Por Caroline Stauffer
LIMA, 19 Abr (Reuters) – O Peru vai permitir que o consórcio Camisea prospecte gás natural em novas áreas da Amazônia, decisão que foi criticada nesta quinta-feira por uma organização de defesa dos direitos indígenas.
A decisão, que teve o aval do Ministério de Energia e Minas, Ministério da Cultura e da agência de proteção ambiental, permite que o consórcio acesse áreas da Reserva Kugapakori-Nahua que se sobrepõem parcialmente a uma das suas concessões petrolíferas, o chamado Bloco 88.
Isso é parte das iniciativas do presidente Ollanta Humala para ampliar a produção de hidrocarbonetos, barateando a energia para atender à demanda da economia peruana, desde carros a usinas de energia e fornos.
Mas o grupo ambientalista local Direito, Ambiente e Recursos Naturais (DAR) disse que a entrada de trabalhadores do consórcio na área pode ameaçar a subsistência de grupos indígenas no seu isolamento voluntário.
“Eles têm sistemas imunológicos que não são tão fortes quanto os nossos e precisam de um amplo território para encontrar comida, e há uma vulnerabilidade cultural quando eles entram em contato com ocidentais”, disse Jimpson Davila, do DAR.
O plano de expansão publicado no site do Ministério de Energia e Minas prevê investimentos de 70 milhões de dólares e diz que, após várias rodadas de observações, “o objetivo de proteger grupos em isolamento voluntário foi alcançado”.
Há duas semanas, o governo peruano pressionou o consórcio Camisea a só vender o gás do Bloco 88 no mercado local, em vez de exportá-lo.
O consórcio, comandado pela empresa argentina Pluspetrol, inclui também as companhias Repsol, Hunt Oil, SK, Sonatrach e Tecpetrol. A Pluspetrol não respondeu a contatos para comentar o plano.
Humala anunciou no mês passado um projeto de 3 bilhões de dólares para a construção de um gasoduto que ligue os campos do Camisea ao litoral do país e a um futuro complexo petroquímico.
A decisão expõe as tensões entre as promessas eleitorais de Humala de ampliar a produção energética e, ao mesmo tempo, proteger os direitos indígenas e resolver os conflitos sociais por recursos naturais.
Mais de 200 comunidades rurais já se organizaram para impedir projetos de mineração e extração de petróleo por causa do temor de que eles causem poluição atmosférica, contaminação de mananciais e perda de terras ancestrais.