É certo que Silvio Santos nunca perde o sorriso – classificado por Raul Seixas como “franco e puro para um filme de terror”. Mas agora ele tem razão de sobra para rir. Aquela que foi apontada como uma das suas maiores derrotas em 2009 – perder o ex-pupilo Gugu Liberato para a rival Record – se converteu em desforra. Neste ano, foram poucos os domingos em que Gugu bateu o ex-patrão no Ibope. O declínio de Gugu fora do SBT levanta suspeitas sobre sua real estatura como apresentador. A involução revela seu verdadeiro tamanho? Para especialistas ouvidos por VEJA.com, sim.
“Acho que o Gugu tenta fazer seu programa direitinho, mas ele não tem a verve nem o brilho de Silvio Santos e de Fausto Silva. Ele ainda não encontrou a própria identidade”, diz Maria Thereza Fraga Rocco, pesquisadora especializada em televisão e diretora da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), ligada à Universidade de São Paulo (USP). Cláudio Cardoso de Paiva, professor de comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é de opinião semelhante. “Provavelmente, Gugu obteve êxito no SBT à sombra do seu ‘mentor intelectual’, Silvio Santos. Fora dali, parece um peixe fora d’água.”
Procurado pela reportagem, o apresentador preferiu não falar.
O novo velho de novo – No último domingo de abril, quando Gugu estreou um quadro com bom investimento da Record – que, estima-se, paga um salário mensal de 3 milhões de reais ao apresentador -, seu programa teve apenas 8 pontos de audiência, em média. Perdeu até para o humorístico Pânico na TV, da Rede TV!, que teve dez pontos, dois menos do que Silvio Santos. O quadro em questão era o “Gugu Bate em Sua Porta”, que leva o apresentador a casas de família, onde ele testa o conhecimento que os parentes têm uns dos outros e pode conceder um prêmio de até 250.000 reais.
Este não é o único quadro novo do programa – que, no geral, é bastante parecido com o que era apresentado no SBT. No final de março, entrou no ar “Loiras e Morenas”, gincana em que as dançarinas do programa se dividem conforme a cor do cabelo e disputam provas juvenis como ver quem consegue tirar um político para dançar. Também não emplacou, como mostra o resultado do dia 25.
Os outros dois quadros lançados por Gugu na Record são recauchutagem. A “Corrida do Gugu” é uma espécie de remake da “Corrida Maluca”, que ele tinha nos anos 1990, no SBT. E “Vale Tudo para Ganhar”, em que pessoas anônimas se apresentam para um corpo de jurados quase famosos, é mais uma versão do tradicional show de calouros televisivo.
Os percalços na Record – Para a auxiliar administrativo Renata Garcia, 27, de Campo Grande (MS), o programa do Gugu “ficou pior” depois de migrar para a Record. Diferentemente dos especialistas ouvidos nesta reportagem, Renata, que já acompanhava o apresentador no SBT, acha que a questão é mais simples: ela sente falta da interação de Gugu com o auditório e do volume de atrações musicais “de peso”, que julgava maior na emissora de Silvio Santos. “Acho que o programa piorou. A participação de pessoas anônimas diminuiu, e os artistas que vão ao programa não têm graça”, diz Renata.
O pesquisador Elmo Francfort, autor dos livros Rede Manchete: Aconteceu Virou História e Avenida Paulista 900: A História da TV Gazeta, aponta que Gugu enfrenta um desafio maior hoje, na Record. O apresentador, acredita, é prejudicado pelo horário de seu programa, 20h. No SBT, ele entrava às 18h. “Quando chega a noite de domingo, todo tipo de jogo e quadro já foi ao ar no Domingão do Faustão, Programa Silvio Santos e Domingo Legal“, afirma, dando um desconto para Gugu. Francfort acredita que o apresentador pode se recuperar. Mas, para tanto, receita a mesma saída indicada pelos outros especialistas. “Ele precisa ser diferente dos demais.”
Enquanto Gugu não encontra sua personalidade no Ibope, Silvio Santos vai rindo à toa.