Clássico ‘Arte Africana’ ganha edição com revisão do autor
Livro faz de cada obra produzida na África uma porta de entrada para as culturas do continente e firma relações entre África e Brasil
Lançado originalmente em 1971 e alçado ao posto de introdução obrigatória sobre o tema, o livro Arte Africana, do antropólogo britânico Frank Willett, ganha a primeira edição em português a partir da última revisão do autor, publicada pelo Sesc em parceria com a Imprensa Oficial (tradução de Tiago Novaes, 320 páginas, 82 reais). Com respeito e cuidado para com um continente que é vasto e está longe de ser homogêneo, Willett explica a arte feita por africanos a partir da cultura de cada povo, sua cosmovisão, cosmogonia e religião, fazendo das obras portas de entrada em cada sociedade. E ajuda, especialmente com a leitura e análise do historiador Alberto da Costa e Silva, a estabelecer relações entre as identidades da África e as do Brasil. Das máscaras, que seduziram artistas como Pablo Picasso, pode-se dizer por exemplo que simbolizam a entidades e ancestrais que regem a ordem, em oposição ao caos.
“Esses poucos comentários acerca da influência do ambiente e do estilo de vida na potencial capacidade dos povos de produzir esculturas ou pinturas é o máximo de generalização que se pode fazer com segurança. Contudo, a arte da floresta e a arte da savana são frequentemente contrastadas, e as diferenças entre ambas relacionadas às características das sociedades, nesses variados ambientes. Afirma-se, por exemplo, que os povos das florestas não constituem grandes grupos sociais; que vivem em comunidades isoladas, com medo da floresta e uns dos outros; que o esforço contínuo para impedir que suas clareiras sejam dominadas pela floresta absorve toda a sua energia e deprime seu espírito. Em contraste, os povos da savana ergueram impérios (Gana antiga, Songai, os emirados do norte da Nigéria) com organização estatal, uma ampla e especializada máquina administrativa, uma classe governante para patrocinar o artista.”