Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Brasil precisa poupar, mas poucos estão dispostos a isso

Classificada pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, como um 'desafio', a poupança doméstica brasileira está aquém das necessidades futuras do país

Por Beatriz Ferrari
18 jul 2010, 21h02

As famílias brasileiras poupam pouco, apenas 4,71% do PIB. Já os chineses conseguem “guardar” 20% de seu PIB

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, classificou como um dos principais desafios do Brasil o aumento da poupança doméstica. Entende-se por este conceito algo semelhante ao que se aplica a uma família: a capacidade de acumular recursos próprios no decorrer dos anos, graças a um esforço de gerar mais riqueza do que de consumi-la. De fato, esse tipo de avanço, tido pelos especialistas como fundamental para que a economia continue a crescer de forma sustentável, não tem se verificado.

Os índices mais recentes para o país são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e referem-se a 2007. A taxa verificada foi de 18,1% naquele ano, muito atrás da China (50%) e da Alemanha (25,9%), por exemplo. Os últimos dados trimestrais apontam queda: as taxas estão ao redor de 15%.

A expansão da poupança doméstica – destacada por Meirelles mais em tom de recomendação do que de alerta – reflete-se na elevação do investimento e na melhoria das taxas de produtividade. O raciocínio é simples: maior disponibilidade de poupança interna permite melhores condições de financiamento à atividade produtiva, além de segurança nos momentos de crise, quando linhas de crédito externas costumam ‘secar’.

Continua após a publicidade

Governo tem de cumprir seu papel – Para a analista de economia internacional da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, o governo brasileiro, tradicionalmente deficitário, deveria ser o primeiro a contribuir. “A necessidade mais urgente é fazer o Estado economizar”, afirma. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Banco Central, o setor público registrou, no acumulado de janeiro a maio, déficit nominal de 2,69% do Produto Interno Bruto (o que equivale a 37,6 bilhões de reais).

Como o governo é gastador, a capacidade de produção futura fica na dependência quase exclusiva do setor privado, que é obrigado a economizar para arcar com os investimentos. Em função disso, as empresas brasileiras não fazem feio na comparação internacional. Sua taxa de poupança, de 15,6% do PIB em 2006, calculada pelo IBGE, era próxima da praticada na China, de cerca de 20% em 2007, conforme dados do FMI.

Brasileiro economiza pouco – Já as famílias brasileiras poupam pouco, apenas 4,71% do PIB. A título de comparação, os chineses conseguem guardar 20% de seu PIB. Entre as causas desta taxa reduzida, uma chama a atenção: a influência do sistema de seguridade social. De forma geral, explicam os economistas, quanto mais difundida é a Previdência, menos a população se preocupa em guardar dinheiro. No caso do Brasil, muitas pessoas ainda confiam que conseguirão viver com suas aposentadorias, a despeito dos riscos relacionados a seu déficit e do fato de a Previdência ser, na realidade, generosa para poucos.

A renda média nacional, baixa para o padrão dos países desenvolvidos, inibe o acúmulo de recursos, face às tantas necessidades básicas do dia-a-dia. Alguns economistas também apontam o peso da alta carga tributária, que abocanha parte considerável do dinheiro que poderia ser economizado. Desta forma, as famílias guardam apenas 7,6% de sua renda, segundo dados do IBGE relativos a 2006.

Continua após a publicidade

Por fim, mas não menos importante, está o gosto pelas compras, que é característico da cultura nacional. “Na fase de crescimento intenso, o consumo das famílias aumenta em ritmo superior ao do PIB. Mas, mesmo quando a economia está parada, ele continua se expandindo”, explica o economista Fabio Giambiagi. Os dados do IBGE comprovam esse movimento. De 2004 a 2008, que foi um período de bonança para a economia doméstica, esta demanda das famílias passou de 59,7% para 60,3% do PIB. Em 2009, em plena crise, teve fôlego para subir mais um pouco, para 62,8% do PIB.

O professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Márcio Nakane, lamenta que não há políticas de incentivo ao aumento da poupança interna. “Não vejo no Brasil, por exemplo, programas de conscientização sobre a importância da previdência privada”, explica. Este tipo de investimento, dada sua característica de longo prazo, naturalmente tende a impulsionar as taxas de poupança de um país. A previdência privada registrou crescimento ininterrupto em suas receitas totais na última década, conforme dados da Federação Nacional da Previdência Privada e Vida (FenaPrevi).

Giambiagi acrescenta que a conscientização sobre a importância de poupar deveria ser incorporada às políticas educacionais. “Como há um componente cultural muito forte que estimula o consumo, o incentivo à poupança precoce, a partir dos 25 anos, deveria vir já do ensino médio”, afirma.

Uma ressalva tem de ser feita. Há divergência entre os analistas se há riscos significativos ou não em financiar o crescimento do país com recursos externos – isto é, com investimento estrangeiro direto, importações, captações no exterior, etc. No entanto, todos concordam que perpetuar essa ‘fórmula’, que é a realidade do Brasil hoje, não representa a estratégia ideal para o desenvolvimento de longo prazo.

Continua após a publicidade

Nakane resume: “Independentemente de qualquer coisa, em economia é sempre melhor ter poupança doméstica. No que diz respeito à política de longo prazo, esta é uma posição que qualquer economista apoiaria.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.