Viagens de Bolsonaro mostram que o Brasil encolheu perante o mundo
A última viagem do presidente foi aos Emirados Árabes Unidos, ao Catar e ao Bahrein — três países no Oriente Médio que, vale lembrar, não são democracias
Chega a impressionar a falta de pertinência das viagens do presidente Jair Bolsonaro ao longo de 2021 e o começo de 2022. Alegadamente não vacinado contra a Covid-19 e com uma péssima reputação entre os principais chefes de Estado, o presidente esteve em destinos que refletem seu isolamento perante o mundo. A última viagem antes da Rússia foi aos Emirados Árabes Unidos, ao Catar e ao Bahrein — três países no Oriente Médio que, vale lembrar, não são democracias. O resultado foi uma passagem sem grandes acordos e resultados práticos, mas com tempo de conhecer o estádio da final da Copa do Mundo e participação em uma motociata.
Antes disso, visitou a Itália e o Vaticano, onde não foi recebido pelo Papa Francisco. Na Itália, Bolsonaro participou do encontro do G20 e ficou isolado das grandes autoridades. Após o evento, ele preferiu seguir na Itália e visitou um vilarejo em que seu bisavô nasceu. Ele não foi à COP 26, na Escócia, como grande parte de seus colegas fez após o encontro das 20 maiores economias.
Em agosto, Bolsonaro prestou um papel triste na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, nos Estados Unidos. Entre os encontros bilaterais, reuniu-se apenas com o primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson, e com o presidente da Polônia, Andrzej Duda. Foi nessa viagem que o isolamento do presidente brasileiro ficou exposto, ao ser flagrado pelas câmeras longe das autoridades em um encontro de chefes de Estado. Foi neste périplo nos Estados Unidos que, também, Bolsonaro protagonizou a triste foto comendo pizza na rua — ele não pôde entrar nos restaurantes por não apresentar o comprovante de vacinação.
Em maio do ano passado, o presidente fez a primeira viagem internacional desde o início da pandemia — quando seus posicionamentos anti-vacina e contrários ao isolamento e distanciamento social, além do básico uso de máscaras, viraram mote de desconfiança mundo afora. Como mostrou VEJA, com a viagem à Rússia, o presidente Jair Bolsonaro deve enfiar o Brasil em um conflito diplomático muito maior do que o país merece. Historicamente admirado por sua diplomacia e pelas boas relações comerciais mantidas com todo o mundo, o Itamaraty está agora, sob o governo de Jair Bolsonaro, à beira de se engendrar em um jogo de xadrez que não lhe diz respeito, e com muito a perder.