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A culpa é de São Pedro

Para prefeito de Franco da Rocha, responsabilidade por enchete “é de todos”

Por Manuela Franceschini, de Franco da Rocha
13 jan 2011, 21h01

As imagens correram o país. Apesar de não ter sido devastada como a região serrana do Rio, que contabiliza mais de 450 mortos, essa semana, a cidade de Franco da Rocha ficou irreconhecível. Em meio às fortes chuvas, a abertura das comportas da represa Paiva Castro, uma das quatro do Sistema Cantareira de Abastecimento de água, fez com que o município de 130.000 moradores, na Grande São Paulo, ficasse praticamente submerso. Moradores ficaram ilhados – a circulação de ônibus e trens chegou a ser interrompida.

Nesta quinta-feira, em uma sala improvisada na escola infantil Dulce Moreira de Araújo, o prefeito, Marcio Cechettini, conversou com o site de VEJA. Sem dormir há três dias, disse que a responsabilidade pela enchente “é de todos nós” – mas que convém rezar a São Pedro “para que não faça isso de novo”. A água em Franco da Rocha já começou a baixar. Mas a cidade ainda vai demorar uns dias para voltar à rotina.

O que o senhor fez quando as comportas da represa Paiva Castro foram abertas?

Eu estava despachando na prefeitura. Por volta das 10h de terça-feira, a Sabesp me ligou avisando que ia fazer uma vazão controlada porque a represa estava muito cheia, de 10.000 a 20.000 litros por segundo. O dia todo foi isso. Em frente à prefeitura houve um pouco de alagamento, nada fora do normal. Das 10h até 20h não tivemos grandes problemas. Voltei para casa, fiquei monitorando a situação por rádio com a defesa civil. A Sabesp me informou que ia tentar aumentar a vazão para 25.000, 30.000. Até então estava tranqüilo. Não era nada tão alarmante.

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O senhor criticou a Sabesp, disse que o aviso de que abririam as comportas foi dado com pouca antecedência.

É, 50 minutos antes eles começaram a avisar sobre os testes de vazão. Não é que eu critiquei, acho que tudo pode se aperfeiçoar.

Mas uma cidade pode ficar refém da meteorologia?

Eu não posso falar que houve erro nisso tudo, mas acho que precisamos de um aprimoramento no Brasil como um todo. Acho que temos que fazer uma reflexão. Quem são os responsáveis? Somos todos nós. O governo municipal, estadual, federal. É a população. Todos nós. As cidades cresceram de uma forma desorganizada. Franco da Rocha cresceu às margens do rio e da ferrovia. Se não houver um esforço de todos os governos nessas questões de drenagem dos rios vamos sempre conviver com esse problema. Além do fenômeno da natureza, claro, porque isso não tem jeito.

Então o senhor reconhece que houve negligência?

Os rios pertencem ao estado. O que nós estamos fazendo desde o ano passado é solicitar o desassoreamento dos rios Juquery e Ribeirão Eusébio. As obras já estão em andamento, começaram em novembro. Só que leva quase um ano para desassorear. O governador Geraldo Alckmin esteve aqui comigo nesta quinta-feira e prometeu pedir que a obra seja intensificada. Mas é uma questão que eu acho que tem que ser discutida no âmbito das três esferas de governo, e principalmente com a população, com conscientização e educação. Isso é muito importante. Todos nós somos responsáveis.

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O superintendente da Sabesp falou que houve uma reunião em novembro, quando se falou sobre a época de chuvas, alertou-se para o fato de que as comportas poderiam ser abertas e sobre os riscos de alagamento. Não daria para pensar em medidas preventivas?

Não me recordo disso. Eu não estava. Preciso checar com a minha secretária.

Então não havia nenhum plano preventivo?

Nós temos um plano municipal, uma brigada de enchente, toda uma estrutura para limpeza da cidade logo após um alagamento, mas nessa magnitude não estávamos esperando, não. Mas a água já baixou bem. Estamos aguardando baixar totalmente para fazer a limpeza na área da prefeitura, fórum, delegacia. Na outra parte da cidade nossa equipe já está fazendo a limpeza. O mais importante é que não tivemos vítimas.

Em quanto tempo a cidade deve voltar ao normal?

Acredito que se não chover mais e se a represa não precisar soltar mais água, amanhã (sexta) cedo a água já vai ter baixado em toda a cidade. Até sábado a cidade já vai estar em ordem, limpinha. Claro que a estrutura urbana fica muito comprometida. Vamos fazer um tour pela cidade, fotografar, ver os danos causados e buscar os recursos para reconstruir. Agora é bater na porta dos secretários, do governo. Não vai ser pouco dinheiro que vamos precisar.

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Há um abrigo para as pessoas que tiveram que sair de casa?

Disponibilizamos uma escola, mas ninguém quis ir. As pessoas foram para os sobradinhos os vizinhos, deram um jeito. Eles já viveram a enchente de 87, sabem se virar. Quer dizer, de enchente ninguém gosta, mas eles estão mais preparados.

O senhor estava na cidade em 87?

Eu tinha 19 anos. Foi duas vezes pior do que essa. Parecia que estava numa guerra. Pelo menos serviu para as pessoas saberem se defender mais das enchentes. Mas não fui atingido, não. Agora é só rezar pra São Pedro não fazer isso de novo.

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