População mais velha não para de crescer e demora mais a sair do mercado
Pesquisa mostra que pessoas com mais de 55 anos sustentam pais, filhos e netos
Um estudo feito com mais de 2.300 pessoas com mais de 55 anos constata que a conta do envelhecimento não fecha no Brasil. Essas pessoas, chamadas de maduras no levantamento, sustentam pais, filhos, netos e, na maioria dos casos, precisam continuar trabalhando para não deixar a roda parar. A pesquisa lança luz sobre as necessidades financeiras desse grupo que representa quase um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Intitulado Tsunami Prateado, o estudo relembra que, em 2050, o Brasil terá 68,1 milhões de pessoas maduras, enquanto que o país contará com apenas 14 milhões de crianças e adolescentes. Isso exercerá uma grande pressão financeira sobre esse grupo e sobre o sistema previdenciário. Com menos pessoas para sustentá-los, eles precisarão continuar trabalhando cada vez mais tempo para manter seus padrões de vida.
Padrão de vida, que aliás, não é lá grandes coisas, segundo os entrevistados. É frustrada a ideia de que, ao chegar nessa idade, seria a hora de curtir uma vida construída a partir de muito trabalho.
“Essas pessoas que estão chegando aos 60 anos, tinham o referencial de pais e avós que paravam muito antes. Eles não se planejaram muito para essa segunda metade da vida”, afirma Layla Vallias, sócia da consultoria Hype60+, responsável pelo estudo.
Apesar de 73% dos entrevistados se dizerem independentes financeiramente, eles têm dificuldade em se manter no mercado de trabalho e absorver as evoluções tecnológicas. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (TEM), mostram que a partir dos 40 anos, fica mais difícil encontrar uma vaga.
Entre os entrevistados com mais de 55 anos, aproximadamente 24% afirmaram que “não existem vagas no mercado de trabalho para pessoas maduras”. E essa sensação é confirmada pelos dados oficiais do governo.
Neste ano, há geração líquida positiva no número de postos de trabalho no país, exceto para as faixas etárias acima de 40 anos. A partir dessa idade, o número de pessoas empregadas é menor e a quantidade de desligamentos supera – gerando um número líquido negativo.
Diferença entre contratações e desligamentos, em números absolutos, em 2018 | |||||
Faixa etária | 50 a 64 | 40 a 49 | 30 a 39 | 25 a 29 | 18 a 24 |
Geração líquida | -172.218 | -32.096 | 2.150 | 59.507 | 537.437 |
Fonte: Caged |
“Essa geração, que ainda têm filhos, ou até netos, para criar e pais para manter, precisa continuar gerando renda. Eles são o arrimo de muitas as famílias”, diz Vallias.
O estudo mostra que entre as principais fontes de renda na faixa etária de 55 anos a 64 anos, estão a aposentadoria (39%), o trabalho profissional (49%), os rendimentos de aluguéis (6%), e as aplicações financeiras (3%), além do plano de previdência privada (2%). Para quem tem mais de 65 anos, a aposentadoria cresce para 69%, enquanto que o trabalho diminui para 22%. Os outros indicadores somam 9%.
“O mercado de trabalho exclui as pessoas mais velhas, e ao mesmo tempo elas querem e precisam continuar trabalhando por muito tempo. Perguntamos sobre quais as maiores perdas com a idade e 23% dizem que é o mercado de trabalho”, assinala Vallias.
A consultoria conclui que o envelhecimento da população, que classifica como “Tsunami Prateado”, deve ser visto como um desafio, mas também como uma força positiva para a economia e uma oportunidade social.
“Muitas empresas ainda não entendem como é a vida dessas pessoas com mais de 55 anos. É tão contraditório, porque elas são uma potência econômica”, diz Vallias. “Essa é uma grande questão, pois estamos envelhecendo rapidamente.”