PIB do 1º trimestre: o que a alta de 9,1% dos investimentos indica para a economia
Investimentos foram puxados pela construção civil. Para especialistas, avanço indica pouso suave da economia ao longo do ano

O crescimento da formação bruta de capital fixo (FBCF), que reflete o ritmo de investimentos produtivos na economia, foi o que mais chamou a atenção dos analistas entre os componentes do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre divulgado nesta sexta-feira 30 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com o mesmo período do ano passado, os investimentos subiram 9,1%. O desempenho contribuiu para o aumento de 2,9% do PIB na mesma comparação. Em relação ao quarto trimestre de 2024, a economia cresceu 1,4%.
Segundo o IBGE, este foi o quinto trimestre consecutivo de aumento da FBCF. Entre os vetores dessa expansão, o instituto destaca a construção civil, a produção local e as importações de bens de capital, e o desenvolvimento de softwares. Com isso, a taxa de investimento correspondeu a 17,8% do PIB no primeiro trimestre, acima dos 16,7% do mesmo período do ano passado. “Ver o investimento reagir mais rápido que o consumo é um bom sinal”, afirma Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV. “Isso mostra um PIB de boa qualidade.” Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o consumo das famílias aumentou 2,6%, e, no confronto com o último trimestre de 2024, subiu 1%.
Uma possível explicação para o forte ritmo dos investimentos são os bons números da construção civil, que avançou 3,4% sobre os três primeiros meses do ano passado. Para Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, a alta reflete o mercado imobiliário ainda aquecido por dois fatores. O primeiro é que o crédito habitacional opera com taxas de juros menores que as de outras linhas de financiamento e, portanto, sentem menos o impacto da alta da taxa Selic, hoje em 14,75% ao ano. O segundo é o mercado de trabalho ainda forte, com a taxa de desemprego renovando suas mínimas históricas. “Esse cenário contribuiu para manter um certo grau de confiança dos consumidores”, diz Vale.
As atenções se concentram, agora, na capacidade de o Brasil sustentar a mesma taxa de investimentos nos próximos trimestres. Para os especialistas, a tarefa não será fácil. Com a inflação teimando em não convergir para a meta neste ano e nos próximos, o Banco Central já deu mostras de que manterá a Selic no atual patamar por um bom tempo, a fim de esfriar a economia. “As dificuldades começarão a aparecer neste ano pelo efeito da taxa de juros e pela expectativa de que 2026 será um ano muito tenso devido às eleições”, explica Vale, da MB Associado.
De qualquer modo, os investimentos em capital fixo indicam que a freada da economia não será tão forte, quanto se imagina, segundo Padovani, do Banco BV. “O investimento é um importante sinal de desaceleração ou não à frente”, diz. “E o que ele está mostrando é que a economia está bem e que não caminhamos para uma freada brusca.”