Em reunião, Casino se posiciona oficialmente contra fusão
No conselho de administração, os acionistas decidem se opor ao 'Carrepão'
O Casino afirma que a fusão com o Carrefour representa uma estratégica errônea, que favoreceria um formato de lojas em declínio, o de hipermercados
O grupo francês Casino afirmou nesta terça-feira que a proposta de unir as operações do Carrefour no Brasil às do Pão de Açúcar é contrária aos interesses da varejista brasileira e dos acionistas. O conselho de administração do Casino, grupo que divide o controle do Pão de Açúcar com o empresário Abilio Diniz, se reuniu especialmente para deliberar sobre a fusão. Abilio participou da reunião, em Paris, mas não da votação. Os demais membros do conselho votaram de forma unânime contra a fusão. O empresário brasileiro aproveitou a reunião para reafirmar seu apoio à negociação.
O Casino divulgou um comunicado ao mercado listando todos os pontos negativos da fusão e tentando justificar sua negativa. De acordo com o documento, o grupo se baseou em análises econômicas dos bancos Santander, Goldman Sachs e Merril Lynch e das gestoras Messier-Maris & Associados e Rothschild & Cie, além da consultoria estratégica Roland Berger, para se pronunciar oficialmente contra a fusão. No comunicado, o Casino afirmou que a fusão com o Carrefour representa uma estratégia errônea, que favoreceria um formato de lojas em declínio, o de hipermercados.
Além disso, diz o texto, a fusão provocaria uma concentração de lojas em regiões com crescimento fraco, na avaliação da rede. Outro ponto levantado faz alusão à explicação dada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de que a operação seria uma boa oportunidade de internacionalização dos produtos brasileiros. Segundo o Casino, “uma participação minoritária no Carrefour não corresponde a uma internacionalização adequada para o Grupo Pão de Açúcar, que deve manter o controle de um desenvolvimento internacional como esse”, informa.
SP e Rio – Críticas à concentração de mercado em São Paulo e Rio de Janeiro não foram poupadas. Segundo um estudo da Roland Berger apresentado pelo Casino, as redes concorreriam diretamente em 63% dos pontos de venda paulistas e em 40% dos pontos de venda cariocas. A rede também cita uma avaliação de Gesner Oliveira, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), sobre a operação. “A concentração criada por esse projeto seria excessiva em inúmeras municipalidades. Nessas condições, é inevitável que as autoridades concorrenciais restrinjam significativamente o perímetro do novo grupo”, afirma Oliveira.
Segundo o documento, a expansão internacional do grupo deve se voltar para regiões em forte crescimento, e não a Europa – principal mercado do Carrefour. O Casino também criticou as estimativas de sinergias propostas pelo fundo Gama, que seriam de 3,2% do volume de vendas da rede. O Casino apontou que, em seus estudos, uma tal operação geraria sinergias de 1% do volume de vendas. “Essas estimativas não levam em consideração os desinvestimentos que seriam necessários e os custos inerentes à integração das operações (que seriam substanciais)”, informa o varejista.
Riscos de má gestão também foram citados pelo Casino. Segundo a rede, os esforços de integração da Nova Casas Bahia ao Grupo Pão de Açúcar são suficientes para o momento. E a entrada de uma nova empresa nesse conglomerado colocaria em risco todo o processo. Além disso, o Casino citou sua diluição como acionista – que o levaria a ter 35% de participação no Novo Pão de Açúcar, em vez de 43,1%, como tem atualmente. O grupo também criticou o formato da nova empresa, que seria essencialmente uma holding financeira, cujas ações se tornariam menos interessante para investidores do que os papeis de uma empresa varejista.