Por que Haddad defende a manutenção da meta após fala de Lula
A equipe econômica defende que mais vale a trajetória para obtenção da meta zero do que o resultado em si; pressão por alteração preocupa mercado
O ministro Fernando Haddad insiste na manutenção da meta de déficit fiscal zero em 2024 quase sozinho, não fosse a declaração nesta terça-feira, 31, do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de que nenhuma alteração foi discutida na reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com mais de 40 parlamentares no Palácio do Planalto.
O assunto tomou proporções após o presidente dizer na semana passada que “dificilmente” o governo chegará à meta fiscal de zerar o déficit público em 2024. Em reação, membros do governo defendem mudar meta fiscal para déficit de 0,25% ou 0,5% do PIB. Ainda assim, Haddad fincou o pé na convicção do resultado que ele mesmo propôs no início do ano. “Meu papel é buscar o equilíbrio fiscal porque acredito que o Brasil precisa voltar a olhar para as contas públicas. Eu vou buscar equilíbrio fiscal de todas as formas justas e necessárias. A minha meta está mantida”, afirmou durante coletiva a jornalistas em Brasília. Questionado nesta terça-feira, 31, sobre a mudança da meta, o ministro manteve-se em silêncio.
Haddad defende a manutenção da taxa por uma questão muito simples: ele e sua equipe acreditam que mais vale a trajetória para obtenção do resultado fiscal do que o resultado em si. Ou seja: a obsessão pela meta zero passaria um recado de que o governo tem responsabilidade fiscal. Neste cenário, em caso de descumprimento, apesar da manutenção da meta fiscal, alguns gatilhos seriam ativados, de acordo com o novo arcabouço fiscal, como contingenciamento de despesas não-obrigatórias.
A preocupação no mercado é que, em caso de alteração, essa seria a nova regra do governo em momentos de estresse. Isso geraria descrédito da equipe econômica. “É menos pior o descumprimento de uma meta inalterada, desde que se acionem os gatilhos, do que o cumprimento de uma meta alterada”, alerta Felipe Salto, economista-chefe e sócio da gestora Warren Rena.
Como antecipou VEJA em agosto deste ano, a equipe do ministério do Planejamento, responsável pela meta fiscal, já trabalhava com a hipótese de alteração desde o início de agosto, caso as receitas não estivessem subindo no ritmo esperado. A meta zero em 2024 nunca convenceu o mercado, que trabalha com déficit de 0,7% no ano que vem. “Se a meta não for cumprida, tem que fazer cumprir o arcabouço. Quando o governo diz que pode alterar a meta ele diz que não quer acionar os gatilhos. É um sinal ruim, abre precedente e questionamento do que acontecerá nos anos seguintes”, completa Salto.