Preço do iPhone feito no Brasil não caiu e Foxconn investiu menos que o previsto
A expectativa era de que a produção do smartphone marcasse uma nova era para a indústria de eletrônicos; mas nada mudou
Quando a taiwanesa Foxconn Technology acertou em abril de 2011 que fabricaria produtos da Apple no país, a presidente Dilma Rousseff e seus conselheiros prometeram que até 12 bilhões de dólares em investimentos nos próximos seis anos transformariam o setor de tecnologia brasileiro e o colocariam na vanguarda do desenvolvimento de telas sensíveis ao toque.
Uma nova cadeia de suprimentos seria criada, gerando empregos de alta qualidade e derrubando os preços de cobiçados aparelhos eletrônicos. Quatro anos depois, no entanto, nada disso se tornou realidade.
A Foxconn criou apenas uma pequena fração dos 100 mil empregos que o governo projetou, e a maior parte das vagas é de baixa qualificação. Há poucos sinais de que tenha sido catalisadora do setor de tecnologia brasileiro ou criado uma cadeia de suprimentos local.
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Os iPhones agora produzidos perto de São Paulo, os únicos feitos fora da China, custam aproximadamente 1 mil dólares (o modelo 5S de 32 gigabytes sem contrato). O produto brasileiro continua entre os mais caros do mundo – cerca de duas vezes o preço nos Estados Unidos.
O fato de os investimentos terem frustrado indica a fraqueza da política industrial brasileira, definida por caros incentivos fiscais que levaram a um amplo déficit do governo sem impulsionar o crescimento. A economia está hoje próxima à recessão e a produtividade da força de trabalho brasileira está estagnada.
As vendas de iPhones da Apple no Brasil ainda sobem. As remessas subiram mais de 40%, para 2,9 milhões no ano passado, de acordo com a empresa de pesquisas Gartner.
A Apple não quis comentar. Representantes do governo brasileiro e da Foxconn recusaram-se a comentar sobre por que os investimentos ficaram até agora abaixo das projeções iniciais.
Enquanto a Foxconn aumentou a montagem de iPhones e iPads no Brasil durante 2012, colhendo benefícios fiscais, a empresa fez compromissos públicos. A companhia previu um investimento inicial de 1 bilhão de reais para criar um parque industrial de produção de componentes local em dois anos.
Fábrica vazia – A localização seria Itu, no interior de São Paulo. Hoje o local permanece vazio. Escavadeiras começaram a nivelar a terra no fim do ano passado. O vereador Givanildo da Silva, que ajudou na doação de aproximadamente 100 acres de terra para a Foxconn, desde então se virou contra o projeto. “As pessoas estão realmente frustradas”, disse. “Ainda estamos esperando todos aqueles empregos que até agora são promessas vazias.”
A prefeitura de Itu disse em comunicado que deu todo o apoio necessário para levar a Foxconn à cidade, recusando-se a informar as razões para o atraso.
A Foxconn disse em comunicado que a fábrica deve se tornar operacional até o fim deste ano, elevando sua força de trabalho a mais de 10 mil funcionários no Brasil, apesar de não fornecer o número atual de postos de empregos ou informar quantos trabalham atualmente nos produtos da Apple.
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A Foxconn tem atualmente cinco fábricas no país que fazem produtos sob contrato para várias companhias de tecnologia, incluindo uma unidade que produz aparelhos da Apple em Jundiaí, a cerca de 50 quilômetros de Itu. “A Foxconn continua investindo em nossas operações no Brasil”, disse a companhia em comunicado. “Estamos comprometidos com nosso objetivo de introduzir tecnologias inovadoras que permitem a nossos funcionários no Brasil focar em elementos de alto valor agregado.”
Trabalho monótono – Trabalhadores entrevistados do lado de fora da fábrica em Jundiaí disseram que ainda não há trabalho tão qualificado. “Você ouve ‘Foxconn’ e ‘Apple’ e logo pensa que é algo especial. Mas não há glamour lá. É um trabalho sem saída”, disse Andressa Silva, de 19 anos.
Andressa testa iPhones na fábrica por cerca de 80 dólares por semana, cerca de 15 dólares acima do salário mínimo. Ela e diversos colegas reclamaram do trabalho monótono e da falta de oportunidades de ascensão. Evandro Oliveira Santos, líder do sindicato local de metalúrgicos, disse à Reuters que a entidade estava organizando uma greve na fábrica. Seria a quarta greve em quatro anos.
O sindicato busca melhores condições de trabalho e desenvolvimento profissional para os aproximadamente 3 mil trabalhadores da fábrica. A Foxconn recusou um pedido de visita à fábrica, mas disse em comunicado que trabalha para atender os padrões internacionais, coopera com os sindicatos e ouve a opinião de funcionários.
(Com agência Reuters)