Spotify pede desculpas, mas continua a aposta em conteúdo polêmico
Empresa perde bilhões de dólares com conteúdo negacionista do humorista Joe Rogan; CEO diz que 'silenciar vozes pode ser armadilha'

Com derretimento de suas ações no mercado e uma grande controvérsia a resolver, o CEO do Spotify, Daniel Ek, foi se justificar para seus funcionários. Em uma carta, ele pediu desculpas à sua equipe pelo impacto gerado pelo podcast do humorista americano Joe Rogan. Porém, deixou claro que irá manter o programa de Rogan no serviço de streaming. Só na última semana, a plataforma perdeu 2,9 bilhões de dólares (cerca de 15 bilhões de reais) em valor de mercado devido a controvérsias com conteúdos racistas e negacionistas produzidos por Rogan.
“Não há palavras que eu possa dizer para transmitir adequadamente o quão profundamente sinto pela forma como a controvérsia ‘The Joe Rogan Experience’ continua a impactar cada um de vocês”, escreveu Ek em carta à qual a agência Bloomberg teve acesso. “Enquanto eu condeno fortemente o que Joe disse e concordo com sua decisão de remover episódios antigos da nossa plataforma, eu sei que mais pessoas vão querer mais. E eu vou deixar um ponto muito claro: não acredito que silenciar Joe é a resposta. Nós devemos ter clara as linhas do conteúdo e tomar as ações necessárias quando elas são cruzadas, mas cancelar vozes é uma armadilha”. Ainda segundo o chefão do Spotify, “o pensamento crítico e o debate aberto levam ao real progresso”.
No sábado, Rogan veio a público pedir desculpas por ofensas raciais em episódios antigos e concordou na retirada de cerca de 100 episódios de seu podcast da plataforma. Rogan afirmou ainda que haverá melhor pesquisa para a produção de seu conteúdo, com o objetivo de reprimir a crescente controvérsia de informações falsas sobre a Covid-19.
O conteúdo antivacina de Rogan fez com que músicos como Neil Young e Joni Mitchell removessem suas músicas da plataforma. Em janeiro, as ações da empresa derreteram 25% devido a polêmica com o conteúdo negacionista.
Atualmente, o programa de Joe Rogan é o podcast mais ouvido do Spotify — e a resposta do CEO da empresa a seus funcionários mostra a sinuca de bico da controvérsia na plataforma de streaming. Anteriormente, Ek declarou em mais de uma ocasião que os conteúdos de Rogan são “vitais” para a existência da empresa. A estimativa é que o Spotify tenha desembolsado mais de 100 milhões de dólares para ter a exclusividade do podcast, que antes era exibido também no YouTube. Na carta aos funcionários Ek disse que a plataforma investirá o mesmo montante – 100 milhões de dólares – para licenciamento, desenvolvimento e marketing de música e conteúdo de áudio “de grupos historicamente marginalizados”.