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Trump acreditou nessa mulher? Só pode dar confusão

Louise Mensch fez a reportagem mais completa sobre grampos, reais ou supostos, no prédio do presidente e aqui vai rápida reconstituição de como chegou lá

Por Vilma Gryzinski 6 mar 2017, 11h40

Como uma ex-parlamentar britânica casada com o empresário da banda Metallica pode ter furado a imbatível máquina da mídia americana, voltada em tempo integral e maioria esmagadora a escavar todos os cantos sombrios de Donald Trump? 

“Eles confiam em mim”, respondeu Louise Mensch a respeito das “duas fontes ligadas à contra-informação” que passaram os dados explosivos usados na reportagem que escreveu em 7 de novembro. 

Nessa reportagem, ela entra em detalhes minuciosos sobre a escuta realizada, real ou supostamente, na Trump Tower, com base num mandato expedido por força da FISA, devido a conexões suspeitas com dois bancos russos.

Esta é a sigla em inglês de uma regulamentação criada especificamente para autorizar grampos em comunicações de cidadãos americanos ou baseados nos Estados Unidos suspeitos de colaborar com espiões ou terroristas estrangeiros. 

Outros órgão de imprensa mencionaram, com menos detalhes, o mesmo assunto. O New York Times disse que, durante o governo Obama, o FBI havia entrado com dois pedidos de escuta com base na FISA, que virou a palavra do momento. Um foi rejeitado pelo juiz federal encarregado que, como em todos os casos do tipo, age em sigilo. Outro foi aceito. 

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O caso foi crescendo depois da posse de Trump até explodir no sábado, quando ele foi para o Twitter acusar seu antecessor de mandar grampeá-lo durante a campanha presidencial. Comentários e reportagens no Breitbart News, certamente uma das leituras preferidas de Trump e supostamente a fonte de sua fúria, fazem referências à informação original, de Louise Mensch. 

É uma acusação de teor radiativo. Um dos mais explícitos adversários de Trump, o senador democrata Chuck Schumer, resumiu o resultado mais desejado pela oposição: o presidente se deu mal em qualquer hipótese.

Se não for demonstrada a escuta, terá levantado um falso testemunho escandaloso contra Barack Obama. Se for, poderão vir à tona as suspeitas de ligações espúrias com o regime russo que levaram o FBI a pedir a escuta e um juiz a aprová-la. 

Existe, obviamente, uma terceira hipótese, não mencionada por Schumer: as suspeitas eram insuficientes ou tiveram motivação política especifica – a de prejudicar Trump. Seria a mais escandalosa das opções, o que diz bastante sobre a volatilidade do caso, considerando-se que as duas primeiras já são suficientemente espantosas. 

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Na reportagem de 7 de novembro, Louise Mensch diz que o FBI rearranjou o pedido de intervenção em emails no servidor da Trump Tower via FISA, anteriormente indeferido, de forma a que possíveis delitos financeiros e  bancários formassem a base da suspeita. Havia – de novo supostamente – ligações entre o servidor e dois bancos russos, o SVB  Bank e o Alpha Bank. 

Os alvos seriam o próprio Trump e pelo menos três integrantes de sua campanha, incluindo Paul Manafort e Carter Page, que disparou todos os alarmes ao fazer uma viagem a Moscou uma semana antes da divulgação dos emails hackeados do Comitê do Partido Democrata. 

Segundo Mensch, o mandato foi autorizado “em parte por causa do envolvimento das próprias filhas de Vladimir Putin”. Maria é casada com Jorrit Faassen, um arquiteto holandês que trabalhou na Gazprom, a mega-Petrobras russa. O marido de Katerina, que compete em campeonatos de dança atlética, é Kirill Shamalov, filho do maior acionista do Bank Rossya, grande amigo de Putin.

Como se vê, a história fica cada vez mais misteriosa e interessante. A participação de Louise Mensch só aumenta o elenco de personagens intrigantes. Brilhante, bonita e educada em Oxford, ela tem uma vocação natural para aparecer no centro dos acontecimentos e apimentar debates. 

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Fez uma carreira bem sucedida como escritora de livros voltados para o público feminino –  títulos como Paixão, Desejo  e Destino falam por si -, assinados com seu inglesíssimo nome de solteira, Louise Bagshaw,  e construiu uma família relativamente tradicional, com marido e três filhos. 

Jogou tudo para o ar quando conheceu Peter Mensch, empresário americano considerado o gênio por trás de músicos estreantes ou reestreantes. A lista inclui pessoal do heavy metal jurássico, como Metallica e AC/DC, além de Red Hot Chili Pepper, Snow Patrol, Muse e por aí vai.

Famosamente, ele disse sobre a mulher: “Consigo administrar bandas de rock, mas não consigo administrar Louise.” 

Quem consegue? Louise, que parece uma versão um pouco mais loira, mais velha e muito mais agitada da atriz Emma Watson, apronta desde os tempos de Oxford, quando deu uma entrevista sob pseudônimo contando como havia passado pela cama de seis roqueiros até perder a virgindade com o sétimo. “E eram todos metaleiros”, ironizou. 

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Acredite quem quiser. Como candidata pelo Partido Conservador, foi mais convincente e conseguiu ser eleita para o Parlamento. Ficou apenas dois anos na venerável instituição e deixou a direção do partido furiosa ao renunciar para “atender as necessidades da família”, dividida entre Londres e Nova York, onde mora o marido. 

Durante seu breve e tumultuado período como parlamentar, assumiu que havia usado drogas pesadas  – “Hoje me arrependo de ter estragado meu cérebro” – quando foi alvo de uma tentativa de chantagem. Meteu-se em todas as polêmicas que conseguiu.

Mostrou-se preparada, esperta e de alguma forma simpática nas perguntas a Rupert Murdoch, o magnata da News Corporation, ouvido por uma comissão parlamentar de inquérito no escândalo do tabloide News of the World – que acabou fechado. 

Por incurável coincidência,  Murdoch a chamou para comandar um site chamado HeatStreet quando Louise foi morar nos Estados Unidos. Fez um barulho razoável, mas saiu de lá logo depois da publicação de seu furo, real ou suposto, relembremos, sobre as escutas de Trump. Hoje, é colaboradora. 

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Durante a campanha, também causou com os tuítes incessantes com críticas a Trump – mais um exemplo da teoria da rivalidade mimética – e apoiou Hillary Clinton. Louise diz que tem a confiança de agentes de serviços de inteligência por que foi agressivamente contra as divulgações de Edward Snowden e comprou briga com o jornal The Guardian ao defender a espionagem eletrônica como instrumento vital contra o terrorismo. 

Como todos os jornalistas minimamente conscientes, ela sabe que os vazamentos vindos do mundo da espionagem têm objetivos específicos. A obrigação dos jornalistas é ter garantias razoáveis sobre a credibilidade das fontes, não determinar se estão vazando para salvar o país de um presidente irremediavelmente comprometido ou sabotar um governo eleito pelo povo. 

Estas questões, entre outras igualmente momentosas, continuarão a ser discutidas, possivelmente em comissões do Congresso americano, numa investigação especial ou em ambas. Sem contar os tuítes balísticos que continuarão a cruzar os céus – e estremecer a terra. Louise Mensch quer estar, como já se posicionou, exatamente no meio disso tudo.

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