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‘Bom não é renovar, bom é melhorar’, diz Rubens Figueiredo

Cientista político analisa o resultado das eleições municipais do último domingo no Legislativo paulistano e explica por que ex-policiais foram tão bem votados

Por Kamila Hage
11 out 2012, 10h27

A Câmara dos Vereadores de São Paulo terá na próxima legislatura uma taxa de renovação de 40%, garantida pelas eleições do domingo. Entre as boas novidades está a entrada de nomes de qualidade, como Andrea Matarazzo (PSDB), que foi ministro no governo de Fernando Henrique Cardoso, secretário de Subprefeituras do município e secretário estadual da Cultura. Somam-se a ele o arquiteto Nabil Bonduki (PT), relator do Plano Diretor original da cidade, e o empresário Ricardo Young (PPS), pós-graduado em administração e ex-presidente do Instituto Ethos.

Por outro lado, candidatos conhecidos pelo envolvimento em episódios escusos não foram eleitos. Um deles é Vicente Viscome, do PRP. Chefe da Máfia dos Fiscais, ele foi o primeiro vereador cassado da história de São Paulo, em junho de 1999, e cumpriu sete anos de prisão. Mesmo assim, driblou a Lei da Ficha Limpa e tentou ressuscitar a carreira política ao se candidatar a uma vaga na Câmara em 2012. Fracassou.

Figuras folclóricas, cacarecos e representantes do estilo clientelista de política também ficaram de fora. “As pessoas começam a perceber, em São Paulo, que cargos públicos devem ser ocupados por quem está disposto a trabalhar”, afirma o cientista político Rubens Figueiredo, diretor do Centro de Pesquisas e Análises de Comunicação (Cepac).

A demanda da população por melhorias na segurança pública fez despontarem nomes ligados à área, como ex-policiais. Entre os eleitos, cada um com seu estilo de atuação, estão Coronel Telhada (PSDB), Conte Lopes (PTB) e Álvaro Camilo (PSD). Camilo foi comandante da Polícia Militar de São Paulo até abril e promoveu importantes avanços na corporação, com uma visão voltada ao planejamento e à gestão. Já Telhada e Conte Lopes são originários da Rota, a polícia de elite paulista, e são conhecidos por serem linha-dura. Quinto vereador mais votado, Telhada gosta de citar o lema “bandido bom é bandido morto”.

“A sociedade está muito mais rigorosa com o crime e busca punição aos bandidos. Isso se reflete na expressiva votação nesse tipo de candidato”, afirma Figueiredo. Leia abaixo os principais trechos da entrevista do cientista político ao site de VEJA:

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A bancada evangélica na Câmara passou de cinco para oito representantes. Por outro lado, Celso Russomanno, candidato a prefeito ligado à Igreja Universal, desidratou e não chegou ao segundo turno. Como o senhor analisa esse fenômeno? Os evangélicos têm uma capacidade de mobilização muito maior do que a de políticos de outros grupos. Além de comungarem da mesma fé, eles se encontram regularmente e detêm meios de comunicação. Por isso, são candidatos fortes em campanhas proporcionais. Ao longo do tempo, esse grupo tem aumentado sua influência. E formam uma bancada pluripartidária, já que os evangélicos estão em vários partidos e nem sempre guiam sua atuação por questões religiosas.

Como você explica a eleição de ex-policiais, como Coronel Telhada, Conte Lopes e Álvaro Camilo? A sociedade está muito mais rigorosa com o crime. Pesquisas indicam, por exemplo, um número muito grande de pessoas que desejam a diminuição da maioridade penal. A votação expressiva nesses policiais vai ao encontro do que a sociedade quer: punição, bandido na cadeia, justiça ágil. A eleição desses vereadores está em consonância com essa corrente de opinião. Ou seja, você tem espaço para esse tipo de candidato porque a sociedade está, cada vez mais, buscando uma ação eficaz da justiça e da polícia.

O candidato a vereador mais votado dessas eleições, Roberto Trípoli, do PV, tem como principal bandeira a defesa dos animais. O paulistano está mais sensível a essa causa? A questão dos animais tem poucos representantes entre os vereadores e deputados. Em contrapartida, metade lares paulistanos têm animais de estimação, o que representa um número muito alto. Trípoli foi o idealizador do primeiro hospital público veterinário da cidade. Isso teve uma repercussão muito grande. Um serviço novo para a população, aliado ao fato de que existe uma quantidade relevante de pessoas que têm animais, explica o enorme número de votos que ele recebeu. Ele é um candidato temático, cujo tema atinge uma quantidade enorme de pessoas.

A mudança de 40% dos vereadores representa um avanço de qualidade na Câmara? O bom não é renovar, o bom é melhorar. Se você tem candidatos que fazem apologia à violência eleitos, a mudança não é boa. Não é por esse caminho que países democráticos avançam. Costumamos ter a ideia de que renovar é sempre positivo. A renovação não é, necessariamente, o melhor caminho.

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Na eleição de 2008, a taxa de renovação foi de 29%. Por que agora foi mais alta? Em 2008 houve uma continuidade porque a sociedade vivia uma euforia de consumo, de crédito, e de crescimento econômico. As pessoas estavam viajando de navio, de avião. Isso acabou. Hoje as pessoas estão pagando o carro que compraram naquele ano. Em 2008, os orçamentos municipais cresceram muito, então o governo conseguia realizar muito mais. Agora o cenário se inverteu. Isso explica uma tendência geral para mudanças, incluindo o cargo de prefeito.

O PT elegeu a maior bancada, somando onze representantes. É um indicativo de como se definirá o segundo turno para prefeito? A disputa será difícil, mas eu não creio que haja uma tendência de avanço do PT por causa da bancada de vereadores eleita. A votação nesses candidatos a vereador não se deu por causa do partido, mas sim devido a campanhas individuais bem feitas. Ao contrário, a simpatia pelo PT diminuiu depois do início do julgamento do mensalão.

Depois da eleição do palhaço Tiririca como deputado federal mais votado de São Paulo em 2010, personalidades como o cantor Agnaldo Timóteo não se reelegeram este ano. O apelo de famosos no meio político está perdendo o fôlego? Sim, está diminuindo. Passada a euforia do início da candidatura de famosos, as pessoas começam a perceber, em São Paulo, que cargos públicos devem ser ocupados por quem está disposto a trabalhar. Com o fim da novidade, o fenômeno tende a diminuir.

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