Paul Volcker: o homem que ‘quebrou’ o Brasil
O ex-presidente do FED morreu no domingo 8, em Nova York, aos 92 anos. Ele se tratava de câncer de próstata

Era quase um hábito, para não dizer uma obrigação, entre economistas brasileiros que viveram os anos 1980, pôr a culpa pela quebradeira daquela década perdida no americano Paul Volcker. Neto de imigrantes alemães e filho de um servidor municipal da cidade de Teaneck, em Nova Jersey, ele chefiou o Federal Reserve (FED) — o banco central dos Estados Unidos — entre 1979 e 1987. Serviu a dois presidentes: o democrata Jimmy Carter e o republicano Ronald Reagan. Nos Estados Unidos, Volcker é aplaudido por sua política monetária rígida. Ele controlou a emissão de papel-moeda (notas de dólares) e elevou a taxa básica de juros do país a 20% ao ano — hoje, os juros americanos estão abaixo de 2% ao ano. Levado ao rol dos grandes tecnocratas por ter pulverizado a inflação nos EUA, acabou desencadeando efeito danoso em outros cantos do mundo — daí a predileção por atacá-lo.
Todos os países que haviam contraído dívida externa elevada, e as nações da América Latina lideravam essa turma, caíram de joelhos depois das medidas de Volcker. A alta dos juros forçou a migração de dinheiro para os Estados Unidos, porque ali ele seria naturalmente multiplicado. Resultado: alta da cotação da moeda americana, tornando impagáveis as contas externas dos países do “Terceiro Mundo” — assim se dizia naquele tempo. É injusto, embora didático, pôr todo o peso nos ombros de Volcker — ele apenas fez o que se esperava de um banqueiro central, ao proteger simultaneamente o dólar e o emprego. Ressalve-se que o mundo era outro. Nas primeiras cinco décadas depois da II Guerra Mundial, as preocupações monetárias dominantes foram o excesso de demanda e a inflação. Não é mais assim. Volcker morreu no domingo 8, em Nova York, aos 92 anos. Ele se tratava de câncer de próstata.
Publicado em VEJA de 18 de dezembro de 2019, edição nº 2665