A disputa por espaço na equipe econômica entre os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, embala os nove primeiros meses de mandato da presidente Dilma Rousseff. Divergências, sobretudo na área fiscal, são a principal marca da relação entre os colegas desde que assumiram suas respectivas pastas, no começo deste ano. Com o apoio do núcleo desenvolvimentista do governo, Barbosa – que foi número dois do ex-ministro Guido Mantega – tem levado a melhor. A primeira grande “vitória” sobre Levy foi no anúncio do contingenciamento do Orçamento deste ano. Levy defendia um bloqueio de até 80 bilhões de reais, mas, para mostrar poder, o corte anunciado pelo ministro do Planejamento – na ausência do titular da Fazenda, que estava resfriado – foi de 69,9 bilhões de reais. Depois disso, Levy sofreu mais dois reveses: na apresentação de um déficit de 30,5 bilhões de reais na proposta do Orçamento para 2016 e na redução da meta fiscal, mais acentuada do que gostaria. Em vez de assumir a previsão de rombo, a preferência do ministro era por cortes mais profundos no orçamento do ano que vem. Deste vez, segundo interlocutores, a falta de sintonia recai sobre a forma com que o governo implementará mais cortes de gastos. Enquanto Levy defende a ideia de “aumento zero” aos servidores públicos federais em 2016, Barbosa é simpático à proposta de acordos para garantir um reajuste mínimo. Para tentar disfarçar a falta de sintonia, os dois já deram declarações, apelando para o futebol. “Minha principal divergência com o ministro Levy é que ele é Botafogo e eu sou Vasco. Tirando isso, estamos trabalhando os dois conjuntamente para recuperar o crescimento o mais rapidamente possível”, disse Barbosa, em maio. A brincadeira é sintomática, já que este ano não está sendo fácil para nenhum dos dois times. O Vasco está na lanterna da série A e o Botafogo está na série B, após ter sido rebaixado no ano passado. Tempos difíceis. (Luís Lima, de São Paulo)