Os setores da economia que fazem os olhos de Marcelo Claure brilharem
Responsável pela criação de um fundo para startups na América Latina quando estava no SoftBank, megainvestidor deve voltar a aportar na região
O empresário e megainvestidor boliviano Marcelo Claure, ex-SoftBank e à frente da Shein na América Latina, está preparando uma nova empreitada na região. Após a saída do gestor Paulo Passoni, que também teve passagem pelo SoftBank, de uma sociedade com Claure na Bicycle Capital, o boliviano busca recompor a sociedade da gestora com a ajuda do Mubadala. Em entrevista a VEJA, Claure apontou os setores que mais chamam sua atenção no Brasil e na América Latina e que seriam, portanto, alvo de seus possíveis aportes no futuro.
Para o investidor, a região guarda uma “oportunidade fantástica para os próximos dez ou vinte anos” e diz que o Brasil tem condições de criar empresas que podem ditar os rumos da inovação tecnológica no mundo. “O Brasil tem uma capacidade incrível de fazer grandes empreendimentos. O Nubank é um exemplo de banco digital que nasceu no Brasil, saiu para a América Latina e eventualmente irá conquistar o mundo. Há um mercado grande no Brasil, que permite desenvolver coisas e depois expandir para outros lugares”, diz ele. “O mercado de crédito de carbono é uma crescente no mundo e o Brasil é um dos líderes nessa seara, com um fundo importante para assegurar que não haja desmatamento irresponsável. O país também é um grande exportador de comida e de minérios. São áreas muito importantes e que nós, como investidores, sempre estamos analisando.”
A tendência do nearshoring também deve favorecer a região, segundo Claure. Exemplo maior disso é a própria Shein, que anunciou recentemente uma parceria com a indústria têxtil brasileira para a produção de suas roupas de olho no potencial de um dos maiores mercados para a empresa fora da China. “A América Latina é uma grande fabricante de commodities. A Bolívia, o Chile e a Argentina têm dois terços do lítio do mundo inteiro, o que vira um ativo importante quando se pensa na eletrificação dos carros no mundo. O Brasil, por sua vez, é o maior exportador de comida do mundo inteiro e vai poder se fortalecer com a maior longevidade das pessoas”, explica. Ele acredita que as crises políticas na região não atrapalharão. “Os próximos dez anos serão muito bons para a América Latina. Estamos vendo mudanças muito grandes na forma como nós vivemos e trabalhamos por conta da tecnologia. Essas mudanças são tão grandes e tão importantes que não importa a economia, a inflação ou a política da região.”
Questionado se teria um conselho a dar para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, Claure disse que o país precisa fomentar mais a concorrência e o empreendedorismo. “Tradicionalmente, o Brasil é um mercado muito protecionista, difícil de importar produtos de outros lugares etc. Eu acredito que no mundo de hoje, no mundo digital, é muito importante ter um Brasil aberto para empresas estrangeiras, porque aí você cria uma concorrência verdadeira e isso faz com que os empresários brasileiros sejam melhores e possam também sair do Brasil para concorrer lá fora”, afirma. “Quando você tem um mercado fechado, protecionista, é muito difícil porque cada um vive em sua bolha.”