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Por que os investidores estrangeiros estão saindo do Brasil

B3 registra saída de 24 bilhões de reais de capital externo no acumulado de 2024

Por Camila Barros Atualizado em 8 Maio 2024, 12h21 - Publicado em 18 mar 2024, 08h27

Os investidores estrangeiros retiraram 694 milhões de reais da B3 no pregão da última sexta-feira, 15, o 10° dia consecutivo de saída do capital externo da bolsa brasileira. Trata-se da intensificação de uma tendência observada desde o início do ano: no acumulado de 2024, o fluxo de investimento estrangeiro está negativo em 24,16 bilhões de reais. O movimento vai na contramão do final do ano passado, quando a bolsa registrou ingresso de 17,5 bilhões de reais em dezembro e saldo positivo de 44,9 bilhões no acumulado de 2023. 

A explicação vem dos Estados Unidos. Por lá, a data para o início dos cortes de juros ainda é incerta. No início desta semana, o dado de inflação mais forte do que o esperado, a 3,2% ao ano, renovou os temores de que a batalha do Fed contra a inflação ainda não tenha acabado – e que o afrouxamento monetário pode demorar a chegar. Contam também declarações de dirigentes do Fed indicando uma postura mais cautelosa em relação à inflação. 

Para a reunião do FOMC (o comitê de política monetária dos EUA) desta semana, 99% dos agentes de mercado acreditam que os juros serão mantidos no atual intervalo de 5,25%–5,50%, segundo dados do FedWatch. É um recálculo de rota em relação ao início do ano, quando quase 70% dos investidores apostavam em um primeiro corte de juros já em março. Agora, a maioria (55,5%) do mercado acredita que a primeira redução de 0,25p.p virá em junho. 

Os juros americanos estão em seu patamar mais elevado em 23 anos, o que aumenta a atratividade dos títulos públicos do país, os Treasuries. Com apostas renovadas sobre o início dos cortes, a procura pelos papéis voltou a crescer nos últimos meses. Na manhã desta segunda-feira, 18, os títulos com prazo de 10 anos, referência do mercado, são negociados com taxa de 4,3% – no início do ano, o patamar era de 3,8%. 

Treasuries com rentabilidade alta reduzem a atratividade de investimentos em renda variável, em especial em países emergentes, mais arriscados. “Treasuries americanos são considerados praticamente livres de risco, por isso, eles acabam atraindo o capital”, explica Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. 

Paulo Abreu, gestor e sócio da Mantaro Capital, aponta também para um movimento de correção após a forte entrega de investimento no Brasil no fim do ano passado – entre novembro e dezembro, o Ibovespa registrou avanço de 19%, puxado principalmente pelo otimismo com a queda dos juros nos EUA. “A outperformance pode ter desencadeado uma leve redução de riscos no primeiro momento desde ano”, diz Paulo. 

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Boom de tecnologia

Em queda de 4,5% no acumulado de 2024, o Ibovespa se descola do movimento de grandes índices mundo afora: nos EUA, S&P 500 e Nasdaq Composite sobem cerca de 8%; o Nikkei 225, da bolsa de Tóquio, avança 16%; o Euro Stoxx 50, de ações da zona do euro, +10%.  

Nestes mercados, o protagonista da vez tem sido o setor de tecnologia, que avança de olho nas inovações voltadas à Inteligência Artificial (IA). Nos EUA, a Nvidia, companhia que melhor surfou no entusiasmo do mercado com IA, decola 84,21% desde o início do ano. No Japão, a companhia de data centers Sakura Internet avança impressionantes 180% no período. 

“O investidor estrangeiro tem opções de investir em segmentos de tecnologia lá fora, que estão super bem, e ele olha pro Brasil e não vê essas oportunidades”, afirma Matheus Amaral, especialista em Bolsa do Inter. As principais empresas na bolsa brasileira são ligadas a commodities, que passam por um período incerto. “A Vale e as companhias do setor de mineração estão sofrendo por conta de uma China mais estagnada e uma demanda mais fraca. O minério de ferro é um das commodities que mais caem no ano, junto com as do agro”. As ações VALE3, responsáveis por 11% do desempenho do Ibovespa, cedem 23% em 2024 e 27% em 12 meses. 

Já o petróleo desempenha positivamente, em alta de 18% em um ano. “A Petrobras poderia ser um player um pouco mais confortável, mas você tem os imbróglios políticos pressionando os papéis. Então há fatores internos também. A própria Vale, que é uma empresa privada, teve problemas com interferências, com o governo tentando colocar o Mantega no comando. Essa conversa já ficou para trás, mas gerou estresse nos papéis ”, diz Amaral. 

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A vez da Índia 

Entre os países emergentes, Amaral aponta que os investidores estrangeiros têm voltado suas atenções ao mercado da Índia, que ganha a reputação de “nova China” em meio à desaceleração do ritmo de crescimento chinês e a intensificação da guerra comercial entre EUA e China. “Os investidores estão optando por mercados atrelados a negócios mais promissores e menos cíclicos do que a gente vê no Brasil”, diz. 

Em 2023, a Índia vivenciou o maior ritmo de crescimento entre os países do G20, com avanço de 7,7% no PIB. Para 2024, a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que o país cresça outros 6,5%. O índice BSE Sensex, da bolsa de Mumbai, fica estável a 0,51% no acumulado de 2024, e avança 26% em 12 meses. 

Efeito no câmbio 

A saída de investimento estrangeiro possui um impacto direto no câmbio. “Isso tende a desvalorizar a nossa moeda, já que passamos a ter uma menor entrada de dólares circulando no país”, explica Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank. Em fevereiro, o fluxo cambial divulgado pelo BC (que concentra dados do setor financeiro e comercial) registrou saída de 2,12 bilhões de dólares em fevereiro, o pior desempenho para este mês desde 2020. O resultado negativo foi puxado pela saída de 4,85 bilhões do setor financeiro.

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Mas os analistas apontam que este se trata de um “movimento pontual de ajuste” na bolsa brasileira. “O Brasil segue sendo bastante atrativo entre os emergentes, ele é um país muito grande com uma liquidez muito boa, e isso atrai os olhares dos investidores estrangeiros”, diz  Moliterno, da Veedha Investimentos

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