Janeiro, com o pescoço preso a uma tranca de bicicleta, é uma coleção de tragédias da infância. O adolescente cuja imagem ganhou as redes sociais no último domingo prestou depoimento à delegada Monique Vidal, na 9ª DP (Catete) na noite desta quarta-feira, e revelou os detalhes da madrugada de horrores vivida na calçada da Avenida Rui Barbosa, um endereço nobre do Rio. O rapaz afirmou que tem condições de reconhecer alguns dos agressores, e disse, desta vez, que cerca de 30 jovens o perseguiram – ele não sabe precisar quantos efetivamente o agrediram. A delegada também ficou sabendo a verdadeira idade da vítima: 15 anos, não 17, como acreditava a Polícia Civil até então.

Ele tem mãe e dois irmãos, de 12 e 9 anos, mas atualmente pouco sabe da família. O pai morreu há tempos, assassinado por ter envolvimento com o tráfico de drogas. Morador de uma favela do bairro de Campo Grande, na Zona oeste, até dois anos atrás, o menor passou a perambular pelas ruas depois que ficou marcado em sua região, por furtar uma furadeira elétrica de um vizinho. Sem poder voltar para casa, ele perambula pelas ruas da Zona Sul, tendo passado cinco vezes por abrigos da prefeitura desde novembro. O rapaz negou ser usuário de drogas e admitiu ter participado “uma vez” de um furto, de uma motocicleta – sem dar detalhes do caso. Assistentes sociais da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social conseguiram localizar a avó paterna do garoto, em um morro da cidade. Ela, no entanto, recusou-se a receber ou abrigar o neto.

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O adolescente detalhou, em depoimento, seus passos na noite de sexta-feira. Contou que seguia para Copacabana com três amigos, também moradores de rua, para tomar “banho de mar”. Depois de passar pelo local onde funciona uma academia ao ar livre, no Aterro do Flamengo, o grupo foi perseguido pelos cerca de 30 jovens que estavam no local, alguns deles motociclistas, segundo conta. Um dos homens estava armado com uma pistola, disse. Dois dos amigos moradores de rua escaparam. Com o rapaz que não conseguiu fugir, ele passou a ser agredido e ameaçado. Em dado momento, o outro jovem também escapou, e passou a ser ele o único em poder do grupo. Os homens o acusavam de roubar bicicletas e praticar assaltos naquela região.

Os agressores aplicaram uma “banda” e ele foi ao chão. Começaram, então, agressões com capacetes, pontapés e várias humilhações. Acusado de roubos, ele acreditava que seria morto pelos jovens que descreveu como “brancos e fortes” e “playboys” – apenas um deles era “pardo”, segundo contou o rapaz a um funcionário da Secretaria Municipal de Desenvolvimento social. O pardo, segundo conta, pediu desculpas.

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Depois do fim da sessão de agressões, ele foi atado ao poste, e passou a sentir medo de ser assassinado por um dos jovens agressores, que poderiam retornar para terminar o “serviço”. O rapaz foi localizado e socorrido por alguns moradores do Flamengo – entre eles a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, fundadora da ONG Projeto Uerê, de educação infantil. Depois de medicado, ele se desvencilhou e procurou ajuda em um abrigo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social no Centro, onde estava desde então, sem ser identificado. Outro dos quatro perseguidos também ficou no abrigo, anonimamente.

Na tarde desta quarta-feira, segundo contou, a diretora do abrigo o reconheceu, e comunicou o caso à Secretaria, que auxiliou o rapaz a prestar depoimento. A delegada Monique Vidal apresentou a ele fotografias dos 14 detidos na noite da última segunda-feira, em um tumulto no Flamengo, no qual dois menores disseram ter sido ameaçados. O jovem não reconheceu nenhum deles, o que, por ora, descarta a suspeita de que os casos estejam conectados e que sejam grupos de agressores com integrantes em comum.

A delegada Monique Vidal tenta, agora, encontrar imagens das cenas de perseguição, tortura e humilhações ocorridas entre a noite de sexta-feira e madrugada de sábado, para tentar chegar aos agressores. A Polícia Civil informou que o adolescente tem uma passagem pela Delegacia Especial de Proteção à Criação e ao Adolescente, que cuida de crimes cometidos por menores, mas não detalhou que delito foi atribuído a ele.

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Funcionários da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social descreveram o jovem com um menino calado, pacato e muito querido pelas assistentes sociais. Ao ser identificado pela diretora do abrigo, ele chorou compulsivamente.

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