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Internet é a arma de grupos terroristas para recrutar jovens

Redes sociais e até desenhos animados servem para atrair novos combatentes

Por Nana Queiroz
9 set 2011, 11h01

“Tenta-se há muitos anos estabelecer um perfil da pessoa mais propensa a ser atraída pela propaganda terrorista. Todos os esforços foram em vão, pois não existe um ‘recruta-modelo'”

Gabriel Weimann

Um adolescente frustrado que se sente deslocado do restante da sociedade é o alvo mais comum. Usando a internet como seu refúgio e a alternativa para encontrar novos amigos, depara-se com um site, uma rede social ou um chat que um grupo desconhecido anuncia ser o lugar ideal para reunir pessoas que se sentem isoladas. A ele é oferecida uma religião para acalmar as angústias – geralmente o islamismo – somada a mensagens de apoio e a tão almejada sensação de ser aceito. Quando já está envolvido, é o momento certo de introduzir a ideologia do grupo, de forma supercial ainda, sem nunca citar assassinato, suicídio ou terrorismo. Depois, alguns desses jovens são “escolhidos” para dar o próximo passo, e participam de encontros pessoalmente. Somente aí a proposta de ataque começa a ser tratada, com a promessa de que uma vida melhor e repleta de prazeres o espera no “além”.

Esse é o modo de ação que melhor ilustra a estratégia usada por redes criminosas para atrair novos – no sentido mais literal do termo – integrantes para seu exército, por meio da criação de vínculos sociais. Mas eles não estão focados apenas nos adolescentes. Até crianças estão na mira desses terroristas e elas também são atraídas dentro do seu universo, ora com imagens de desenhos animados famosos, como Mickey Mouse, ora com figuras islâmicas piedosas. “Tenta-se, há muitos anos, estabelecer um perfil da pessoa mais propensa a ser atraída pela propaganda terrorista. Todos os esforços foram em vão, pois não há um ‘recruta-modelo’. Não é preciso sequer estar aberto à ideologia fundamentalista, já que o método usado por esses grupos é de uma sedução gradual e lenta”, explica ao site de VEJA Gabriel Weimann, professor de comunicação política da universidade israelense de Haifa

Há 12 anos, quando Weimann começou a estudar o uso da internet por grupos terroristas, tudo o que sua equipe conseguiu encontrar foram 12 sites do tipo. Hoje, os acadêmicos monitoram mais de 70.800 páginas em 20 línguas – incluindo o português. Qualquer organização que venha à mente – Hamas, Al Qaeda, Talibã, Al Qassam – já conta com um setor especializado na web, com mídias sociais, serviços de chat e até ensino à distância.”Essas redes vêm se sofisticando”, comenta o especialista em propaganda terrorista on-line, que está no Brasil nesta semana para uma série de seminários sobre o tema. “Antigamente, faziam publicidade genérica, para quem quer que fosse atingido por eles. Agora, têm serviços direcionados a cada público alvo”, enfatiza.

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Pôster no site do grupo Al Qassam exalta homem-bomba como herói
Pôster no site do grupo Al Qassam exalta homem-bomba como herói (VEJA)

“Exemplo” – Uma outra maneira de convencer os jovens a se armar em nome dos ideais terroristas doentios é inflando o ego deles. Com esse intuito, os sites expõem galerias de fotos e vídeos de seus soldados identificados como “heróis” ou “mártires” – prometendo-lhes fama na terra e todas as recompensas pelos sacrifícios no “paraíso”. Os escolhidos como homens-bomba são convidados a ler um testamento com vestimenta militar em frente a uma câmera. Esse vídeo, que será amplamente divulgado na internet depois (obviamente) tem duas funções: assegurar a fama do “herói” após o atentado e garantir que o “mártir” não perderá a coragem na hora de cumprir a “missão” que lhe foi dada, já que há uma confissão gravada de seu envolvimento com a célula terrorista. “Aceitar o suicídio é algo muito difícil, que é proibido por todas as religiões do mundo, até mesmo o islã, e contraria nossa natureza. O que leva as pessoas a esse passo final é normalmente um sentimento de raiva, vingança ou frustração, mas, principalmente, a ideia de que a próxima vida será melhor do que esta”, destaca Weimann.

Mas o professor lembra também que a propaganda terrorista on-line não está apenas em busca de suicidas. Alguns sites têm o objetivo de assustar pais de militares americanos cujos filhos poderiam acabar no Iraque ou no Afeganistão, por exemplo, ou angariar simpatia e financiamento para a causa. Em todo esse processo, uma minoria acaba entrando, de fato, na organização terrorista. Com o uso de servidores proxy, que mascaram a localização do computador do terrorista, é muito difícil rastrear os criadores destas páginas na web. Destruí-los não é impossível, mas infrutífero e pouco aconselhável. Afinal, para cada portal retirado do ar são criados dezenas de outros. “Muito mais produtivo seria que aprendêssemos com eles”, aconselha Weimann, sugerindo que serviços de inteligência monitorem esses sites em busca de pistas sobre futuros atentados terroristas e pensem até em invadir esses endereços como hackers para rastrear quem os têm acessado. “Vírus de computador costumam ser armas dos vilões. Ora, a exemplo do que eles fizeram com a boa ferramenta que é a internet, por que não os transformamos também em arma secreta dos mocinhos?”

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