PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana
Continua após publicidade

Os riscos e oportunidades da gestão Trump para a economia brasileira

O republicano defende uma agenda protecionista que isola os EUA de rivais como a China, beneficiando exportações brasileiras, mas gerando riscos cambiais

Por Luana Zanobia Atualizado em 7 nov 2024, 14h32 - Publicado em 6 nov 2024, 14h03

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos reacende antigos dilemas e cria novos desafios para a economia brasileira. O retorno do republicano ao poder traz à tona as memórias de seu primeiro mandato, quando políticas protecionistas, tensões comerciais e uma postura agressiva em relação à China impactaram o comércio global. Agora, diante de um cenário de dólar valorizado e um possível endurecimento nas relações comerciais, o Brasil, como grande exportador de commodities, enfrenta um período de incertezas.

O fortalecimento do dólar, que já vinha sendo observado com as especulações sobre uma possível vitória de Trump, atingiu uma nova alta após a confirmação dos resultados eleitorais, com a moeda americana chegando a R$ 5,86 durante a manhã desta quarta-feira. Apesar da valorização das últimas semanas, o dólar é negociado com bastante volatilidade e cedeu no início da tarde cotado a R$ 5,73. A moeda, no entanto, reflete mais a expectativa pela elevação da Selic, que será anunciado no fim desta tarde pelo Copom, do que pela cenário externo.

No ano, a moeda americana já valorizou 19,19% e a tendência, segundo especialistas, é que o dólar continue se valorizando nos próximos meses.

Essa valorização pressiona o poder de compra dos brasileiros e adiciona complexidade ao controle da inflação. Durante a gestão anterior de Trump, entre 2017 e 2021, o dólar oscilou significativamente, especialmente após o início da guerra comercial com a China e o impacto da pandemia de Covid-19. Na época, o dólar chegou a ser vendido a R$ 5,90.

“Se o cenário de aversão ao risco nos mercados globais se mantiver e o fluxo de capitais migrar fortemente para os EUA, a expectativa do dólar chegar a R$ 6 torna-se plausível, especialmente diante de uma demanda mais alta por ativos seguros”, avalia Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. Felipe Vasconcellos, sócio da Equss Capital, compartilha da mesma visão. “Se a tendência de alta continuar, há possibilidade de o dólar se estabilizar na casa dos R$ 6, o que exigiria medidas adicionais de política monetária para mitigar os impactos na economia brasileira”, diz.

Continua após a publicidade

Apesar de várias incertezas no cenário, a política fiscal expansionista de Trump, marcada por cortes de impostos e aumento do déficit público, ameaça reverter o ciclo de afrouxamento monetário que o país vive. É esperado que o banco central americano, o Federal Reserve (Fed), anuncie o segundo corte na taxa amanhã. Após um corte de 0,5 ponto percentual, a aposta agora é de um corte de 0,25 ponto percentual.

Embora a economia americana esteja caminhando para um “pouso suave” — caracterizado por crescimento com desaceleração gradual da inflação — as propostas protecionistas e de estímulo fiscal do republicano colocam esse cenário em risco. A inflação nos EUA, apesar de ter desacelerado, ainda permanece acima da meta de 2% do banco central  americano, o Federal Reserve (Fed). Se Trump implementar novas tarifas sobre importações e estimular o consumo interno de forma agressiva, há o risco de pressões inflacionárias se intensificarem.

Esse cenário  não apenas afetaria a economia dos Estados Unidos, mas também pressionaria o Brasil.  “O dólar forte e a postura de estímulo fiscal de Trump devem diminuir o custo de captação de recursos no mercado americano, deixando mais atrativo o investimento no país e diminuindo a liquidez e atratividade para economias emergentes como a brasileira”, afirma Luiz Arthur Fioreze, da Oryx Capital.

Continua após a publicidade

Para o Brasil, isso representa um cenário de menor margem de manobra para o Banco Central, que já enfrenta dificuldades em manter a inflação sob controle e lidar com as incertezas fiscais geradas pelo perfil expansionista do governo Lula.

O governo brasileiro, apesar de ter prometido um pacote de ajuste fiscal para zerar o déficit, ainda desperta desconfiança no mercado, especialmente em relação à sua capacidade de equilibrar gastos e disciplina fiscal. A expectativa é que esse pacote seja anunciado ainda esta semana, mas a dúvida permanece sobre o rigor das medidas propostas. Caso o governo não apresente um plano convincente, a confiança dos investidores pode diminuir, pressionando ainda mais o real e complicando o cenário para a política monetária.

No cenário das exportações, há riscos e oportunidades. “A vitória de Trump pode trazer oportunidades para exportações brasileiras, mas o protecionismo americano e a volatilidade cambial são grandes riscos para nossa economia,” diz José Alfaix, economista da Rio Bravo.

Continua após a publicidade

Além disso, quando Trump assumiu a Casa Branca pela primeira vez, o Brasil estava sob a liderança de Jair Bolsonaro, um aliado declarado do republicano. Esse alinhamento facilitou a relação bilateral entre os dois países, especialmente em questões comerciais e diplomáticas. No entanto, o cenário atual é diferente. “Historicamente, o Brasil sempre adotou uma postura diplomática mais neutra, mas desta vez o presidente Lula declarou apoio público à candidatura de Kamala Harris. Com o retorno de Trump ao poder, essa posição pode complicar as relações entre os dois países,” avalia Jefferson Laatus, chefe-estrategista do Grupo Laatus. Segundo ele, a vitória de Trump, especialmente nesse contexto, pode trazer desafios adicionais para o Brasil no cenário internacional.

Embora os Estados Unidos seja o segundo maior parceiro comercial do Brasil, as diferenças ideológicas entre os dois presidentes pode dificultar as relações comerciais.

A guerra comercial com a China, principal parceiro comercial do Brasil, também gera preocupação. Por um lado, a escalada das tarifas e restrições sobre os produtos chineses pode abrir espaço para exportações brasileiras de commodities, como soja e carne, que já ganharam tração durante o primeiro mandato de Trump. Por outro, uma deterioração ainda maior das relações entre EUA e China pode gerar instabilidade nos preços de commodities e aumentar a volatilidade dos mercados. “A pressão sobre o real pode agravar o déficit em transações correntes e tornar o controle da inflação mais complexo,” afirma Gustavo Wanderley, do Paraná Banco.

Continua após a publicidade

Durante o governo Trump (2017-2021), o Brasil viu seus exportadores ganharem terreno na guerra comercial entre EUA e China, mas também enfrentou um ambiente global de crescente incerteza. A valorização do dólar e o aumento da aversão ao risco tornaram os fluxos de capital mais escassos, pressionando as economias emergentes. Agora, com a reeleição do republicano, o risco de um retorno a essas dinâmicas protecionistas e uma escalada nas tensões comerciais coloca novamente o Brasil em uma posição delicada.

Além das questões de comércio, Trump tem prometido reforçar sua postura agressiva contra a imigração ilegal e aumentar as tarifas sobre importações de países considerados “injustos” no comércio, incluindo a China. Embora o Brasil possa não ser diretamente impactado por tarifas, os efeitos indiretos sobre as cadeias de fornecimento globais e a desaceleração econômica na China podem prejudicar o crescimento brasileiro.

O governo brasileiro, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, precisará adotar políticas fiscais robustas para mitigar os impactos da nova era Trump. Medidas de ajuste fiscal e controle da dívida pública serão essenciais para manter a confiança dos investidores e evitar que o país entre em uma espiral inflacionária causada pela desvalorização do real.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.