Onde investir em 2025: As oportunidades e os riscos para o próximo ano
Incertezas no cenário doméstico e tensões na política internacional devem tornar as resoluções ainda mais complicadas no ano que vem

O ano de 2025, porta de entrada para a segunda metade da década de 20, não deve ser ruim para a economia e, com ela, para os investimentos, em especial quando comparado à sequência de tumultos que marcaram períodos recentes e que incluíram uma pandemia, guerras e choques globais de preços. Não há, entretanto, alguém que afirme com confiança que será um ano bom. O sentimento geral de analistas, gestores e investidores traz mais dúvidas do que certezas, e é misturado, ainda, a sinais nada triviais que apontam tanto para forças positivas quanto negativas sobre o crescimento econômico. Esse caleidoscópio de cenários hipotéticos deixa a missão de prever o futuro especialmente mais traiçoeira. “As coisas nunca são certas no mercado financeiro, elas só ficam claras depois que acontecem, mas, para 2025, as incertezas estão bem maiores”, diz o economista-chefe da corretora Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. “Com isso, os ativos não têm tendência muito clara e é difícil afirmar quais são as grandes apostas.”
Como resultado desse cenário nebuloso, os gestores de fundos de investimentos estão montando portfólios com um pouco, mas não muito, de cada uma das opções disponíveis — renda fixa e renda variável, dentro e fora do país —, e as corretoras recomendam aos clientes e pequenos investidores se acomodarem confortavelmente nos generosos juros dos títulos brasileiros enquanto aguardam, atentos, um destino mais definido para eventuais oportunidades nas outras frentes. “Os juros e o dólar já estão altos, a bolsa brasileira está muito barata, mas o governo pode aprofundar os erros e gerar novas rodadas de deterioração, e por isso o ideal é reduzir o risco”, diz Gabriel Fongaro, economista sênior da filial brasileira do banco suíço Julius Baer. “Isso não significa zerar renda variável ou estar fora de Brasil. Quem não estiver na bolsa nessa parte inicial perderá os dias de melhor retorno quando ela começar a se descomprimir. É ficar conservador, mas preparado para (aproveitar) oportunidades.”
Na série de perguntas que aguardam respostas, estão o que poderá acontecer na segunda rodada de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos e também qual será o efeito da desaceleração e dos pacotes de estímulo na China. Os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio continuam se arrastando sem término à vista e mexendo com os preços do petróleo e outros produtos do mercado internacional. “Desde 2016, ano da primeira Presidência de Trump, temos a geopolítica voltando para as discussões do mercado, depois de algumas décadas de relativa tranquilidade”, diz Daniel Popovich, gestor dos fundos da Franklin Templeton no Brasil, com foco em ativos no exterior. “A volta de Trump pode trazer novas rodadas dessas tensões, o que interfere tanto na economia quanto nos mercados.”
Após a temporada do democrata Joe Biden, que já foi marcada por expansionismo de gastos e investimentos que ajudaram a manter a economia americana sobreaquecida no pós-pandemia, Trump reassume a Casa Branca em 20 de janeiro com a promessa de atacar frontalmente tanto a imigração quanto as importações. São duas frentes que, a despeito de melhorarem o emprego e a indústria local, tendem também a deixar os custos e preços dos produtos e serviços mais altos para os americanos. Isso atrasa ainda mais a correção da inflação alta e, com ela, a rota de queda de juros que, depois de quatro anos de aumentos, começou a ser buscada em setembro pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. Qual o tamanho do atraso? É uma das várias perguntas, e das mais importantes, a serem respondidas apenas pelos fatos e pelo tempo ao longo do ano. “Ainda nem sabemos quais tarifas ele vai criar. Como elas vão afetar o restante do mundo? Como a China vai reagir? Haverá espaço para negociações?”, questiona a economista-chefe da corretora Mirae Asset, Marianna Costa. “É a grande questão com que 2025 começa e que nos deixa nessa espécie de jogo de xadrez cheio de incertezas.”

Juros mais altos nos Estados Unidos atraem investimentos para o país e tendem a fortalecer o dólar. É só mais um adicional de nebulosidade para o mercado brasileiro, que já tem problemas próprios o suficiente. Por aqui, a renovação na diretoria do Banco Central, a partir de janeiro, deixa em aberto o que poderá acontecer com a política de combate à inflação doméstica, que está subindo, e todo o restante das expectativas do mercado financeiro está voltado para quão pior ainda pode ficar a crise de descontrole das contas públicas. Elas têm o poder de arrastar consigo o dólar, os juros e a bolsa de valores e, portanto, ditam os rumos de tudo que interfere nas aplicações em geral. “São preços que já estão bastante pressionados e que, para melhorar, dependem de o governo reconstruir a credibilidade, uma coisa que leva tempo para ser conquistada”, diz a economista-chefe da companhia de investimentos Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro. “Mesmo o melhor cenário, com novas medidas fiscais e um Banco Central pragmático, ainda seria longe do otimista, com juros que continuariam em dois dígitos e um câmbio apreciado ao longo do ano todo.”
Com uma valorização de mais de 20% desde janeiro, o dólar termina 2024 tendo passado pela primeira vez dos 6 reais, barreira que rompeu no fim de novembro, depois que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um pacote de controle de gastos mal embrulhado que acabou por piorar, e não ajudar a melhorar o mau humor dos agentes financeiros. E nem os que têm expectativas mais otimistas acreditam que há espaço para a cotação da moeda cair ao longo de 2025, caso nada substancial mude nas tendências de endividamento doméstico ou do aumento do protecionismo global. A Selic, a taxa básica de juros brasileira, que é definida pelo Banco Central e já vinha de uma tendência de alta, deve subir ainda mais para dar conta das pressões adicionais que vieram e continuarão vindo com a perda de credibilidade na capacidade fiscal do país e com o encarecimento generalizado do dólar.

A taxa Selic está atualmente em 12,25% ao ano. Se até pouco tempo atrás o consenso era de que deveria continuar subindo até um número próximo dos 13% em 2025, no apagar de 2024 já há bancos e corretoras alertando para algo perto dos 15%. No campo dos investimentos, a primeira vítima é a bolsa de valores. Um levantamento feito pela corretora XP constatou que, nas últimas duas décadas, sempre que a Selic subiu, a bolsa caiu. O Ibovespa, depois de muito sobe e desce, chega ao fim de 2024 perto dos 130 000 pontos, no zero a zero em relação ao começo do ano. A XP calcula que o nível justo para o índice seria de 145 000 pontos, conta que considera os bons resultados das empresas e quanto os preços de suas ações estão descontados em relação a esses retornos. “A bolsa tem fundamentos sólidos e preços atraentes ofuscados por um cenário macroeconômico ainda desafiador”, resumiu a XP em seu relatório a clientes com as recomendações para as aplicações em 2025. É mais uma avaliação que aponta para a mistura de cenários com que os investidores chegam ao novo ano. Nessa trilha, o cuidado de se proteger e a atenção para não perder oportunidades nunca são demais.
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Publicado em VEJA, dezembro de 2024, edição VEJA Negócios nº 9