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Cunha será investigado por corrupção e lavagem

Lista de Janot inclui seis peemedebistas, além do presidente da Câmara. Ex-ministro de Minas e Energia, Lobão pediu a Paulo Roberto Costa R$ 1 milhão

Por Carolina Farina e Daniel Haidar
6 mar 2015, 23h45

Um dos 49 nomes citados pelos delatores do petrolão, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, será investigado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki aceitou nesta sexta-feira pedido de investigação contra Cunha e outros 21 deputados federais. A lista de políticos enrolados no petrolão contabiliza ainda doze senadores. Sete peemedebistas, além do lobista Fernando Baiano, ligado à sigla, estão na lista apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF. A seguir, entenda o que pesa contra cada um.

Eduardo Cunha – Em depoimento prestado em outubro do ano passado, o doleiro Alberto Yossef afirmou à força-tarefa da Lava Jato que o atual presidente da Câmara seria um dos beneficiários da propina cobrada em contratos da Petrobras. Os pagamentos eram, segundo o doleiro, orquestrados pelo lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema. Cunha também foi citado pelo policial federal Jayme Alves Cunha de Oliveira Filho, conhecido como Careca, apontado como ‘carregador de malas’ de Youssef. Em uma das declarações prestadas no âmbito de seu acordo de delação premiada, o doleiro afirma que que Paulo Roberto Costa intermediou o aluguel de um navio plataforma junto à Aéra Internacional da Petrobras – um contrato firmado entre a Samsung e a estatal. Segundo o doleiro, para o fechamento do acordo, o lobista Júlio Camargo (que também fechou acordo de delação premiada) foi instado a repassar propina para o PMDB. Embora tenha afirmado não se lembrar de quanto, Youssef disse que o valor era destinado a integrantes do partido. Ele citou nominalmente Eduardo Cunha como um dos destinatários do butim. Camargo teria, então, repassado os valores a Fernando Soares.

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Youssef contou, ainda, que Júlio Camargo chegou a suspender os repasses a Baiano em determinado momento. O lobista do PMDB, então, teria pedido a Cunha que solicitasse a uma comissão do Congresso uma investigação sobre as empresas Toyo Setal (que Camargo representava) e Mitsue, e também sobre o lobista, a Samsung e suas relações com a Petrobras. Camargo teria se mostrado a Youssef bastante assustado com a ameaça. “Embora não tenha como precisar neste momento se os valores mencionados nos termos em questão foram entregues diretamente a Cunha, fato é que Youssef reiterou, e com razoável detalhamento, que o deputado era beneficiário dos recursos e que participou de procedimentos como forma de pressionar o restabelecimento do repasse dos valores que havia sido suspenso, em determinado momento, por Júlio Camargo”, avalia a PGR.

O procurador destaca, ainda, as quantias recebidas por Cunha das empresas do clube do bilhão – especialmente em períodos pré-eleitorais. “Reiterando-se que uma das formas de pagamento de propinas era exatamente a realização de várias doações registradas ‘oficialmente’ aos Diretórios dos Partidos”, analisa Janot. Um dos emissários do doleiro, Careca também afirmou às autoridades que entregou dinheiro em uma casa que Youssef dizia ser a de Cunha. “Destaca-se que, em documento intitulado ‘Transcareca’, Rafael Ângulo Lopez, que contabilizava as entregas feitas por Jayme entre os anos de 2011 e 2013, verificam-se diversas entregas no Rio de Janeiro em altos valores, tais como 800.000, 312.500, 228.500, 473.000, 500.000, 300.000 e 900.000 reais”, argumenta Janot. Apenas entre 2011 e 2012, Careca teria entregue aproximadamente 13 milhões de reais em espécie. “Baseando-se nas informações prestadas por Jayme, especialmente em vista dos detalhes apresentados, foi possível localizar a residência mencionada, cujas características coincidiam com as apresentadas pelo policial federal”, descreve a PGR. “A mencionada ‘casa amarela’ é de propriedade de advogado Francisco José Reis, aliado do deputado estadual eleito Jorge Picciani que, segundo fontes abertas, possui fortes ligações com Eduardo Cunha”, completa o texto.

Edison Lobão – O senador e ex-ministro de Minas e Energia do governo Dilma será investigado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em depoimento prestado no âmbito de seu acordo de delação premiada, Paulo Roberto Costa afirmou, em 31 de agosto de 2014, que se reuniu com Lobão em 2008. Na ocasião, o ex-ministro de Dilma teria solicitado a entrega de 1 milhão de reais – e que o senador não explicou a finalidade do dinheiro. Lobão teria, ainda, pedido dinheiro para a campanha de Roseana Sarney ao governo do Maranhão em 2010. Costa teria, então, pedido a Youssef que realizasse o pagamento com dinheiro do ‘caixa do PP’ – em depoimento posterior, Costa afirma que não se lembrava se tinha solicitado a transferência do dinheiro a Youssef ou ao ex-deputado José Janene. O doleiro negou ter feito qualquer pagamento ao ex-ministro. Disse, contudo, que em 2008 era Janene quem controlava o caixa. Afirmou que fez várias entregas de 1 milhão de reais, embora nem sempre conhecesse o destinatário do dinheiro.

“Embora não especificamente referido nos depoimentos citados, é de se considerar que as razões para o atendimento à solicitação de Edison Lobão têm estreita relação com o cargo ocupado por ele – então Ministro das Minas e Energia – e, nessa condição, e na qualidade de Senador licenciado e um dos líderes do PMDB, à própria manutenção de Paulo Roberto Costa como Diretor de Abastecimento da Petrobras. Há nos autos, portanto, um conjunto suficiente de elementos, a justificar a instauração de inquérito”, avalia Janot.

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Roseana Sarney – A ex-governadora do Maranhão será investigada por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em depoimento prestado em 30 de agosto de 2014, Paulo Roberto Costa afirmou que mandou entregar 2 milhões de reais para a campanha de Roseana Sarney ao governo do Maranhão em 2010, a pedido do ex-ministro Edison Lobão. Disse ainda que conheceu Roseana em razão da obra de refinaria Premium 1 que estava sendo construída em Bacabeira, a 60 quilômetros de São Luis do Maranhão. O pagamento do dinheiro para a campanha, segundo ele, foi feito por intermédio de Alberto Youssef. O doleiro não cita pagamentos a Roseana, mas afirma que Costa nem sempre lhe informava quem seriam os reais beneficiários de determinado pagamento quando este era feito em espécie, com entrega pessoal a algum emissário.

Valdir Raupp – O senador também está na mira pelos crimes de corrupção passiva qualificada e lavagem de dinheiro. Paulo Roberto Costa afirmou em acordo de delação premiada que parte do dinheiro desviado da Petrobras foi repassada para a campanha de Raupp em 2010. Costa afirma que foi informado de que o senador precisava de 500.000 reais para custear sua campanha para a Casa e pediu o dinheiro a Alberto Youssef – o doleiro então orientou o ex-diretor da Petrobras a retirar o montante do ‘bolo’ devido ao PP, ou seja, do 1% que era destinado ao partido do superfaturamento dos contratos da Petrobras dentro da Diretoria de Abastecimento. Também em acordo de delação premiada, Youssef afirmou que, a pedido de Costa, foi efetuada pela empreiteira Queiroz Galvão uma doação oficial para Raupp. O dinheiro, contudo, advinha de comissionamento por contrato firmado com a estatal. “Durante as investigações, colheram-se elementos que aparentemente confirmam o teor das declarações dos colaboradores”, avalia Janot.

O procurador afirma, ainda, que foi apreendida uma agenda pertencente a Costa com anotações diversas – e que descrevia, segundo o delator, pagamentos a políticos. Raupp era idendificado pela sigla “WR”. Costa explicou que pensava que o nome do senador era escrito com W. Ao lado das iniciais consta o número 0,5, que significaria o repasse de 500.000 reais. Informações contidas no sistema de prestação de contas eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral emonstram existência de duas doações da Queiroz Galvão para o diretório estadual do PMDB em Rondônia em 27 de agosto e 1º de setembro de 2010.

Romero Jucá – O senador, eterno líder de qualquer governo, vai ser investigado por suspeita de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Paulo Roberto Costa afirmou que, depois de ficar gravemente doente no fim de 2006, teve o apoio da bancada do PMDB no Senado para se manter no cargo. Isso porque outros funcionários da Petrobras passaram a ser apoiados por outros partidos para substituir Costa. O ex-diretor chegou a fazer reuniões na casa e no gabinete de Jucá, durante as negociações. Ficou acertado que, a partir dali, Jucá e outros caciques também seriam beneficiados com parte da propina distribuída por empresas contratadas pela Diretoria de Abastecimento.

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Aníbal Ferreira Gomes – O deputado era o principal emissário do presidente do Senado, Renan Calheiros, nos depoimentos de Paulo Roberto Costa. Em 2009 ou 2010, o ex-diretor disse ter sido procurado por Ferreira Gomes. Ele fazia pressão para incluir a empreiteira Serveng, uma empresa de médio porte, em contratos da Petrobras. A empresa saiu vencedora de alguns acertos e Costa afirmou que “provavelmente a SERVENG incluiu mais algum sobrepreço para o pagamento dos valores devidos a Aníbal Gomes por conta de sua participação nessa negociação”. Ferreira Gomes também pressionou Costa motivado por uma reclamação do Sindicato dos Práticos “acerca do reajuste da remuneração da praticagem”. O deputado comentou que receberia 800.000 reais pelo êxito da negociação. O pagamento seria feito pelo escritório Ferrão de advocacia, de acordo com o relato de Ferreira Gomes ao ex-diretor. Ao fim, relatou Costa, o pleito do sindicato foi atendido. O senador Renan Calheiros também receberia parte da propina pela negociação.

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