Por que os grandes supermercados estão abrindo lojas express
O número de lojas de vizinhança passou de 61 para 614 unidades de 2015 para 2016, um salto de 906,56%
A expressão popular oito ou oitenta nunca combinou tanto com a realidade atual do setor supermercadista. De olho nas mudanças de comportamento do consumidor, as grandes redes direcionaram seus investimentos na abertura de dois modelos de negócio bem distintos: express – chamadas de supermercados de vizinhança – ou gigantes, conhecidas como atacarejos.
O formato que mais cresce hoje é o de loja de vizinhança, que passou de 61 para 614 unidades de 2015 para 2016, um salto de 906,56%. Em comum, esse tipo de supermercado tem o tamanho reduzido e um sortimento menor de produtos.
Muito do sucesso dessas lojas de proximidade pode ser explicado pelo controle da inflação, que reduziu o hábito dos consumidores de fazer a compra do mês e estocar produtos em casa.
“Na década de 80, quando a inflação era altíssima, as pessoas concentravam suas compras nos dias de pagamento para evitar que o salário perdesse poder de compra. Com a inflação menor e controlada, a tendência é de os consumidores buscarem conveniência e proximidade”, diz Claudio Felisoni, coordenador-geral do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (FIA).
As lojas menores, próximas de casa, também atendem aos anseios dos consumidores solteiros, que não querem perder tempo fazendo compra de carro longe de casa. “Houve uma mudança demográfica no país, com a explosão das residências unipessoais. Esse público prefere conveniência e proximidade. É uma compra de reposição, não para estocar”, afirma Antonio Carlos Ascar, especialista no setor varejista.
Sinal de que o negócio foca no público que faz compra a pé é que a loja de maior movimento da rede Petit Mambo não tem estacionamento – é a unidade da rua Luis Coelho, na região central de São Paulo. “Os clientes costumam estar em um raio de até 500 metros de distância da loja, seja em casa ou no escritório”, diz André Nassar, CEO do Grupo MGB, dono das bandeiras Mambo, Petit Mambo e Giga Atacado.
A questão imobiliária também deu fôlego para o avanço dos minimercados. “Existe dificuldade para encontrar terrenos disponíveis nos grandes centros. O custo para construir um mini é bem menor”, afirma Rodrigo Mariano, gerente de economia e pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas).
Como são lojas menores, o prazo de construção também é menor. A rede Hirota Express possui oito lojas. O plano da empresa é abrir mais 12 até janeiro de 2018. “As obras para preparar uma loja desse tamanho levam de 30 a 40 dias, em média. São unidades de 150m² a 200 m², diz Hélio Freddy, gerente-geral do Hirota Food Express, que deve contar com 80 unidades em quatro anos.
Freddy diz que as lojas Hirota Express se inspiram nos chamados combini – nome das lojas de conveniência do Japão. “São lugares pequenos que oferecem alimentação, serviços e conveniência. A pessoa pode comprar comida, bebida, itens para a casa, pagar conta, recarregar o celular. Tudo no mesmo lugar.”
Segundo Nassar, os clientes que frequentam a rede Petit Mambo compram poucos itens, mas vão com mais frequência às lojas. “Ele leva aquilo que esqueceu ou que vai consumir no mesmo dia.” Hoje, a Petit Mambo conta com três lojas. A meta é chegar a 50 até 2021.
No Hirota Express, itens de alimentação e bebida respondem pela maior parte das vendas da rede. “Além de alimentos para preparar em casa, temos comida pronta. É só levar e aquecer”, conta Freddy.
O Grupo Carrefour conta com 93 unidades Express, sua marca de loja de vizinhança. Desse total, 17 foram inauguradas no primeiro semestre. A meta é chegar a 100 lojas até dezembro.
Dentro do segmento proximidade, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) trabalha com duas marcas: Mini Extra (197 lojas) e Minuto Pão de Açúcar (79), localizadas em São Paulo e Recife. A proposta é que essas lojas funcionem como a despensa do cliente. “O foco delas é a compra rápida e conveniente”, informa o GPA.