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Plantio da mamona para biocombustível garante o pão do sertanejo

Por Por Javier Tovar
8 set 2011, 18h20

A dura rotina do sertanejo Raimundo transcorre a cada dia em meio às longas hastes da mamoneira, que ele planta em seu pequeno lote na cidade cearense de Quixadá, e cujo fruto é usado na produção de biocombustível, a grande aposta energética brasileira, alternativa à gasolina.

Raimundo Barbosa da Silva tem 65 anos e há 13 mora no assentamento rural de Olivencia, em Quixadá. As mãos, cheias de calos, dão testemunho de uma vida inteira dedicada ao campo e que agora estão a serviço do negócio energético.

“Aqui eu planto mamona, junto com feijão e milho”, explica Raimundo. A ideia é não deixar de lado o cultivo de alimentos, agora apenas para consumo próprio, não mais para venda.

A mamoneira (‘Ricinus communs’) é um arbusto de caule grosso, cujo fruto tóxico, a mamona, uma pequena bola com espinhos, serve de base para a produção de combustíveis alternativos à gasolina.

A mamona dá em pencas. Raimundo as colhe e com uma varinha, geralmente o galho de uma árvore, as separa com cuidado para não ferir as mãos. Ele deposita os frutos cuidadosamente em sacos plásticos.

“É um trabalho muito pesado, mas a gente está acostumado ao campo. Estou nisso desde o sete anos”, desabafa outro Raimundo, de sobrenome Barbosa Neto, também agricultor em Olivencia e que, como os outros, usa chinelos, camiseta e calças puídas para trabalhar a terra.

Em cada coleta, os camponeses tiram 42 sacas de 32 quilos, que podem vender a 30 dólares cada.

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Há três anos, a Petrobras começou a impulsionar o plantio da semente, garantindo a compra total da produção para abastecer sua usina em Quixadá, que produz 108,6 milhões de litros de biodiesel ao ano.

A empresa tem contrato com 40.000 camponeses do Ceará e de outros quatro estados do nordeste para abastecer a usina, que além de mamona, processa algodão, gordura animal, soja e girassol para produzir biodiesel.

O Brasil é o segundo produtor de biocombustíveis do mundo, depois dos Estados Unidos, e possui 74 usinas com capacidade para seis milhões de metros cúbicos de combustível por ano (em 2010, a produção foi de 2,4 milhões de m³), em um processo no qual estão envolvidos 276.000 agricultores.

A Petrobras – que opera 15 usinas sozinha e com sócios – prevê, em seu plano estratégico 2011-2015, investir 4,1 bilhões de dólares no setor de biocombustíveis (2% do total de seu orçamento para investimentos), com destaque para a produção de etanol de cana.

Este ano, a companhia tem previsto comprar pelo menos nove toneladas de mamona de produtores locais para a usina de Quixadá, informou na semana passada o presidente da divisão de biocombustíveis da empresa, Miguel Rossetto.

“A Petrobras trabalha para desenvolver o mercado agrícola nas regiões onde atua, envolvendo a agricultura familiar e ampliando a produtividade por hectare. Com isto, conseguiremos uma renda maior para o produtor e um preço competitivo”, disse Rossetto.

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A empresa anunciou investimentos para este ano na região de 6,25 milhões de dólares para o tratamento dos solos e outros US$ 2,5 milhões para melhorias tecnológicas.

“Quando o projeto começou, eu não conhecia nada disso, não sabia de nada, mas no fim, tudo saiu bem”, contou outro agricultor, Evaristo Oliveira, de 56 anos. “Economicamente, está muito bem. Claro, tem que trabalhar muito”, completou Ambrósio Maciel, de 63.

“Minha plantação melhorou muito. Não tinha como pagar um trator e agora eles emprestam para nós, temos melhores condições para plantar”, destacou Evaristo.

Em Olivencia, dez famílias, de um total de 14, têm convênio com a petroleira, que paga pelas colheitas e recebem assistência técnica e teórica.

No entanto, diferente das instalações sofisticadas da usina de Quixadá, os casebres e a precariedade confirmam a miséria que ainda assombra o campo no Brasil.

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