Prévia da inflação facilita tarefa do BC na redução dos juros
IPCA-15 fica abaixo das expectativas, indicando um cenário favorável para o Banco Central manter sua estratégia de cortes na Selic
A desaceleração do IPCA-15 em janeiro, conhecido como a ‘prévia da inflação’, cumpre sua parte na missão do Banco Central de continuar reduzindo a taxa de juros. O índice avançou 0,31%, ficando abaixo das expectativas, que apontavam para uma alta de 0,47%. Com isso, a taxa acumulada em doze meses caiu de 4,72% para 4,47%.
Apesar da desaceleração do índice, sete dos nove grupos de produtos e serviços registraram altas de preços em janeiro. “Apesar da desaceleração, a composição não foi boa. Boa parte da desaceleração veio de passagem aérea, devolvendo parte relevante da forte alta do ano passado”, comenta Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. Além disso, segundo Igor Cadilhac, economista do PicPay, a piora dos serviços, principalmente dos subjacentes, foi uma decepção. A média dos cinco núcleos do Banco Central registrou um aumento de 0,33%, ligeiramente abaixo das expectativas. No entanto, os serviços subjacentes apresentaram uma variação significativamente mais elevada, com um aumento de 0,68%. Os núcleos no IPCA-15 excluem fatores voláteis para proporcionar uma visão mais precisa do comportamento dos preços. “Por ora mantemos nossa projeção para 2024 em 3,7%. Eventuais riscos de baixa seguem vindo principalmente do bom contágio dos preços de bens sobre os demais, do comportamento dos núcleos e sua inércia, e do combate à inflação de forma sincronizada mundo afora”, avalia Cadilhac.
Porém, segundo o mercado, isso não muda a expectativa de cortes de juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Além de indicar a desaceleração da inflação, o IPCA-15 de janeiro traz uma notícia positiva ao sinalizar que a alta dos preços se aproxima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A meta fixada para este ano é de 3%, com uma tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. O índice de 4,47% em 12 meses fica dentro do intervalo considerado “aceitável”, suportando uma variação de até 4,5% ao ano. Vale ressaltar que o indicador oficial de inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ainda não foi divulgado, mas o IPCA-15 já antecipa um cenário de arrefecimento.
Nos últimos dias, o mercado tem revisado para baixo as expectativas de inflação. Segundo o Boletim Focus, relatório semanal do Banco central, a projeção para o IPCA é de 3,86% para o ano. O relatório demonstra uma clara tendência de redução nessas expectativas, já que uma semana antes a previsão era de 3,87%, e quatro semanas antes, de 3,91%.
Para atingir a meta de inflação, o Banco Central utiliza a taxa básica de juros, a Selic, que está atualmente em 11,75% ao ano, definida pelo Copom. O colegiado indicou a intenção de continuar com cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões, visando uma Selic de cerca de 9% ao final do ano. O mercado projeta pelo menos mais três cortes na taxa básica de juros, cada um de 0,5 ponto percentual, nas reuniões de janeiro, março e maio. “Se alguém tinha esperanças de o Copom acelerar para 0,75%, me parece muito improvável agora. Selic terminal abaixo de 9% também”, diz Borsoi. “Minha intuição é que até uma terminal de 9% começa a perder probabilidade, mas tem muita água pra rolar ainda. Acho que irá acontecer uma reprecificação para baixo do cenário de inflação de curto prazo, mas sem grandes alterações para o resto do ano.”
Apesar de a decisão já ser conhecida, as atenções se voltam para as indicações do BC a partir de maio, quando é esperado que a autarquia realize o último corte de 0,5 ponto percentual e as indicações de suas próximas decisões ao longo do ano. Além disso, o mercado de trabalho aquecido gera preocupações. Por isso, as estatísticas de desemprego do IBGE, a serem divulgadas na quarta-feira da semana que vem, ganham destaque. O mercado de trabalho aquecido tem sido objeto de análise, com alguns analistas alertando para possíveis obstáculos no processo de redução da inflação. No entanto, o Copom, até o momento, parece estar confortável com a estratégia de política monetária comunicada, sem indicativos claros de preocupação em relação ao mercado de trabalho.