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Tiro pela culatra

Investidores apostam em crescimento da fabricante de armas Taurus em um governo Bolsonaro. O presidenciável, porém, promete atacar o monopólio da empresa 

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 12 out 2018, 07h00 - Publicado em 12 out 2018, 07h00

Os executivos da Taurus, fabricante de armas de fogo, estão soltando rojões de tanta alegria. Pudera. As ações da empresa na bolsa de valores vinham oscilando em torno dos 2 reais desde meados de 2015, depois que a Companhia Brasileira de Cartuchos assumiu seu controle. Em agosto, elas fecharam a 2,08 reais. Mas setembro trouxe inesperados bons ventos para os papéis da companhia, e sua cotação subiu mais de 300% até a semana passada. Estavam sendo vendidos na última quarta-feira a 8,95 reais. A disparada foi tão grande e repentina que a B3, o novo nome da bolsa de valores, pediu esclarecimentos à Taurus para saber se havia algum fato relevante sendo escondido do mercado. A empresa informou que desconhece qualquer ato ou fato que possa ter motivado o movimento, mas é notório que a explicação para essa valorização tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro.

Graças a seu discurso armamentista, e à promessa de revogar o Estatuto do Desarmamento, investidores correram para comprar ações da única empresa brasileira privada do setor. Não há garantia, porém, de que a expectativa vá se confirmar. Em seus discursos, o presidenciável tem prometido acabar com o que chama de “monopólio da Taurus”, abrindo o mercado para que fabricantes estrangeiras possam vender pistolas e outros equipamentos no Brasil. Hoje, a lei não permite a importação de armas e munições que tenham similares fabricados no país. “Já competimos com todas as empresas de armas no mercado de exportação, e não temos motivo para temer a concorrência, desde que elas se sujeitem às mesmas restrições e à alta carga tributária que nós enfrentamos”, diz Salesio Nuhs, presidente da Taurus.

Mas o maior problema da Taurus não é esse. Desde 2013, a empresa vem acumulando prejuízos. No ano passado, sua dívida total bateu em 798 milhões de reais. No primeiro semestre de 2018, mais problemas: a perda ficou em 92 milhões de reais. “Com esses dados, não é necessário aprofundar-se em maiores detalhes sobre a sua saúde financeira para constatar que, de fato, se encontra bastante preocupante a situação da Forjas Taurus neste momento”, afirma a casa de análises Suno Research em comunicado aos clientes.

Em paralelo, a qualidade das pistolas e submetralhadoras produzidas pela Taurus vem sendo questionada por órgãos de segurança. O Ministério do Trabalho de Goiás chegou a proibir o uso de 2 500 armas pela Polícia Militar do estado no ano passado, depois de denúncias de que algumas delas dispararam sozinhas (a empresa nega a acusação). As boas notícias vindas da bolsa foram um alento para a companhia gaúcha, que correu para anunciar uma emissão de ações no intuito de levantar 400 milhões de reais até abril de 2019.

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Períodos eleitorais são tradicionalmente voláteis para a bolsa de valores. A sensibilidade que certos papéis têm em relação ao possível impacto de mudanças nas políticas públicas levou investidores a criar informalmente o que chamam de “kit eleição”, formado por dez grandes empresas, cujo valor de mercado somava 931 bilhões de reais no fim de setembro, mas que disparou com a consolidação de Bolsonaro à frente das pesquisas e sua expressiva votação no primeiro turno. Juntas, elas atingiram 1,13 trilhão de reais em valor na última quarta-feira. O kit é composto de estatais (Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil), bancos privados (Itaú Unibanco e Bradesco), varejistas (Magazine Luiza e Lojas Renner), elétricas (Cemig e Copel), além da Embraer, que está dependendo de aprovação do governo para fazer uma fusão com a americana Boeing. No caso dessas companhias, os investidores torcem para que Bolsonaro cumpra suas promessas de campanha. Para a Taurus, seria melhor que ele esquecesse o que vem dizendo.

Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604

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