Por que a inflação no Brasil é diferente da que afeta os EUA e Europa
A alta de preços está mais relacionada aos preços dos produtos que ao aumento do consumo, que fica ainda mais prejudicado com a escalada da Selic
Nesta quarta-feira, 26, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação, que mais uma vez surpreendeu e mostrou que a alta de preços continuará pesando no bolso do brasileiro. Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa, no entanto, a inflação que atinge o Brasil se deve muito mais a uma alta dos preços dos produtos ofertados, pressionados pela cotação do dólar, que a uma alta do consumo da população.
Em outras palavras, o país vive uma “inflação de oferta”, e não “de demanda”, o que na opinião de economistas coloca em dúvida até que ponto Roberto Campos Neto e o Banco Central acertam em aumentar tanto a taxa de juros básica do país. “Na minha opinião houve um erro de diagnóstico enorme por parte do Banco Central. Aumentar o juros piora a situação do Brasil porque diminui o consumo, que já está baixo”, diz Paulo Roberto Feldmann, professor de Economia da USP, que chama atenção ainda para o alto nível de desemprego e população em trabalho informal, o que prejudica ainda mais o consumo.
Aumentar juros e diminuir os estímulos monetários é uma medida que já vem sendo tomada em regiões desenvolvidas, como os Estados Unidos e Europa. Lá, no entanto, a injeção de dólares e euros na economia para estimular o consumo foi muito superior ao auxílio emergencial que chegou a 600 reais no Brasil. Além de baixar o juros a zero e comprar bilhões de dólares em títulos públicos para aumentar a liquidez dos mercados, o governo dos Estados Unidos, por exemplo, deu auxílios diretos que chegaram a até 6 mil dólares por família no pior momento da pandemia, o que estimulou o consumo e ajudou a economia a girar.
Já, na Europa, medidas estimularam as famílias a manterem sua renda, como na Alemanha, em que a chanceler Angela Merkel garantiu a renda dos desempregados e principalmente o faturamento das empresas desde que elas não demitissem seus funcionários. O Brasil deu um auxílio emergencial – pequeno, devido à situação fiscal do país, mas errou muito no auxílio às pequenas empresas.
“O Pronampe foi um fracasso, principalmente por conta dos bancos que não quiseram emprestar para as empresas brasileiras e correr riscos. Nós tínhamos 8 milhão de empresas pequenas e mais de 10% delas quebrou por falta de crédito”, diz Feldmann.”A situação do Brasil é completamente diferente do mundo e erramos no uso da ferramenta. Este ano a nossa recessão vai ser brutal, porque o consumo vai diminuir.”
A expectativa do mercado é que 2022 terminará com a Selic a 11,75% ao ano, enquanto o PIB crescerá apenas 0,29%. Um relatório divulgado na terça-feira, 25, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a previsão de crescimento do país de 1,5% em outubro do ano passado para 0,3%, o pior tombo entre as 15 economias revistas.