O peso do acirramento da guerra nos preços do petróleo
Negociado a 90 dólares o barril, o petróleo tipo Brent deve chegar a 70 dólares caso não haja escalada maior no conflito no Leste Europeu
Um dos ativos mais voláteis e sensíveis a intempéries globais, o petróleo vem caindo com a alta de juros nas principais economias mundiais, como os Estados Unidos e a Europa. Na quarta-feira, 22, o banco central americano elevou mais uma vez os juros do país, para 3,25%, e sinalizou mais altas pela frente, o que é uma boa notícia para os consumidores de petróleo. Afinal, alta de juros provoca desaceleração econômica e menor consumo da commodity, o que desencadeia uma queda em seu preço no mercado internacional.
No outro lado dessa balança, porém, pesa sobre o preço dos barris o acirramento da guerra na Ucrânia com a Rússia, com a recente convocação de Vladimir Putin de mais 300 mil soldados para a guerra, bem como a ameaça de uso de um arsenal nuclear para proteger regiões já conquistadas na Ucrânia. Nesta quinta-feira, 22, o petróleo tipo Brent é negociado a 90 dólares o barril, níveis baixos quando comparados ao pico de 122 dólares há menos de quatro meses, mas ainda aquém do que poderá atingir diante da perspectiva de recessão global.
“Tirando o cenário de guerra, a tendência é que no ano que vem os preços do petróleo estejam menores que agora porque provavelmente vamos ter uma recessão forte. Podemos voltar a ter o barril a uma média de 70 dólares nos próximos anos se não houver nenhuma catástrofe na guerra”, diz Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura e recentemente convidado para assumir a presidência da Petrobras. Para este cenário, Pires considera um maior fornecimento de petróleo pela Opep+ e pelos Estados Unidos.
Diesel e gás natural
Outros fatores ainda permanecerão no radar e influenciarão no preço do petróleo, como a intensidade do próximo inverno na Europa, que ocorrerá de dezembro a março. Como o principal produto utilizado no aquecimento das casas é o gás natural e a Rússia interrompeu o seu fornecimento devido ao apoio da Europa à Ucrânia, os europeus estão recorrendo principalmente ao diesel como fonte substituta energética. Como o diesel é um derivado de petróleo, o aumento da sua utilização pode impedir que o preço do barril do petróleo tenha quedas maiores.
“De 40% a 50% do gás natural que a Europa consome vem da Rússia e hoje quase todo o aquecimento residencial e as indústrias funcionam com gás natural. Ele já está seis vezes mais caro na Europa que nos EUA”, diz Pires. “Por isso o preço do diesel subiu tanto, já está mais caro que a gasolina e ele não está acompanhando o preço do barril de petróleo. Essa questão do diesel vai depender muito da guerra”, diz ele.