PIB cai 0,1% no 3º tri e deixa economia brasileira em recessão técnica
Apesar do avanço da vacinação e da queda dos casos de Covid-19 no país, a conjuntura de inflação alta e risco fiscal segurou o resultado da economia
Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 e o aumento da circulação de pessoas, o cenário antes esperado por economistas, governo e a população em geral, e que a economia brasileira voltasse a crescer em ritmo mais rápido. Mas, apesar da melhora do quadro pandêmico no país, a economia brasileira está estagnada. O Produto Interno Bruto brasileiro no terceiro trimestre recuou 0,1% em comparação com o período anterior, segundo dados divulgados nesta quinta-feira, 2, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim, o país entra na chamada recessão técnica, termo que define dois trimestres consecutivos de queda na atividade, já que no 2º trimestre também houve recuo. O dado mostra que o caminho para a recuperação econômica será bem mais lento que o esperado.
Enquanto os casos de Covid-19 diminuem, a economia tem uma conjuntura desafiadora, que ajuda a explicar o resultado das atividades. Problemas climáticos, com a estiagem e o aumento dos custos de energia são parte desse impacto, assim como a crise global de suprimentos, ambos impactando no agronegócio e na indústria. Além disso, o aumento da inflação, dos juros e as incertezas fiscais e políticas se intensificaram no período de julho a setembro, freando o crescimento. O resultado confirma a interrupção da recuperação vista entre o terceiro trimestre do ano passado e o primeiro deste ano.
Com o resultado do terceiro trimestre, o PIB está no patamar do fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia, e ainda está 3,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014. Em valores correntes, o PIB atingiu 2,2 trilhões de reais no terceiro trimestre. Em relação ao terceiro trimestre de 2020, cresceu 4%. No acumulado do ano até o mês de setembro, o PIB brasileiro apresenta avanço de 5,7% em relação a igual período de 2020.
Atividades
Apesar do alta de 1,1% nos serviços, que respondem por mais de 70% da atividade nacional, o resultado do terceiro trimestre foi influenciado para baixo principalmente por conta da queda de 8% na agropecuária e também pelo recuo de 9,8% nas exportações de bens e serviços. Já a indústria ficou estável (0%).
O recuo na agropecuária, de acordo com o IBGE, está relacionado à safra de soja, sendo assim, também afetou as exportações. A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explica que a colheita da soja, por ser muito mais concentrada nos dois primeiros trimestres, impacta no resultado. “Como ela é a principal commodity brasileira, a produção agrícola tende a ser menor a partir do segundo semestre. Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia e, para este ano, as perspectivas não foram tão positivas, em ano de bienalidade negativa para o café e com a ocorrência de fatores climáticos adversos na época do plantio de alguns grãos”, relaciona Palis.
Já o crescimento dos serviços, maior setor do PIB, foi puxado pelo item “outras atividades” (4,4%), que reúnem diversos serviços prestados às famílias, o que se relaciona diretamente com a maior circulação de pessoas e a diminuição dos casos de Covid-19. “Com o avanço da vacinação e o consequente aumento da mobilidade e reabertura da economia, as famílias passaram a consumir menos bens e mais serviços.”, comenta Palis.
Cinco atividades da categoria apresentaram crescimento: outras atividades de serviços (4,4%), informação e comunicação (2,4%), transporte, armazenagem e correio (1,2%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,8%). As atividades imobiliárias (0%) ficaram estáveis e apenas as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (-0,5%) e comércio (-0,4%) registraram variações negativas. “O comércio, que foi um dos setores mais afetados pela pandemia, teve uma forte alta no segundo trimestre, com a reabertura e, portanto, a base de comparação estava alta e as famílias também migraram parte do seu consumo para os serviços”, explica Palis.
A indústria, que responde por cerca de 20% do PIB nacional, ficou estável (0%) no trimestre. Houve crescimento apenas na construção (3,9%). Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-1,1%), indústrias de transformação (-1,0%) e indústrias extrativas (-0,4%) tiveram queda. “O encarecimento dos insumos e outros problemas na cadeia produtiva, além da crise energética, vêm afetando o setor industrial”, ressalta Palis.
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias aumentou 0,9% na comparação com o trimestre anterior. E o consumo do governo também cresceu (0,8%). Já os investimentos recuaram, em 0,1%. No setor externo, as exportações de bens e serviços apresentaram queda de 9,8%, enquanto as importações de bens e serviços recuaram 8,3% no terceiro trimestre de 2021 frente ao segundo trimestre. “A balança de bens e serviços negativa acabou puxando a variação do PIB para baixo na comparação com o trimestre anterior. Cabe destacar, no entanto, que, na comparação interanual, ambas as atividades tiveram alta acentuada, muito por conta da retomada do turismo internacional, mas a contribuição ao crescimento ainda ficou negativa, já que as importações (20,6%) superaram em muito as exportações (4,0%)”, explica.
Na comparação interanual, dentre as exportações, aquelas que registraram melhores resultados foram de produtos de metal, máquinas e equipamentos e, especialmente, os serviços. Na pauta de importações, as altas mais relevantes ocorreram em veículos automotores, produtos farmoquímicos, máquinas e equipamentos e produtos químicos.