BRASÍLIA, 1 Mar (Reuters) – Sindicalistas aproveitaram a chance de estar ao lado da presidente Dilma Rousseff nesta quinta-feira para derramar uma coleção de reivindicações do setor e atacar o que chamaram de “desindustrialização” do país diante de importações crescentes de produtos manufaturados.
Como de hábito, atacaram as taxas de juro e o câmbio, já que o real valorizado torna as importações mais competitivas frente à produção nacional.
Num inflado discurso, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), foi direto ao pedir a Dilma ações mais eficazes para proteger a indústria nacional.
“É muito violenta a desindustrialização. É muito rápida. E nós estamos dando pouca resposta para isso. As empresas estão quebrando, e o setor industrial está tendo demissão”, disse ele, durante a assinatura de compromisso com construtoras e sindicatos para melhorar as condições de trabalho no setor da construção civil.
Outras demandas incluíram baixar juros, que já vêm em trajetória de queda, e rever o fator previdenciário.
“Precisamos baixar juro, mexer no câmbio… Tem coisas que nós precisamos que a senhora aja rápido”, disse o deputado.
Entre brincadeiras com a cor da roupa de Dilma, as críticas foram ouvidas pela presidente em uma cerimônia encarada pelo Planalto como uma celebração. O acordo assinado foi fruto de negociações iniciadas depois da crise nos canteiros de obras das usinas hidrelétricas do Rio Madeira, em 2011.
Mesmo as queixas sendo tradicionais nos setores sindicais – que havia poucos anos reclamavam do baixo valor do salário mínimo ou os arrochos monetários consequentes das demandas do Fundo Monetário Internacional (FMI) – a pauta expressa nos discursos sindicalistas foi sinal do pouco acesso que as lideranças do setor têm à presidente Dilma.
O porta-voz do Planalto no tema é o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral). Após a cerimônia, os sindicalistas reconheceram que são recebidos menos pela presidente do que gostariam – e do que eram pelo antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma respondeu às demandas. Citou números de desemprego, “o menor da história”, disse que desde 2003 o salário mínimo teve aumento real de 66 por cento e afirmou que seu compromisso é com desenvolvimento sustentável e distribuição de riqueza.
Escolheu o tema da desindustrialização para fazer declarações fortes. Criticou o “despejo de dólares no mundo”, que classificou como “perverso”, e disse que seu governo não ficará “”mpassível” frente ao processo externo.
“Nós sabemos que hoje as condições de concorrência são adversas… não porque a indústria brasileira não seja produtiva… mas porque tem uma guerra cambial”, disse Dilma.
“Nós vamos continuar desenvolvendo este país, defendendo a sua indústria, impedindo que os métodos de sair da crise dos países desenvolvidos impliquem na canibalização dos mercados dos países emergentes”, disse.
(Ana Flor e Hugo Bachega)